Marcando o Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), da qual o SEESP é filiado, realizou evento na cidade de Maceió para o lançamento do seu Departamento de Alimentação Saudável e do Observatório Sindical Josué de Casto de Alimentação e Nutrição. A atividade ocorreu na sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas e colocou em pauta a necessidade urgente de se trabalhar por políticas públicas e conscientização voltadas ao tema.
Foto: Nylana Ferro
Abertura da atividade realizada pela CNTU em Maceió no Dia Mundial da Alimentação
A sessão de abertura foi dirigida pela vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida, e contou com a participação do diretor da entidade e presidente da Federação Interestadual dos Nutricionistas (Febran), Ernane Rosas, da presidente do Sindicato dos Nutricionistas de Alagoas (Sindnut), Graça Maria Cavalcante, da representante do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-6ª Região), Karine Maria de Melo Brebal, do suplente de deputado estadual Chico Holanda (PP), e do vereador Chico Filho (PP). A diretora da Febran e da CNTU, Zaida Diniz, apresentou a biografia do médico e escritor Josué de Castro, brasileiro que se notabilizou internacionalmente pela luta no combate contra a fome e a desigualdade, consagrado pela obra “Geografia da fome”.
Fome oculta
Na sequência, sob a coordenação do diretor da Febran, Rafael Azeredo, a nutricionista e educadora Sandra Chemin fez um alerta para a necessidade de combater outro tipo de desnutrição, que não o causado pela escassez de comida. “É verdade que saímos do mapa da fome, mas temos a fome oculta”, advertiu. Em sua apresentação, ela demonstrou a preocupante situação dos hábitos alimentares dos brasileiros e os prejuízos causados por eles desde a gestação. “Esses acarretam problemas de saúde imediatos e também em longo prazo.”
Confira as apresentações
Sandra Chemin
Albaneide Peixinho
Conforme ela, fatores que podem interferir na formação do hábito alimentar ocorrem no período da alimentação materna, escolar e na adolescência e podem ser de natureza fisiológica, ambiental ou relacionados à sociedade de consumo. Aqui, destacou Chemin, tem forte influência a publicidade voltada ao público infantil de produtos alimentícios, em geral de, inadequados. “Alguém aqui já viu propagando de fruta e verdura na televisão”, questionou. Outro aspecto relevante nesse cenário, apontou a nutricionista, foram as mudanças de hábito em relação as refeições que cada vez mais feitas fora do lar e, principalmente, em redes de fast-food. Completam o quadro de preocupações a atual cultura adolescente de magreza, para as meninas, e de músculos desenvolvidos, para os garotos, que podem levar à anorexia e à vigorexia.
Albaneide Peixinho, coordenadora do projeto de nutrição doCentro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimento das Nações Unidas (PMA/ONU), traçou um histórico da alimentação no País, assim como luta sindical dos nutricionistas por reconhecimento profissional e por políticas públicas que garantissem a saúde da população. Entre essas, destaca-se a inclusão, no Artigo 200 da Constituição Federal, a inspeção da qualidade dos alimentos entre as competências do Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao final, foi aprovada por aclamação a Carta da CNTU pela Alimentação Saudável.
O Observatório
A criação pela CNTU do Observatório Sindical Josué de Castro da Alimentação e Nutrição objetiva acompanhar, solicitar, avaliar e divulgar os indicadores, as políticas e a gestão públicas dos programas de alimentação e agricultura no País. Sua principal missão é reunir e disseminar informações ao conjunto do movimento sindical como subsídios a propostas de políticas, medidas e ações diversas, públicas e privadas, em prol da alimentação saudável da população brasileira.
Quem foi Josué de Castro
O Departamento de Alimentação Saudável da CNTU homenageia e se inspira em Josué de Castro, ao criar o Observatório Sindical Josué de Castro da Alimentação e Nutrição
Josué Apolônio de Castro (Recife, 5 de setembro de 1908 – Paris, 24 de setembro de 1973), mais conhecido como Josué de Castro, foi um médico, nutrólogo, geógrafo, sociólogo e político. Pioneiro no combate à fome no Brasil e no mundo, estudou também outros problemas relacionados à alimentação e nutrição. Dedicou-se a fundo à questão da fome e a outras a ela ligadas, como meio ambiente e subdesenvolvimento. Referência fundamental ao estudo e conhecimento do tema, sua obra “Geografia da fome – o dilema brasileiro: pão ou aço”, publicada em 1946, foi traduzida para 25 idiomas. A seguir, síntese de sua extensa trajetória política e profissional:
• Formado em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, 1929;
• livre-docente de Fisiologia da Faculdade de Medicina do Recife, 1932; professor catedrático de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais do Recife, 1933 a 1935; professor catedrático de Antropologia da Universidade do Distrito Federal, 1935 a 1938; professor catedrático de Geografia Humana da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, 1940 a 1964;
• convidado oficial do governo italiano para realizar um ciclo de conferências nas universidades de Roma e Nápoles sobre “Os problemas de aclimatação humana nos trópicos”, 1939;
• convidado oficial de governos de vários países para estudar problemas de alimentação e nutrição. Entre eles: Argentina (1942), Estados Unidos (1943), República Dominicana (1945), México (1945) e França (1947);
• chefe da Comissão sobre as Condições de Vida das Classes Operárias do Recife (cujo trabalho culminou no primeiro inquérito dessa natureza no País), 1933;
• membro da “Comissão de Inquérito para Estudo da Alimentação do Povo Brasileiro”, realizada pelo Departamento Nacional de Saúde, 1936;
• detentor do Prêmio Pandiá Calógeras, 1937;
• idealizador, organizador e diretor do Serviço Central de Alimentação, depois transformado no Serviço de Alimentação da Previdência Social (Saps ), 1939 e 1941;
• presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação, 1942 a 1944;
• idealizador e diretor do Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil, 1946;
• Prêmio José Veríssimo da Academia Brasileira de Letras, 1946;
• delegado do Brasil na “Conferência de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas”, convocada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), agosto de 1947;
• membro do Comitê Consultivo Permanente de Nutrição da FAO, 1947;
• professor honoris causa da Universidade de Santo Domingo, República Dominicana, 1945; da Universidade de San Marcos, Lima, 1950; e da Universidade de Engenharia, Lima, 1965;
• presidente do Conselho da FAO, 1952 e 1956;
• presidente da Associação Mundial de Luta Contra a Fome (Ascofam);
• Prêmio Roosevelt da Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos, 1952;
• Grande Medalha da Cidade de Paris, 1953;
• Prêmio Internacional da Paz, 1954;
• Grande Cruz do Mérito Médico, Brasil;
• Oficial da Legião de Honra, França, 1955;
• presidente eleito do Comitê Governamental da Campanha de Luta Contra a Fome, ONU, 1960;
• deputado federal pelo estado de Pernambuco, 1954 a 1962;
• embaixador do Brasil na ONU, em Genebra, a partir de 1962, teve seus direitos políticos cassados pela ditadura civil-militar, através do Ato Institucional nº 1, em 9 de abril de 1964;
• detentor da Ordem de Andrés Bello do Governo da Venezuela, 1968;
• membro de várias associações e academias no Brasil e no exterior;
• fundador e presidente do Centro Internacional para o Desenvolvimento (CID), Paris, 1965 a 1973;
• presidente da Associação Médica Internacional para o Estudo e Condições de Vida e Saúde (Amiev), 1970;
• professor estrangeiro associado ao Centro Universitário Experimental de Vincennes, Universidade de Paris, 1968 a 1973;
• exilado na França, faleceu em Paris, França, em 24 de setembro de 1973.
Fontes: http://www.josuedecastro.com.br e http://www.nutricao.ufrj.br/museu/vida.html
Fonte: CNTU