Temores vindos do Japão não alterou calendário. Estimativa é de que a compra de equipamentos para a nova usina nuclear deva atingir R$ 1,5 bilhão.
O debate sobre os projetos de energia nuclear, desencadeado pelo temor de vazamento em uma das usinas japonesas após o recente terremoto, não alterou os planos em andamento na Eletronuclear, pelo menos no que se refere às obras de Angra 3, a única usina nuclear do país com obras em andamento. Na próxima semana, a estatal controlada pela Eletrobras vai colocar na rua o edital para compra de toda a infraestrutura eletromecânica da nova usina brasileira. Trata-se de um edital com valor estimado em R$ 1,5 bilhão, um dos maiores do setor de energia programados para este ano.
A informação foi confirmada por Leonam dos Santos Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear. "O edital está pronto e só precisa passar pelo conselho de administração da empresa", disse Guimarães ao Valor.
A expectativa da Eletronuclear é que, passada as fases de recebimento de propostas e qualificação de concorrentes, o contrato seja firmado até junho. O edital, que vai permitir a participação de forma individual ou por meio de consórcios, trata da montagem de toda parte técnica da nova usina.
Segundo Guimarães, que também é membro do Grupo Permanente de Assessoria da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), atualmente há 2,3 mil pessoas trabalhando na construção de Angra 3. São funcionários da construtora Andrade Gutierrez e de suas subcontratadas, que atuam em obras civis. No pico da construção, que segundo o cronograma será atingido em dois anos, a previsão é de que haja 5 mil trabalhadores em atividade.
Atualmente, segundo Guimarães, Angra 3 tem algo entre 10% e 15% de seu projeto já executado. A previsão da Eletronuclear é de que a usina entre em operação até o fim de 2015.
Os primeiros equipamentos comprados para erguer Angra 3 foram adquiridos há 35 anos. A usina chegou a ter suas obras iniciadas, mas o projeto foi paralisado em 1986, em decorrência das polêmicas geradas pelo acidente nuclear de Chernobil, na Rússia. As obras só seriam retomadas em 2007. A previsão da Eletronuclear é de que a conclusão de Angra 3 consuma cerca de R$ 9 bilhões.
Hoje, as duas usinas nucleares em atividade no país - Angra 1 e 2 - fornecem juntas 2 mil megawatts (MW) de energia, o que responde por apenas 1,8% do total da matriz energética brasileira. Com a entrada de Angra 3, deverão ser adicionados mais 1.405 MW na geração nuclear.
Enquanto toca as obras de Angra 3, a Eletronuclear acompanha com cautela os desdobramentos que o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, pode gerar sobre seus planos para instalar mais quatro usinas no país.
O cronograma prevê que sejam investidos aproximadamente R$ 30 bilhões na construção dessas quatro usinas, cada uma com capacidade de 1 mil MW, o que elevaria a potência do parque nacional nuclear para 7,3 mil MW até 2030.
(Valor Econômico)
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