Editorial

Modernização é mesmo a vilã?

A divulgação pela imprensa de um estudo realizado pelo Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apontava a tecnologia como responsável pelo corte de 10,76 milhões de empregos, entre 1990 e 2001. No mesmo período, as importações contribuíram para a eliminação de mais 1,54 milhão de vagas.

A pesquisa, que se baseia em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta o setor agropecuário como o campeão da redução de postos: é responsável pelo desaparecimento de 8,98 milhões. É fato inegável que o avanço tecnológico, notadamente a automação, reduz o número de trabalhadores necessários à produção. No entanto, parece, no mínimo, precipitado debitar na conta da modernização a culpa pelo desemprego que assola o País.

Mais razoável talvez fosse concentrar as preocupações em outro dado indicado pelo estudo. Nesses 11 anos, foram criados 15,54 milhões de postos de trabalho – 11,96 milhões pela demanda doméstica e 3,58 milhões pelas exportações –, deixando um saldo de 3,24 milhões. O resultado é positivo, mas insuficiente, tendo em vista que entram no mercado de trabalho 1,5 milhão a 1,8 milhão de pessoas todos os anos, alerta o professor David Kupfer, coordenador da pesquisa.

Assim, chegamos à conclusão inevitável: nosso problema é a estagnação gerada por uma política econômica que asfixia o País e impede o crescimento. Uma análise feita pelo GPN (Global Policy Network) e divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sobre o mercado de trabalho em 2002 faz um resumo dessa ópera.

Diz  o trabalho: “Encerraram-se os oito anos de gestão do Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002. O País fechou esse período com altos patamares de desemprego em todas as regiões, retração da renda dos trabalhadores por mais de quatro anos seguidos, taxas de juros altas e desequilíbrio acentuado das contas públicas. Esse quadro resultou de uma política de estabilização que priorizou, durante certo tempo, a entrada de produtos estrangeiros para combater a inflação e o alto nível da taxa de juros para atrair capitais estrangeiros, como forma de possibilitar o fechamento do balanço de pagamentos e a manutenção do câmbio valorizado. Mesmo com a desvalorização após 1999, o Banco Central gastou milhões de dólares para manter o câmbio em patamar aceitável, evitando o descontrole da inflação. O crescimento da economia foi baixo, repetindo o desempenho de 2001. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 1,5%, resultado da manutenção das elevadas taxas de juros e das políticas econômicas adotadas para conter os diversos desequilíbrios macroeconômicos.” Conforme o GPN também previa, a mesma avaliação vale para 2003, quando o desemprego aumentou ainda mais e o crescimento do PIB ficou próximo de zero.

Ou seja, não se trata de temer a modernização, mas de ousar mudar uma receita que já se mostrou absolutamente equivocada.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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JE 228