A equipe de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff, oficializou na quarta-feira (15/12) o nome do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) como futuro titular do MCT
Com a confirmação de Mercadante, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) passa da influência do PSB para a do PT, seguindo as mudanças na participação dos partidos da base aliada do futuro governo federal empreendidas pela equipe de transição.
Em entrevista ao "JC", o ministro Sergio Rezende, de saída do cargo, informou que o processo de transição no MCT está bem encaminhado. Para ele, haverá continuidade.
Apesar disso, a comunidade científica tem se mobilizado para reivindicar tanto a manutenção quanto a aceleração dos avanços verificados nos últimos anos. Em 2 de dezembro, a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgaram nota pedindo continuidade no MCT. Leia a nota em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75080
Se, diferentemente de Rezende, Mercadante não pode ser considerado membro da comunidade científica, o senador integra a comunidade acadêmica, ainda que esteja dela afastado.
O senador é formado em economia, com mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de onde é professor licenciado. Segundo sua biografia publicada em site oficial, ele também é professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Pouco antes de tomar posse como ministro, no entanto, Mercadante dará um passo de volta à academia: está marcada para esta sexta-feira, dia 17, a defesa de sua tese de doutorado na Unicamp. O título do trabalho é "As Bases do Novo Desenvolvimentismo: Análise do Governo Lula", segundo o portal do Instituto de Economia da Unicamp. O orientador é Mariano Francisco Laplane.
A banca examinadora é composta por importantes economistas e ex-ministros. Maria da Conceição Tavares, professora aposentada da Unicamp e emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e João Manuel Cardoso de Mello são membros internos. Os membros titulares externos são Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e ex-ministro da Fazenda e da Ciência e Tecnologia, e Antonio Delfim Netto, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Fazenda e da Agricultura.
O objeto da tese de Mercadante assemelha-se ao do livro "Brasil: A construção retomada", lançado em junho passado pela editora Terceiro Nome. Segundo descrição no site da editora, a obra "é uma análise do Governo Lula, um documento completo das políticas colocadas em prática nesses quase oito anos de mandatos presidenciais, e demonstra por meio de gráficos o crescimento de cada segmento".
Apesar do trabalho como docente do ensino superior, Mercadante não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes.
Perfil
O predomínio do perfil político sobre o técnico gera certa apreensão na comunidade científica. A transição política no MCT chegou a ser assunto no blog "ScienceInsider", da revista "Science", em nota de 10 de dezembro, que relatava incertezas com a saída de Rezende. Veja em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75321
Ao "JC", no entanto, Rezende opinou que a troca de um ministro cientista por um político não é necessariamente ruim. "Podemos ter péssimos ministros tanto políticos como cientistas", disse Rezende, citando o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, como exemplo de político bem-sucedido na gestão do MCT.
Para muitos, a indicação de Mercadante para o ministério é vista como "compensação" pela derrota nas últimas eleições para o governo de São Paulo. Na carreira política, o senador foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1990. Em 1994, foi candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva. Voltou à Câmara dos Deputados depois de ser eleito em 1998. Em 2002, foi eleito senador.
Segundo reportagem do portal "iG", o projeto político do futuro ministro da C&T incluiria a candidatura à prefeitura de São Paulo, em 2012.
(Vinicius Neder, do Jornal da Ciência)
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