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21/02/2017

Opinião – Meia gravidez não produz cria

João Guilherme Vargas Netto*

Enquanto o exemplar de fevereiro da revista da FGV, Conjuntura Econômica, afirma que a PEC 287/2016 aproxima a Previdência brasileira dos modelos dos demais países, a edição de segunda-feira, 20/02 da Folha de São Paulo, escancara que a “reforma é mais rígida que de países ricos”, destacando que o tempo mínimo de contribuição de 25 anos para a aposentadoria proposta pelo governo supera a média da OCDE (mesmo universo comparativo da revista da FGV, embora ela desabusadamente fale em “demais países”).

Está em curso uma batalha de informação sobre o alcance da reforma e sobre sua rigidez.

Assim como Aristides Lobo que, ao descrever o golpe da proclamação da República, dizia que “o povo assistiu aquilo bestializado”, a massa da população trabalhadora brasileira está assistindo, também bestializada, a este debate.

Por desconhecimento da maldade pretendida ainda não se deu conta do arrocho atual e do arrocho futuro. Os mais interessados em resistir ao esbulho (os pobres, as mulheres, os jovens, os funcionários públicos) estão apreensivos, apáticos, desinformados e as direções sindicais não têm conseguido ainda esclarecer as coisas e mobilizar os trabalhadores, embora tentem cumprir uma agenda para isso.

Um dos sintomas dessa desorientação das direções, que prejudica a compreensão da base e sua resistência, é o fato de que estão (as direções) mais preocupadas em discutir já alternativas no quadro proposto das reformas do governo do que suscitar o sonoro grito de “nenhum direito a menos”.

Tenho insistido nesta constatação: sem um rotundo não às reformas não há possibilidade de se evitar o pior da reforma, aplaudida pelo mercado, defendida pelos formadores de opinião e propagandeada maciçamente.

Concentrar a discussão agora em pretensas alternativas embota o gume da resistência, desorienta a compreensão de milhões de trabalhadores e piora as condições reais de uma futura negociação no Congresso, a cargo dos partidos políticos.

Todo aparato de comunicação das grandes entidades sindicais deveria concentrar-se em denunciar os aspectos lesivos da reforma, enfatizar os que são piores e suas consequências mais negativas, porque qualquer simulacro de negociação antecipada e apressada carrega em si a aceitação de uma meia gravidez que produz cria.

 


*João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical

 

 

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