O Brasil transforma apenas 30% de sua cadeia produtiva, que é destinada ao exterior, enquanto outros países, como a China, exportam até 98% de seus produtos com alto valor agregado. Isso leva o país a exportar os grãos in natura a um valor muito abaixo do que se o produto recebesse beneficiamento.
Para discutir esse tema, pesquisadores estão reunidos no 4º Congresso Internacional de Bioprocessos na Indústria de Alimentos (ICBF), que começou terça-feira (5) em Curitiba. Eles concordam que essa situação ocorre em função da falta de investimento em pesquisas.
No ICBF 2010 - que pela primeira vez é realizado em um país da América Latina -, organizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos Paraná (SBCTA), cerca de 1,3 mil participantes debatem estudos que vão trazer impacto para o consumidor final.
Segundo o presidente do ICBF, Carlos Ricardo Soccol, o Brasil tem a possibilidade de se tornar celeiro do mundo desde que haja condições propícias de investimentos em pesquisa e inovação no setor agroalimentar. "Para se ter uma ideia, o quilo de soja exportado por meio dos portos brasileiros é vendido a R$ 0,20, enquanto o quilo da mesma soja enriquecido com hormônios bioativos, com amplos benefícios para saúde humana, alcança R$ 1 mil", afirmou.
Ele disse que há consenso entre os cientistas participantes de que o país dá prioridade "à exportação de produtos primários, deixando de gerar empregos, arrecadar impostos e colocando em risco a soberania tecnológica. Só em importações no setor farmacêutico, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca de R$ 5 bilhões ao ano", alerta.
De acordo com Soccol, os cientistas trazem patentes que poderão ser transferidas ao setor produtivo. "Nessa aproximação entre pesquisadores e indústria, somente os cientistas da UFPR vão disponibilizar cerca de 20 pesquisas patenteadas pela instituição, que podem representar melhorias para a saúde da humanidade, além de ajudar a combater a fome mundial".
Ao insistir que o Brasil ainda investe muito pouco em pesquisa científica e inovação tecnológica quando comparado aos países desenvolvidos, o presidente do ICBF lembra que as principais fontes de pesquisa no país são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e mais recentemente as fundações de pesquisas estaduais.
"As empresas brasileiras não têm o hábito de investir parte de seu faturamento em pesquisa", concluiu.
(Lúcia Nórcio, Agência Brasil)
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