Guerra e paz

As lembranças que temos hoje dos tempos da “guerra fria” são dos acirramentos constantes protagonizados pelas potências mundiais Estados Unidos e antiga União Soviética. Vivíamos sob permanente risco de uma guerra nuclear. Até então, os maciços investimentos em armamentos, a corrida espacial etc, feitos do lado de cá do mundo, estavam justificados pela necessidade de conter a ameaça comunista. Foi com esse pretexto que os Estados Unidos apoiaram golpes militares América Latina afora, inclusive no Brasil – por sinal, 11 de setembro é também a data em que foi assassinado o presidente Salvador Allende, e teve início a pavorosa história da ditadura no Chile.

Outras destacadas incursões dos Estados Unidos nesse período foram armar o Iraque contra o Irã e os afegãos contra os soviéticos.

Depois da falência do regime soviético, com a queda do Muro de Berlim, o fantasma vermelho caiu em desuso e o mundo deixou de temer que, a qualquer momento, um dos lados “explodisse a bomba”. A composição de forças no planeta passou por uma reformulação, assim como os conflitos, que perderam a dicotomia ideológica entre capitalismo e socialismo.


Terrorismo
Em 1991, assistiu-se a uma nova guerra. O Iraque invadiu o Kuwait e foi prontamente rechaçado pelos Estados Unidos, com apoio de outras potências. O Conselho de Segurança da ONU puniu duramente o Iraque, impondo-lhe embargos comerciais que duram até hoje e submetendo-o a inspeções obrigatórias para certificação e destruição de fábricas e depósitos de artefatos nucleares, químicos e biológicos. A população iraquiana tem sido fortemente penalizada desde então, mas, para frustração dos Estados Unidos, Saddam Hussein continua firme no governo do País.

Os atentados terroristas contra Nova York e Washington no ano passado trouxeram novo combustível à alternativa belicista. Primeiro, foi o Afeganistão. Antigos aliados, agora os talibãs encarnavam o mal e tinham que ser destruídos. 

Osama bin Laden esquecido nas montanhas afegãs, volta Saddam à cena, agora acusado de proteger terroristas e de produzir armas de destruição em massa. Até a venda de urânio, em seu primeiro estágio de beneficiamento, feita em 1979 pelo Brasil ao Iraque veio à baila para corroborar a argumentação.

Aceitar a volta dos inspetores da ONU era a condição imposta pelos Estados Unidos ao Iraque, que, na última hora, cedeu, minando o blefe norte-americano. Ainda assim, continua o firme propósito de  destruir o ditador, único meio, afirma Washington, de eliminar o terrorismo internacional e salvar o Iraque do atraso, conduzindo-o ao caminho das democracias modernas. Sem um inimigo claro, como foi a URSS no passado, agora os Estados Unidos ameaçam a todos. Os cidadãos do mundo, mais uma vez, perdem o sono imaginando quando outra guerra, com milhares e milhares de vítimas inocentes, pode eclodir.

Num momento como esse, vale a pena lembrar o que a Constituição Federal do Brasil determina às suas relações internacionais. Nela, constam os princípios de autodeterminação dos povos, a não-intervenção, a defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. Depois de uma solução técnica que garantisse a lisura de seu processo eleitoral, evitando a chegada ao poder de um presidente não-eleito, essas regras poderiam ser mais um útil ensinamento tupiniquim aos Estados Unidos.  

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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JE 198