Maputo (Moçambique) – As economias dos países africanos ao sul do Saara, em conjunto, devem crescer algo em torno de 5,5% este ano, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para 2012, a previsão é de resultados parecidos (5,7%). Os dados constam do Relatório Global de Estabilidade Financeira e Previsões Econômicas e Financeiras para 2011.
“A recuperação econômica continua a fazer-se a um ritmo mais lento nas economias avançadas, e muito mais rápido nas economias emergentes”, disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. O crescimento global está projetado para 4,4% em 2011 e 4,5% no próximo ano. Mas o conjunto dos países ricos deve crescer apenas 2,5% por ano até 2012.
A região depende fortemente da ajuda financeira dos países ricos. Um corte neste financiamento traria consequências na projeção de crescimento. Mas a perspectiva é boa, diz o FMI.
O crescimento subsaariano destaca-se também pelo fato de outras regiões terem sido mais severamente atingidas pela desaceleração dos últimos anos, forçada pela crise nascida nos países ricos. Mas há particularidades.
“Os principais fatores foram a minimização e diminuição do número de conflitos civis internos - que têm efeito devastador sobre a economia [além das questões humanas] – e um processo de escolha de políticas mais apropriadas”, afirma Victor Duarte Lledo – representante do FMI em Moçambique, em entrevista à Agência Brasil. “Boa parte desses países conseguiu controlar melhor a inflação, por meio de políticas fiscais mais sustentáveis”, completa Lledo.
De acordo com o representante do FMI, reformas importantes, “principalmente nos marcos regulatórios”, ainda precisam ser aceleradas, para sustentar esse crescimento no médio prazo. Segundo ele, também é preciso “aumentar o acesso ao crédito de pequenas e médias empresas e lidar com a questão de déficit de infraestruturas públicas, que são essenciais para complementar o investimento privado.”
O pesquisador Dipac Jaiantilal diz ser um começo. “Algumas reformas que foram feitas nos países africanos têm sido muito positivas. A procura dos investidores externos tem sido grande. E há um take off de alguns países, que saíram de um período de guerra - como Moçambique e Angola –, e que ajudam no crescimento de África."
Jaiantilal afirma que, no entanto, ainda é difícil sentir a divisão dessa nova riqueza. “Na maioria dos casos, o crescimento tem sido muito concentrado, com poucos empregos e poucas grandes empresas. A base social de benefício desse crescimento é muito reduzida.”
“Veja o caso de Moçambique”, destaca o pesquisador, doutor em economia e coordenador do Instituto de Investigação Cruzeiro do Sul, de Maputo.“Não houve de redução da pobreza significativa, embora o crescimento tenha sido elevado, a taxa de média de 8% a 9%. Ainda há muito que fazer no campo de distributivo e redistributivo”, acredita.
Para dividir melhor a riqueza, Victor Duarte Lledo cita como exemplo o que o ocorreu no Sudeste da Ásia. “Eles voltaram-se para exportação, por meio de reformas no ambiente de negócios, comércio, financiamento de pequenas e médias empresas.” Mas, segundo ele, já há algum avanço na redução da pobreza em países como a Uganda e a Etiópia.
Boa parte da África depende economicamente da exploração de recursos minerais, por isso o representante do FMI acredita que a atenção ao setor precisa ser maior. “É um grande benefício potencial, mas tem gerado problemas de governança, às vezes de competitividade. É preciso taxar o setor de forma apropriada, para que esse dinheiro possa financiar o combate aos déficits que eles tenham, com sistema de orçamento transparente”.
(Agência Brasil)
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