O primeiro tema na manhã desta sexta-feira (27), foi a eficiência energética e seus benefícios ambientais tratado por Mateus Duarte Teixeira, da empresa Arteche.
Segundo ele, é uma atividade que procura otimizar o uso das fontes de energia, com a utilização racional para usar menos energia e fornecer a mesma quantidade.“A eficiência e as energias renováveis são os dois pilares para uma política energética sustentável”, mencionou Teixeira.
A utilização abusiva das fontes de energia de combustíveis fósseis, como o petróleo, contribuem amplamente para a liberação de CO2 (dióxido de carbono) para a atmosfera trazendo conseqüências desastrosas para o planeta, como as chuvas ácidas, o aquecimento global e a redução da camada de ozônio. “É necessário o uso racional de energia elétrica para contribuir com a redução da demanda por novas usinas térmicas e hidroelétricas, diminuindo assim o grande impacto ambiental resultante da queima de combustível e do alagamento de grandes áreas.”
Conforme Teixeira, existem várias soluções simples para contribuir ao sistema sustentável de energia. Entre elas, utilização de técnicas de reuso, captação de águas pluviais, pesquisa para autoprodução, substituição de dispositivos de iluminação por outros mais eficientes e substituição de insumo energético como energia elétrica por energia solar em caso de aquecimento de água. “Essas medidas traz benefícios diretos para o usuário com a redução de custos, mas também para a sociedade, pois contribui para o desenvolvimento sustentável com a utilização de menos recursos naturais e redução de gases de efeito estufa”, explica.
O palestrante da Arteche mencionou também o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), que tem como objetivo diminuir o desperdício de energia elétrica no País e buscar a eficiência energética no setor elétrico. “Essa iniciativa é muito pouco frente às demandas que temos. As indústrias brasileiras não perceberam o ganho que podem ter com essa ação, elas são as que mais gastam energia e deveriam se enquadrar no padrão proposto. Além disso, a própria política pública não está voltada para essa ação”, critica Teixeira. Em 2005, as indústrias consumiram 46,7% de energia elétrica no Brasil, enquanto que o setor de comércio e público utilizou 23,3% e as residências 22,2%.
Para mudar essa situação, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o Procel Indústria elaboraram um diagnóstico detalhado das principais oportunidades e prioridades para o desenvolvimento do mercado de eficiência energética industrial. Nele, foi constatado que o segmento não é prioridade nos programas governamentais de eficiência energética, apesar de ser o maior consumidor de energia. Teixeira citou alguns exemplos de empresas que adotaram a eficiência energética, como é o caso de uma loja da rede Wallmart de supermercados. Lá foi instalado um banco de capacitor automático de 250 kVAr na subestação principal. “Isso gerou uma economia de R$5.000,00 por mês , retorno financeiro cinco meses após o investimento inicial e a redução do CO2 obtida nessa unidade é equivalente a tirar das ruas cerca de 200 carros pequenos circulando em média 100 quilometros por dia.”
Para finalizar, o engenheiro da Arteche disse que falta uma política educacional voltada às pessoas que tomam decisões em nível governamental e industrial com relação à eficiência energética. “O custo médio do MWh economizado com medidas de eficiência energética é de R$ 79/MWh. Considerando o custo marginal de expansão do sistema de energia elétrica estimado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em R$ 138/MWh, a diferença entre estes dois valores é o ganho médio dos projetos. O momento é propício para maior dinamismo nas ações de eficiência no setor industrial.”
Energia eólica
José Tadeu Matheus, da Wobben Enercon Windpower, iniciou sua palestra falando sobre o conceito de sustentabilidade. “Devemos satisfazer as nossas necessidades atuais sem comprometer a utilização das gerações futuras.”
Matheus fez uma breve apresentação sobre a Wobben, que é a primeira empresa brasileira a fabricar aerogeradores de grande porte, de 800 a 2.300 kW e a realização de projeto, construção, montagem, operação e manutenção de usinas eólicas. Atualmente a companhia possui 1.000 colaboradores diretos e 4.000 indiretos e duas fábricas, uma em Sorocaba e outra em Pecém, no Ceará. “Temos 1.700 fornecedores nacionais que garantem o índice de nacionalização acima de 70%. Além de 16 usinas eólicas em operação no Brasil, uma na Argentina e mais três em construção”, mencionou Matheus.
Conforme relatou, o vento é um combustível grátis, abundante, renovável, imune as alterações de preços internacionais, a redução de riscos geopolíticos e não emite CO2. “São inúmeras vantagens, como a redução do custo de transmissão de energia, minimização das perdas, melhorias na segurança energética, sem falar na complementariedade da energia eólica com a hídrica quando não houver chuvas.”
A energia limpa ainda colabora com a melhoria da diversificação da matriz energética, proporciona o desenvolvimento de uma indústria em grande ascensão, o desenvolvimento tecnológico, geração de empregos verdes e uma grande cadeia produtiva. “O prazo para a implantação dos parques eólicos são relativamente curtos de 12 a 24 meses, as usinas ocupam áreas pequenas e permitem a continuidade das atividades agrícolas ou de criação de animais. Sem falar que é possível comercializar os créditos de carbono gerados. Temos uma matriz energética invejável e um enorme potencial de energia eólica a desenvolver. Além disso, esse sistema possibilita uma eficiência maior no nosso sistema elétrico e ainda preserva o nosso planeta para as futuras gerações ”, concluiu.
Perspectivas políticas para as energias alternativas
Em seu discurso, o deputado federal Paulo Teixeira, fez um apanhado sobre a capacidade energética do Brasil com fontes renováveis, as legislações vigentes e iniciativas que poderão alavancar a eficiência no País.
Segundo ele, o potencial de energia alternativa supera toda a capacidade de geração hoje instalada no Brasil. Em 2009, por exemplo, a produção de energia elétrica é de 106 mil MW, eólico de 143 mil MW, biomassa da cana-de-açúcar 11.500 MW e a solar, se implantada na cobertura de uma área equivalente ao lago de Itaipu com painéis fotovoltaicos, por exemplo, geraria 108 mil MWp, mais de 50% da energia elétrica consumida no Brasil. “Cerca de 80% da nossa matriz de energética elétrica é renovável. No mundo está em torno de 10% e nos países desenvolvidos 14%. Por isso temos que parabenizar a engenharia brasileira que conseguiu explorar corretamente os recursos naturais do Brasil.”
Teixeira falou ainda sobre o projeto de lei nº 630/2003, que prevê várias ações para implantar a política de fontes alternativas no Brasil como os leilões de energia eólica, biomassa e PCHs. Esses deverão ser realizados anualmente, durante dez anos e com contratação anual mínima de 200 MW médios por fonte. Outro ponto tratado na legislação é a contratação pelas distribuidoras de fontes alternativas em geração distribuída, com metas anuais obrigatórias de acordo com o respectivo mercado, preços fixados e por fonte. Os programas de geração de eletricidade a partir do biogás obtido da criação de suínos também será favorecido com a lei. Outro ponto é a instalação de aquecedores solares garantirá desconto de 20% nas tarifas de energia elétrica para os consumidores. “Essa lei inclui o financiamento desses aquecedores solares no SFH ( Sistema Financeiro da Habitação) e para a aquisição disponibilizada pelas distribuidoras de eletricidade e pagos na fatura de energia. O chuveiro elétrico pode representar mais de 20% do consumo de energia no horário de pico e por isso precisamos substituí-los”, opina.
O projeto de lei visa também a criação de um fundo para a pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis, essenciais para a capacitação tecnológica e técnica do País. Esse seria composto de 5% do que for arrecadado de royalties e participações especiais do petróleo e mais 2% das receitas advindas das usinas termelétricas a combustíveis fósseis. As termelétricas a combustíveis fósseis também deverão promover a neutralização do carbono que emitirem. “Há ainda incentivos tributários a utilização de veículos elétricos, híbridos, a hidrogênio e a ar-comprimido. Não podemos perder essa oportunidade de utilizar todas as fontes disponíveis. O Brasil tem uma matriz energética privilegiada, detemos 45% das energias renováveis no mundo. Precisamos incentivar novas tecnologias para de fato implantar uma política de eficiência energética”, finalizou.