Para Adalberto Val, diretor do Inpa, como os países da Amazônia têm desafios semelhantes e um patrimônio ambiental comum, "é preciso enxergar a cooperação científica entre as instituições da região como uma oportunidade global, e não mais local ou regional"
A Amazônia tem se tornado, de modo crescente e por diferentes motivos, uma área estratégica fundamental para o desenvolvimento sul-americano, seja do ponto de vista social, ambiental ou econômico. Os países que integram a região, localizados no norte da América do Sul, têm condições muito mais semelhantes para estabelecer um mercado comum na região do que tem, por exemplo, o próprio Mercosul.
"O Mercosul surge, na realidade, muito mais por conta de diferenças entre o Brasil e outros países vizinhos, como Argentina e Chile, do que por condições similares", disse Adalberto Luis Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que nesta quarta-feira (20/11), na mesa-redonda "Cooperação científica nas fronteiras amazônicas", apresentou tais visões sobre o assunto.
Para ele, a floresta amazônica tem um patrimônio ambiental e de biodiversidade comum a todos os países que a integram, seus habitantes possuem uma matriz cultural muito parecida e a região conta com desafios semelhantes em áreas como a de transportes, saúde, educação, ciência e tecnologia.
"Como esse conjunto de desafios na Amazônia nos une muito mais do que nos separa, precisamos, muito rapidamente, enxergar a cooperação científica entre as instituições da Amazônia como uma oportunidade global, e não mais local ou regional. As informações científicas sobre a floresta serão cada vez mais fundamentais para a soberania de todas as nações, e não para um ou dois países em particular", disse Val.
Mas segundo ele, apesar de a Amazônia, que ocupa cerca de 60% do território nacional, reunir características similares e também abrigar uma população relativamente organizada do ponto de vista social, ainda está faltando interlocução entre os agentes, públicos, privados e da sociedade civil, que habitam ou trabalham para o desenvolvimento sustentável da região.
"O avanço científico e a geração de novas informações robustas que permitam uma mudança paradigmática na Amazônia envolve a cooperação científica, não só na fronteira dos países e entre cientistas de outras instituições, mas também considerando a fronteira do conhecimento", afirmou.
Para ele, apesar da recente criação pela comunidade acadêmica de um conjunto significativo de conceitos em várias áreas, entre elas ecologia, biologia e também nas áreas social e econômica, novos ambientes devem ser analisados por diferentes pontos de vista para que esses conceitos sejam validados e tenham sua importância reconhecida.
"O mito da neutralidade científica ficou no passado e é evidente que os países hoje investem em ciência e tecnologia com objetivos muito claros, como gerar informações que permitam intervenções seguras em todas as cadeias sociais. E os olhos do mundo estão voltados para as regiões tropicais para que esse conjunto de informações geradas sejam validadas", disse Val.
(Thiago Romero, Imprensa da SBPC)
www.fne.org.br