Memória

Mecanização é marco da agricultura moderna

Lourdes Silva

Machado de pedra, espada de madeira, enxada de metal, foice, arado de tração animal e humana foram técnicas utilizadas no campo desde a pré-história. Introduzida no século XVIII, a mecanização representou uma revolução na agricultura, propiciando o abandono progressivo das práticas antigas.

O arado de aiveca, inventado pelos romanos, era puxado por animais, tendo estrutura de madeira e bico de metal. Hoje, seu uso está limitado como implemento tracionado por tratores, pois nas grandes lavouras são usadas máquinas semeadoras de plantio direto. No século XVIII, surgiu a primeira colhedeira de cereais. Em 1790, foi montado o primeiro moinho automático para trigo; a ceifadora para sua colheita foi criada em 1835. “Com o primeiro motor de combustão interna construído em 1876, o trabalho humano e dos animais pôde ser substituído pelo mecanizado e tratorizado”, conta Luiz Geraldo Mialhe, professor titular da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da Universidade de São Paulo. Ainda conforme ele, o grande salto se daria a partir do início do século XX, com “as descobertas que ocorreram vertiginosamente nos EUA depois da 1ª Guerra Mundial”.


Desenvolvimento tardio
No Brasil, a necessidade de mecanizar a agricultura era vislumbrada por José Bonifácio.“Vinte escravos necessitam de vinte enxadas, todas se poupariam com um só arado”, declarava ele durante a Assembléia Constituinte de 1823. Em 1836, veio a primeira ordem para se fabricarem máquinas agrícolas. O major João Bloen, diretor da Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, recomendou ao presidente da Província de São Paulo a utilização e fabricação de arados de tração animal. Apesar dos esforços, segundo Mialhe, até a realização do 1º Censo Agrícola do Brasil, em 1920, pouco foi feito na mecanização para preparo do solo, semeadura, cultivo e colheita. Em conseqüência do desenvolvimento tardio, em 1970 a mecanização agrícola brasileira encontrava-se ainda na posição da estadunidense de 1920.

A primeira colheita mecanizada de arroz ocorreu na década de 30, no Rio Grande do Sul. No início dos anos 40, o País possuía  uma frota de 3.380 tratores. O avanço da motomecanização ficaria comprometido até 1945, devido à 2ª Guerra Mundial e dificuldades com importação. O Governo Juscelino Kubitschek dinamizou o trabalho iniciado por Getúlio Vargas para implantar a indústria voltada ao setor. Contudo, no final da década de 50, o saldo era de 50 mil tratores importados, de 143 marcas diferentes, que causaram problemas pela falta de assistência técnica e peças de reposição. A fabricação de máquinas pesadas e a implantação da produção de tratores no País começariam no início dos anos 60.


Indústria nacional
O primeiro trator brasileiro nasceu em 1961. Era um MF 50, com 36 cavalos de potência. Em 1962, foi instituído o Plano Nacional da Indústria de Cultivadores Motorizados, para fabricação de microtratores e tratores de rabiça. No ano de 1969, o governo militar criou o Plano Nacional de Fabricação de Tratores de Esteiras, começando a produção regular desse tipo de máquina. Foram produzidos, de 1960 a 1975, 404.775 tratores (84% de rodas, 15,49% de esteiras, 12,11% microtratores e 37% de rabiças).

Neste início do século XXI, a frota nacional atingiu 430 mil unidades, sendo que muitos dispõem de comandos eletrônicos, computador de bordo e informações via satélite, garantindo operação de alta precisão. Apesar do avanço, ainda “existem bolsões de agricultura de subsistência no sul do Paraná e em regiões como o interior do Ceará e Rio Grande do Norte”. Segundo Mialhe, são famílias que vivem de exploração da terra e não têm recursos para adquirir equipamentos e defensivos para combate às pragas.

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