Uma matéria no fim de semana na Folha, assinada por Joana Cunha, escancara um grave problema para os trabalhadores que, embora preocupante, não vinha despertando a atenção da mídia e da opinião pública.
O título é significativo: “Na crise, empresas rebaixam plano de saúde de funcionário” e resume que “para aliviar custos, companhias restringem benefícios oferecidos e trocam de operadoras e de categorias”. Acrescenta um dado importante: “O volume de empresas que cobram parte da consulta do funcionário subiu de 44% em 2014 para 51% em 2015.”
Sempre tenho afirmado que um dos erros da chamada renovação sindical dos fins dos anos 70 do século passado foi o desprezo dedicado à saúde pública e a consequente valorização dos planos empresarias privados de saúde nas pautas reivindicatórias do movimento sindical. O plano privado de saúde, dependente do mercado, e não o sistema público de saúde, o SUS, passou a ser, depois dos itens de reajuste, um dos mais importantes itens a ser negociado e até mesmo, em muitos casos, o mais importante.
As empresas passaram, portanto, a chantagear em cada data-base os dirigentes sindicais em dois sentidos: forçá-los a aceitar quaisquer planos cobrando parte deles dos trabalhadores e ameaçando constantemente com sua extinção, precarização ou cobrança maior.
É o que acontece, por exemplo, na Vivo e o que aconteceu na última campanha salarial nos Correios (os trabalhadores dos Correios em São Paulo consideraram a grande vitória em sua greve a manutenção do plano).
Há um divórcio entre as reivindicações da sociedade pela melhoria do serviço público de saúde (o SUS) e as preocupações sindicais corporativas com os planos privados de saúde que, ancorados nos mais fortes lobbies, têm feito gato e sapato com os usuários e as autoridades.
É hora de começar a superar essa situação com o movimento sindical se aproximando dos defensores da saúde pública e estes compreendendo que a reivindicação dos trabalhadores pode ser atendida pelo SUS – fortalecido e melhorado – desde que se substitua a empresa privada pelo sistema público que pode (como na Itália) ser beneficiado por contribuições negociadas nas campanhas salariais.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical