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COP30: avanços, insuficiências e o papel da engenharia
Conferência do Clima realizada em Belém frustrou expectativas de compromissos concretos de abandono de combustíveis fósseis, mas garantiu pontos importantes, a exemplo dos indicadores sobre adaptação para os eventos extremos. Engenharia tem papel central nesse desafio, assim como na busca de soluções para reduzir efetivamente as emissões e o desmatamento.
Fruto de intensas e longas discussões, que se estenderam até sábado (22/11), as decisões oficiais da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) trouxeram frustração para quem esperava um ponto de virada do evento promovido simbolicamente na Amazônia, na Cidade de Belém. Como apontou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, houve avanços relevantes, mas se esperava mais.
A grande lacuna nos documentos oficiais foi a inexistência de compromissos quanto ao abandono dos combustíveis fósseis, principais responsáveis pelo aquecimento global e ameaça à meta de manter o aumento médio da temperatura em 1,5°C em relação ao período pré-industrial. Previsto no Acordo de Paris, o compromisso segue orientações da ciência e visa evitar consequências catastróficas, como secas, elevação do nível do mar e derretimento de geleiras, hoje já amplamente observadas.
Também não foi contemplado o “mapa do caminho” que havia sido proposto pelo governo brasileiro para combater o desmatamento, outro objetivo crucial na batalha ambiental. Lamentável, portanto, a perda de oportunidade de dar um salto relevante nessa questão, colocando-se o futuro da humanidade no planeta à frente dos lucros no presente.
Entre os resultados positivos da COP30, está o aumento do financiamento para que países em desenvolvimento possam se adaptar aos desastres, com o valor chegando a US$ 120 bilhões até 2035. Além disso, foram aprovados indicadores para medir as ações de adaptação levadas a cabo em setores como água, alimentação, saúde, ecossistemas, infraestrutura e meios de subsistência.
Ambos os pontos constam do chamado Pacote de Belém, que reúne os 29 documentos aprovados por consenso pelos 195 países participantes da conferência.
Encerrada a COP30, apesar das suas insuficiências, é preciso que aqueles que têm compromisso com a agenda ambiental e de enfrentamento da crise climática estejam dispostos a agir de forma consistente e permanente. Isso inclui sobretudo o poder público e o setor empresarial, mas também a sociedade civil e suas organizações.
A engenharia, que é a profissão do desenvolvimento sustentável, tem papel decisivo. Sem ela, não há transição energética, infraestrutura resiliente, saneamento adequado, segurança hídrica, mobilidade de baixo carbono ou monitoramento ambiental em larga escala.
Cabe aos engenheiros conceber e executar projetos que materializem os compromissos assumidos, integrando inovação, eficiência e sustentabilidade. O Brasil, em especial, necessita fortalecer sua capacidade técnica para enfrentar eventos climáticos extremos que já fazem parte da realidade urbana e rural. Isso implica formação contínua, investimentos públicos, valorização profissional e políticas que coloquem a engenharia no centro das estratégias de adaptação e mitigação.
Para que o que foi acordado em Belém saia do papel e beneficie a população, é indispensável que os profissionais da área tecnológica sejam reconhecidos como protagonistas da agenda ambiental e do desenvolvimento sustentável que o Brasil e o mundo tanto necessitam.
Eng. Murilo Pinheiro – Presidente








