As eleições de outubro e a responsabilidade sindical

Agora é para valer! Passadas a fase de pré-campanha e a Copa do Mundo, entramos em pleno calendário eleitoral. Já se começa a falar o nome de cada candidato, associando-o ao seu número.

Embora as eleições sejam gerais (exceto para as autoridades municipais), os candidatos à Presidência chamam mais a atenção; os demais postulantes despertam interesse em seus estados e locais de influência.

Até agora predominaram as pesquisas, as guerras surdas de dossiês, as alianças e arranjos eleitorais (esses como decorrência “imprevista” da verticalização imposta pelo TSE) e o relativo desinteresse da massa da população. Os vários programas e plataformas apresentados ainda se caracterizam por uma “obediência” aos “mercados” e uma falta de foco nas questões de real interesse da população (desemprego, arrocho, violência, condições de vida, democracia e soberania nacional). Os candidatos – todos eles – ainda não começaram a falar para o povo.

Do ponto de vista do movimento sindical, o processo apresenta uma grande contradição. Se, de um lado, as centrais sindicais perderam o “pudor” e passaram a explicitar seu apoio a tal ou qual candidato, engajando-se em ações práticas, por outro, nenhuma das candidaturas (em suas plataformas já reveladas) foi obrigada a se posicionar com clareza sobre os pontos centrais que interessam ao movimento: mudança na CLT, reforma constitucional dos artigos 7º e 8º, estrutura e financiamento das entidades e seu papel nas relações de trabalho.


Dúvidas
Sobre esses assuntos paira ainda uma densa névoa. Quando, por exemplo, no programa do PT se fala em “legalizar as centrais sindicais”, isso quer dizer pluralidade sindical ou adequação das centrais à estrutura constitucional unicitária? Quando o vice de Ciro Gomes, presidente licenciado do Força Sindical, fala em plebiscito para aprovar mudanças na CLT, quais seriam essas mudanças? As mesmas que ele defendeu, juntamente com os empresários e Francisco Dornelles (que apóia abertamente o candidato Serra e Rosinha Matheus no Estado do Rio)?

O grande responsável por essa situação é o próprio movimento sindical que, desmobilizado e desunido, não conseguiu até agora explicitar uma plataforma mínima unitária, a partir da qual pudesse influir poderosamente nas candidaturas e campanhas, quaisquer que fossem os engajamentos eleitorais. Hoje em dia e pelo andar da carruagem, quase chego a me contentar com o “mínimo dos mínimos”, que é saber o que pensam e pretendem os candidatos sobre o futuro sindical.

O único ponto indiscutivelmente unitário que tem aflorado e que é capaz de ser traduzido em ações sindicais coerentes é a reivindicação da redução da jornada de trabalho, sem redução de salários e com avanço na Constituição. Essa bandeira, uma vez desfraldada, pode reagrupar o conjunto do movimento e levá-lo a exigir dos candidatos (em todos os níves) posições públicas e compromissos sobre esse tema e sobre todos os outros de interesse sindical e dos trabalhadores.  

João Guilherme Vargas Netto
Assessor Sindical do SEESP

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