Os
senhores da guerra |
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Começa a ficar claro quem são os atores no tabuleiro
da guerra que pode estourar a qualquer momento. Estados Unidos e Iraque
disputam uma longa e dura queda de braços. Saddam Hussein dispensa
apresentações. Trata-se mesmo de um ditador sanguinário que, em 1998, não
titubeou em despejar sobre os curdos 13 mísseis com carga de gás letal,
matando aproximadamente 180 mil pessoas. À população iraquiana, impinge
uma ditadura de 40 anos. Os EUA, por sua vez, não precisam invejar o currículo
de Saddam, tendo em vista os tantos desmandos praticados pelo todo-poderoso,
principalmente na América Latina. Sem contar os casos de patrocínio e
apoio aos regimes ditatoriais que aqui se instalaram nos anos 60 e 70, o
caso da invasão do Panamá é emblemático. Em 1989, pouco tempo antes de o
Iraque invadir o Kuwait, o país que se coloca como paladino da democracia
havia feito coisa muito parecida. Se um queria o petróleo do vizinho, o
outro ansiava pelo controle do Canal do Panamá e precisava destronar o
general Manuel Noriega que, depois de uma longa folha de serviços ao Tio
Sam, deixara de ser confiável. Agora, a nação mais poderosa do mundo, posição
conquistada após o fim da guerra fria, finalmente encontra resistência na
ONU a suas ações. Por enquanto, conseguiu apoio explícito para atacar o
Iraque apenas de Inglaterra, Espanha e Bulgária. França, Alemanha, Rússia
e China não estão dispostas à aventura, exceto como último recurso.
Discursos humanistas à parte, ao longo dos últimos anos, russos, franceses
e alemães fizeram altos investimentos no Iraque. Esse, em contrapartida,
converteu suas reservas cambiais (US$ 10 bilhões) em euro, depositando-as
num banco francês em Nova York. A Rússia tem hoje cerca de US$ 8 bilhões
em créditos para receber do Iraque. É fato notório que a moeda européia
está valorizada em relação ao dólar, sinalizando para um período de
hegemonia econômica da União Européia. Rússia e China tendem a
permanecer ao lado da união franco-alemã, em favor da Europa. Do grupo que
compõe o Conselho de Segurança da ONU, falta ainda definição do México,
Chile, Paquistão, Síria, Angola, Camarões e Guiné. Ao todo, são 15 países
votantes, cinco com direito a veto. Enquanto os EUA solicitam ao Congresso Americano US$
95 bilhões para derrubar Saddam e colocar em seu lugar alguém mais dócil
aos interesses do ocidente, o presidente iraquiano providencia trincheiras
no centro de Bagdá e esconde em cavernas seguras todo o acervo histórico
do país. Os mercados, assim, oscilam todos os dias e, em havendo guerra, o
preço do barril de petróleo pode variar de US$ 15,00 a US$ 40,00. Os países
que dependem do “ouro negro” certamente terão dificuldades. George W. Bush e Tony Blair estão impacientes e
sedentos para destronar Saddam Hussein. Os americanos estão armados até os
dentes, mas o líder iraquiano é uma incógnita, assim como sua reação se
se vir encurralado. Se o papel
de mocinho não se encaixa bem em nenhum dos adversários desse embate, não
restam dúvidas sobre quem são suas principais vítimas. O povo iraquiano,
que há mais de dez anos amarga os reflexos de um embargo econômico
criminoso, será agora massacrado. Infelizmente,
o governo, a imprensa e, conseqüentemente, opinião pública nos
Estados Unidos parecem desconhecer esse detalhe: além de petróleo, há
gente no Iraque. Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro |
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