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     A nova
    composição do Legislativo, renovada em média 47,5% (46% na Câmara e 49%
    no Senado), é fruto de dois fenômenos: crescimento da esquerda, liderada
    pelo PT, e deslegitimação da direita e desgaste dos partidos da base de
    sustentação do Governo. A conseqüência disso será a mudança no perfil
    político-ideológico da Câmara e do Senado, além da alteração na
    correlação de forças no Congresso, agora melhor distribuída do que
    antes.
    
     
     
    O crescimento da oposição, além da onda vermelha, é fruto do trabalho
    permanente das forças contrárias ao modelo econômico em bases
    neoliberais. Os partidos de oposição, em particular os de esquerda, fazem
    a disputa política e eleitoral com a consciência de que até uma eventual
    derrota nas urnas pode significar uma vitória política, na medida em que
    forja novos nomes, defende seus ideais e programa e, principalmente, reforça
    a imagem e os compromissos dos partidos.
    
     
     
    As legendas que se opuseram ao Governo FHC, com exceção apenas do PDT,
    cresceram nesta eleição, tendo como parâmetro o pleito de 1998. O PT, o
    principal deles, saltou de 59 para 91 deputados, também passando de sete
    para 14 senadores. O PSB subiu de 18 para 22 deputados e aumentou de três
    para cinco senadores. O PCdoB passou de sete para 12 deputados, enquanto o
    PPS saltou de três para 15. O PL pulou de 12 para 26 deputados, enquanto o
    PDT, que atualmente tem 16, caiu dos 25 eleitos em 1998 para 21 neste
    pleito, porém aumentou de dois para cinco senadores.
    
     
     
    Direita encolhida
    
     
    O encolhimento dos partidos de centro, centro-direita e direita – PSDB,
    PMDB, PFL, PPB e PTB –, além do desejo de renovação ética e do
    desgaste natural do apoio ao Governo FHC, pode ser atribuído ao acelerado
    processo de deslegitimação da doutrina neoliberal. A população percebe a
    política de reformas e ajuste fiscal em bases neoliberais como entreguista
    do ponto de vista econômico, excludente no plano social e, em conseqüência,
    ética e moralmente indefensável.
    
     
     
    Na base do Governo, também tendo como parâmetro a eleição de 1998, o
    estrago foi maior que o inicialmente imaginado. O PFL, mesmo beneficiado
    pela verticalização das coligações, reduziu sua bancada de 105 para 84
    deputados. No Senado, desceu de 20 para 19. O PSDB, o partido do Presidente
    da República, despencou de 99 para 71 na Câmara e de 16 para 11 no Senado.
    O PMDB caiu de 83 para 74 deputados e de 27 para 19 senadores. O PPB
    encolheu de 60 para 49 na Câmara e praticamente se extinguiu no Senado,
    onde despencou de quatro para um. O PTB, que até recentemente apoiou FHC,
    desceu de 31 para 26 deputados, porém cresceu de um para três senadores.
    
     
     
    Com essa nova configuração, a correlação de forças no Congresso se
    altera substancialmente, a ponto de os partidos de esquerda, em razão do
    critério da proporcionalidade partidária, poderem indicar os presidentes
    das mesas diretoras das casas do Congresso e das principais comissões, além
    de nomear relator para os principais projetos, emendas constitucionais e
    medidas provisórias. Na Câmara, o PT, que será o maior partido, poderá
    indicar sozinho o candidato a presidente, enquanto no Senado exigiria uma
    coalizão dos partidos de esquerda para formar a maioria.
    
     
     
    Antônio
    Augusto de Queiroz 
    Jornalista,
    analista político e diretor de Documentação do Diap (Departamento
    Intersindical de Assessoria Parlamentar)
    
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