A recessão poderá ser longa se a prioridade não for a retomada do crescimento. As consequências serão ainda mais desastrosas, comprometendo mais uma vez o potencial de desenvolvimento da sociedade brasileira. Os principais fatores que sustentam o crescimento econômico do País e a capacidade de transformá-lo em desenvolvimento social estão em nossas mãos.
No “Compromisso pelo Desenvolvimento”, as Centrais Sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB) e associações e entidades sindicais de representação dos empregadores (CNI, Anfavea, Fenabrave, Abimaq, Abiquim, Abit, Instituto Ethos, Sinaenco, Anfir, entre tantas outras) firmaram acordo cuja prioridade são medidas para promover o crescimento da economia brasileira.
É urgente retomar o investimento público e privado em infraestrutura produtiva, social e urbana, concluir e retomar obras, avançar nos projetos elaborados e investir em novos. A flexibilidade fiscal (déficit) é necessária para o aporte direcionado de recursos púbicos para o investimento, com o BNDES fortalecido e um ambiente regulatório equilibrado e com segurança jurídica.
Além do investimento em grandes obras e na construção habitacional, deve-se aportar recursos de liberação rápida para obras de contratação célere, que gerem muita ocupação, como, por exemplo, saneamento, limpeza urbana, calçamento. O setor da construção contrata muita gente e mobiliza extensa cadeia produtiva. Por isso, é fundamental destravar o setor de construção.
Da mesma forma, é estratégico retomar e ampliar os investimentos no setor de energia, como petróleo, gás e fontes alternativas. Essa inciativa repercute no setor de construção, industrial e naval.
Também é necessário mobilizar o desenvolvimento produtivo (agricultura, indústria, comércio e serviços) para investimentos de adensamento das cadeias produtivas e de reindustrialização do País. O Compromisso deve criar espaços setoriais e locais para debates e formular propostas de desenvolvimento produtivo.
A estratégia de desenvolvimento produtivo deve considerar uma política cambial que favoreça as empresas competitivas, para que reocupem espaços na agenda exportadora, bem como possam fazer a substituição de importados.
As Olimpíadas e o câmbio criam uma oportunidade única para avançar na estruturação da política de desenvolvimento do turismo que, distribuído em todo o território nacional e a partir de grande potencial natural, é um grande empregador e arrecadador de divisas.
Para gerar capacidade de resistência diante da crise, são necessários, em condições emergenciais, financiamento de capital de giro para as empresas, renegociação de dívidas das famílias, bem como crédito para o investimento privado e o consumo.
Os desafios são enormes, mas o Brasil tem plenas condições de ser protagonista do próprio desenvolvimento econômico e social. Tem capacidade produtiva reunida na força dos empresários e dos trabalhadores, um grande estoque de capital produtivo e muito recurso natural. Nossas mazelas são oportunidades para investimentos, para uma produção que cria riqueza e renda para superar a pobreza e a desigualdade.
O Brasil pode muito se houver compromisso que crie projetos e tome inciativas. O diálogo é o melhor caminho para fortalecer compromissos e um grande instrumento para promover transformações.
* Clemente Ganz Lúcio é diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)