A vida do menino Dezuó virou do avesso. Expulso de sua casa, junto com a família, numa comunidade ribeirinha, graças à construção de uma usina hidrelétrica no Rio Tapajós, oeste do Pará, na Amazônia brasileira, e à ausência de uma política habitacional brasileira, especialmente para famílias removidas por conta de grandes obras e eventos. O garoto passou a vagar por becos da grande metrópole. Entre idas e vindas, lembra sua jornada e a vida bucólica que tinha na beira do rio.
Foto: Deborah Moreira
Em cena o ator Edgard Castro é Dezuó
O direito à terra, negado a uma grande maioria do povo brasileiro, é o tema da peça teatral Dezuó, que depois de quase dois meses em cartaz, com espetáculos gratuítos, ganhou nova temporada na Casa Livre (Rua Pirineus, 107 – Barra Funda), em São Paulo. Desta vez com preços populares, os ingressos variam entre R$ 10 (meia) e R$ 20 e poderá ser visto até 6 de junho - aos sábados, 21h; domingos e segundas às 20h. A peça tem uma hora e 15 minutos.
Com o olhar de quem viveu na floresta amazônica sua vida inteira, Dezuó narra sua trajetória com um texto denso, poético e faz uso de diversos elementos em cena que transportam o público para dentro de suas águas e das aventuras de criança. O pai, a mãe, os amigos, as primeiras aflições, o frio na barriga das descobertas de uma infância sem livro, caderno e letra. A iluminação e a disposição dos lugares no pequeno e aconchegante teatro, também contribuem para uma imersão nas questões profundas sobre a condição humana, sobre a marginalização social.
A motangem recebeu o Prêmio Miriam Muniz 2014 da Funarte, e tem no elenco o ator Edgard Castro, do Núcleo Macabéa; além do músico Juh Vieira em cena, que faz a direção musical; e direção geral de Patricia Gifford, da Cia São Jorge de Variedades, que coordenou um dos projetos mais inovadores na dramaturgia paulistana dos últimos anos, o espetáculo Barafonda, que contava a historia da Barra Funda arrastando o público pelas ruas do bairro.
Vida real
Desde que a hidrelétrica de Belo Monte saiu do papel, ribeirinhos de Altamira (PA) têm convivido com um fenômeno que modificou a rotina da comunidade: transbordamento dos poços que estão alagando quintais de forma permanente. Tudo em um local no qual a concessionária Norte Energia, dona da hidrelétrica, sempre negou a possibilidade de haver impactos.
Belo Monte, a segunda maior hidrelétrica do país em capacidade instalada, com 11.233 MW, já causou a remoção de mais de 40 mil pessoas na cidade de Altamira. Com o frenesi da construção da barragem, em menos de três anos a população da cidade saltou de 99 mil para mais de 150 mil pessoas, na estimativa da prefeitura. A maioria dos atingidos vivia em casas de palafitas no entorno da orla do rio Xingu e dos igarapés que cortam a cidade. Confira reportagem no Brasil de Fato.
Assista a um trecho da peça aqui.
Deborah Moreira
Imprensa SEESP