Engenheiro naval encarrega-se de travessias litorâneas

Neste verão, milhares de veículos e passageiros, todos os dias, utilizarão as balsas de travessias litorâneas, operadas pelo Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.). Evitar problemas nesse trajeto rumo ao esperado descanso na praia é a missão do engenheiro naval Fernando Ribeiro Monteiro, responsável pela coordenação e fiscalização da manutenção das embarcações e atracadouros da empresa.

São oito rotas diferentes, feitas por 28 embarcações, com mais de 20 anos de uso, além de três estaleiros (Guarujá, São Vicente e Iguape) e uma oficina em São Sebastião, que demandam reformas e manutenção constantes em caldeiraria e mecânica. O transporte de veículos nas balsas é executado entre Santos e Guarujá, Guarujá e Bertioga, Iguape e Juréia, Porto Cubatão e Cananéia, Cananéia e Ilha Comprida, São Sebastião e Ilhabela. Aos passageiros, são destinadas balsas mistas entre Santos e Guarujá, Santos e Vicente de Carvalho e uma lancha de Cananéia a Ariri — próximo à divisa com o Paraná. 

Para evitar surpresas, segundo Monteiro, a cada 15 dias é feito um trabalho preventivo para averiguar as condições das embarcações. Também é realizada a manutenção corretiva, quando surgem problemas, e a planejada, que demanda interrupção das atividades de uma embarcação e precisa ser programada. A manutenção mecânica e elétrica é executada por quatro engenheiros, um naval e três mecânicos vinculados à SER, uma empresa terceirizada. Esses engenheiros atuam com autorização e orientação do Departamento de Manutenção do Dersa, sob a chefia de Monteiro, responsável técnico da estatal perante a Capitania dos Portos e o Crea-SP.


Mercado à deriva
Na avaliação de Monteiro, o mercado brasileiro no ramo da indústria naval é promissor, mas requer investimentos.  “Existe demanda pela construção de pesqueiros, embarcações de longo percurso, de cabotagem, mas falta investimento dos governos federal e estadual”, critica. Graduado em 1975 pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ele encontrou seu primeiro emprego no Estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro, que chegou a ter 13 mil funcionários na década de 70 e, em 1999, seu quadro havia sido reduzido a 150. Em 2000, acabou arrematado, num contrato de concessão de 30 anos, por US$ 300 milhões pelo grupo Jurong Shipyard  (uma estatal de construção naval de Cingapura associada à empresa privada Sembawang do mesmo país).

O destino do Mauá retrata, de acordo com o engenheiro, o que se passou com o mercado na última década. A maioria dos estaleiros foi vendida a empresas estrangeiras, restando apenas dois totalmente nacionais na cidade de Itajaí, em Santa Catarina. Juntamente com a indústria naval, a política de desnacionalização pode ter atingido a mão-de-obra especializada, que, sem alternativa, migrou para outras áreas. “Se houver um plano governamental, o Brasil tem capacidade instalada para crescer nesse setor, mas corremos o risco de receber encomendas e não ter quem as faça”, alerta.

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