Vou meter a colher na política. Mas precisamente nas fontes de financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais.
Dois fatos me movem. Primeiro, a decisão, correta, do Supremo, de acabar com as doações de empresas para candidatos e partidos. Segundo, levantamento do “Estadão Dados”, mostrando que, nas últimas eleições, 2/3 do que PMDB, PT e PSDB utilizaram vieram de doações empresariais.
Pasmem: o Partido dos Trabalhadores foi o que mais recebeu de empresas, ficando com 48% do total; PMDB pegou 27%; PSDB vem logo em seguida com 25%. Como pode um “partido dos trabalhadores” ser fartamente abastecido por doações de empresas, especialmente de grandes – como empreiteiras e bancos?
A doação, avassaladora - bancos, empreiteiras, múltis, terceirizadas etc. - não explica tudo, mas revela muita coisa. Revela, principalmente, que a chamada política burguesa conseguiu também transformar o voto em mercadoria. Ora, se o dinheiro a rodo é tão importante para as campanhas é porque ele possibilita a conquista do voto. Ou seja, a compra pura e simples do voto.
Não se faz política com moralismo. Mas a imoralidade não pode ser a regra. Essa avalanche de dinheiro muda o centro de gravidade da política e compromete a representação do mandato. Em vez do debate de ideias e projetos, prevalece a marketagem-prostituta, e esta faz todos os gostos do cliente, como aqueles moças que rodam bolsa no turno da noite – desde que se pague.
No sindicalismo, há tempos se debate a participação dos dirigentes no processo eleitoral. A última eleição devastou a representação sindical na Câmara Deputados. Naturalmente, o poder econômico prefere patrocinar os alinhados a seus interesses. Ou, se não, patrocina sindicalista desde que seja manso, banque projetos contra o trabalho decente ou aceite ser ponta de lança de iniciativas antidemocráticas, que, no fundo, são lesivas à própria classe trabalhadora.
A mudança no padrão de financiamento político não resolverá os graves problemas nacionais. Mas ajudará a elevar o padrão do debate político, fazendo os partidos irem ao encontro de seus programas e princípios. Por outro lado, obrigará os partidos a ampliarem o quadro de filiados, bem como estimular a militância, recuperando seu papel, hoje esvaziado pela negociação por cima, a cargo de tesoureiros do partido, atravessadores e todo tipo de pilantra da política.
A decisão de Supremo, correta e republicana, não teve repercussão nos meios sindicais. A Agência Sindical ouviu Ricardo Patah, presidente da UGT, que apoiou a tomada de posição da Corte. Demos manchete em nosso site e no boletim Repórter Sindical. E foi só.
* João Franzin é jornalista e diretor da Agência Sindical