A pesquisa procura saber se a empresa gastou em equipamentos para lançar ou melhorar um produto ou processo, em aquisição de software para inovar etc. São gastos que não aparecem na contabilidade rotineira das firmas
Os resultados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec 2008), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), serão apresentados às 10 horas, no dia 29 de outubro, na sede da instituição, no Rio de Janeiro, com a presença de representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e Finep, parceiros do IBGE na realização do principal estudo no Brasil sobre as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas industriais e de serviços instaladas no país. A última edição da pesquisa é de 2005.
A coleta de dados para essa edição da pesquisa foi iniciada em 4 de agosto de 2009 e se refere ao triênio 2006-2008. A primeira edição da Pintec foi realizada em 2000, seguida de outras duas, em 2003 e 2005. Diferentemente dos anos anteriores, a pesquisa foi toda feita por funcionários temporários e fixos do IBGE, o que demandou mais tempo para treinamento das equipes.
Foram 60 agentes de coleta de informações por telefone, 12 supervisores responsáveis por monitorar o trabalho dos agentes de coleta e fazer uma análise crítica da pesquisa, e mais 20 funcionários do quadro fixo do IBGE, que atuam nas unidades regionais do instituto, fazendo visitas e entrevistas pessoais nas empresas da amostra.
Sem poder revelar os resultados e números da pesquisa, Fernanda Vilhena, gerente da Pintec, diz que aumentou a amostra em relação a outros anos. "Nosso universo cresceu porque tivemos aumento no número de empresas com 10 ou mais empregados - o universo abrangido pela Pintec", conta.
Outro fator que provocou um aumento no número de empresas da amostra foi a decisão de levantar e publicar dados regionalizados sobre as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas do setor de serviços. Até agora, apenas os dados das empresas do setor industrial eram discriminados por região.
"Com a decisão de regionalizar os dados das empresas de serviço, tivemos de procurar um número de companhias desse setor em cada Estado que fosse representativo para a realidade regional, o que nos fez incluir mais empresas na amostra", acrescenta.
Mudanças no questionário e novos conceitos de inovação
O questionário que as empresas respondem também foi aprimorado, especialmente no bloco que fala sobre o apoio do governo às atividades de P&D. Foram adicionadas perguntas sobre o uso da lei de incentivos fiscais à inovação ("do Bem") e da subvenção concedida pela Finep. Foram mantidas as perguntas sobre o uso dos incentivos da Lei de Informática, sobre parcerias com universidades e institutos, sobre o uso de bolsas das fundações de amparo à pesquisa dos Estados e de agências federais, e de venture capital.
A questão sobre o uso de mecanismos públicos de apoio para compra de máquinas e equipamentos foi separada da pergunta sobre o uso desses mecanismos para projetos de P&D.
Antes, a Pintec queria saber dos empresários se tinham usado fomento estatal para a compra de máquinas - considerada uma atividade de inovação - e para projetos de P&D - outra atividade de inovação, mas não distinguia uma ação da outra, colocando as duas atividades na mesma questão. Com a pergunta mal formulada, a Pintec não conseguia saber, de forma exata, para que tipo de atividade as empresas estavam usando recursos públicos - compra ou projetos.
Foram também introduzidos dois conceitos: inovação em marketing e organizacional. A Pintec seguiu a recomendação do Manual de Oslo, que define os conceitos usados em pesquisas sobre a atividade de inovação, e reconhecido internacionalmente. O manual recomenda que sejam observadas essas outras formas de inovação por serem muito usadas pelas empresas do setor de serviços.
Apesar da incorporação desses dois novos conceitos, a pesquisa continua tendo como corpo principal a investigação sobre a inovação em produtos e processo. Os gastos e a taxa de inovação das empresas - indicador que mede a introdução de inovações no mercado - continuam sendo medidos considerando apenas os dados sobre inovação em produto e processo.
Mudança na metodologia
Houve também uma mudança na metodologia que altera a forma de apresentação dos resultados da pesquisa, explica Fernanda, o que pode impactar a comparação dos dados dessa edição com a das edições anteriores.
"Até 2007, as pesquisas econômicas consideravam a versão 1.0 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A partir desse ano, todas passaram a usar a CNAE 2.0, o que também ocorreu com a Pintec", diz.
A CNAE propõe a forma de divisão das empresas por setores e é formulada a partir de metodologias internacionais, para permitir a comparação do Brasil com outros países, combinada com a realidade da economia brasileira. Ao IBGE cabe coordenar a formulação da CNAE, metodologia usada nas pesquisas sobre as atividades industriais do instituto.
Com o uso da CNAE 2.0, alguns detalhes mudaram. Por exemplo: o setor de reciclagem, na versão 1.0, era considerado industrial. Na versão 2.0, não é mais. Por isso, o setor foi excluído da Pintec 2008, ou seja, atividades de inovação de empresas desse segmento não serão medidas. Houve setores que mudaram de classificação, ou seja, que na versão 1.0 eram considerados industriais, e na versão 2.0, passaram para a classe serviços. Foi o caso do setor de edição e gravação (de livros, jornais, CDs etc).
"É preciso mais cuidado para comparar os dados dessa Pintec com as edições anteriores", alerta Fernanda. Segundo ela, as mudanças não alteraram muito os números mais gerais, mas precisam ser observados com cautela quando se trata de olhar e comparar os setores.
As empresas ainda têm receio de participar da Pintec, pois as informações de investimento em P&D são consideradas estratégicas. O IBGE trabalha com a lei do sigilo e só divulga os dados agregados, por setor ou região, e nunca por empresa. Apesar de o receio permanecer entre algumas, Fernanda destaca que as empresas estão mais bem preparadas para dar informações sobre suas atividades e, principalmente, sobre seus gastos em P&D.
A Pintec procura saber se a empresa gastou e quanto gastou em atividades como compra de equipamentos para melhorar um produto ou processo, no lançamento de um produto inovador, em aquisição de software para inovar etc. São gastos que não aparecem na contabilidade rotineira das firmas.
"Nas primeiras edições da Pintec, as empresas não estavam preparadas para dar essas respostas. Com a participação nas várias edições da pesquisa e o uso da lei do Bem, que tem formulários de prestação de contas semelhantes ao questionário da Pintec, elas criaram as informações e estão mais preparadas para responder a pesquisa", afirma. Contudo, ela diz que as grandes companhias têm seus dados sobre inovação mais bem organizados do que as de menor porte.
(Janaína Simões, Inovação Unicamp)
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