Editorial |
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Uma pesquisa realizada pela Ipsos-Marplan demonstra
que nos últimos seis anos a classe média brasileira perdeu 30% de sua
renda em valores reais. A conseqüência do desfalque, que afetou 7,9 milhões
de famílias, foram drásticos cortes no nível de consumo, conforme
divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo em 15 de junho último. A medida
atingiu o lazer e o turismo, mas também planos de saúde e mensalidades
escolares. A crise que assola esse estrato da sociedade já havia
sido apontada pelo Jornal do Engenheiro, em sua edição 208, em que
se indicava a necessidade de se recuperar o poder aquisitivo da categoria
dos engenheiros, também penalizada pela queda no padrão de vida e
condenada a malabarismos financeiros para
equilibrar as contas no final do mês, quando isso é possível. Para se ter uma idéia do que esse corte orçamentário
representa na vida das pessoas, basta citar que, nas décadas de 70 e 80, um
engenheiro que trabalhasse numa boa empresa e nela ocupasse cargo médio de
gerência tinha um salário que lhe permitia possuir casa própria,
carros novos, casa de campo ou na praia, filhos matriculados em
escolas particulares e empregada doméstica. Também estavam garantidos o
clube, as viagens de férias e os programas de final de semana. O drama vivido individualmente pelas pessoas faz parte
de um grave processo social, em que se verifica o que foi classificado como
a “nova pobreza”. O fenômeno foi captado por estudo da Secretaria do
Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do Município de São Paulo, que o
interpreta como uma situação que atinge pessoas muito distintas daquelas
tradicionalmente identificadas como pobres. São nascidas em São Paulo,
brancas, com número pequeno de filhos, com maior escolaridade e, portanto,
originárias de famílias de classe média. Entre essas, muitas estudaram,
mas não encontram oportunidade de trabalho. Conforme definiu o secretário
Márcio Pochmann, é um caso de imobilidade social, ou seja, os filhos não
conseguem reproduzir as mesmas condições de vida e trabalho que seus pais
tiveram. Identificado o problema, parece óbvia a solução,
ainda que o caminho até ela nada tenha de fácil. O Brasil precisa voltar a
crescer para gerar emprego, renda e oportunidades a todos. Escapar ao fundo
do poço, cada vez mais próximo, exigirá impulso forte e para cima.
Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro |
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