João Guilherme Vargas Netto*
Do folclore medieval português, recontado por António José da Silva, nos vem essa figura diabólica, que se esmera em “armar laços em que caem os fracos e ignorantes”.
O Diabinho está solto no Brasil de hoje. Sua especialidade tem sido a de dar ideias que se revelam desastrosas para os que as põem em prática.
Elio Gaspari, em sua nota de domingo, listou algumas dessas situações: a tentativa de deslocamento do ex-ministro Osmar Serraglio, o desmentido no voo do jatinho de Joesley Baptista e a convocação das Forças Armadas para participar da repressão à Marcha de Brasília das centrais sindicais. Estes três exemplos mostram o Diabinho dando ideias estapafúrdias ao presidente Temer, que as tentou canhestramente pôr em execução, com resultados desastrosos.
Um outro exemplo que me vem à memória pode ser o do Diabinho sugerindo ao chefe do Exército Nacional a realização de uma reunião com generais da reserva, o que o levará urgentemente a vestir o pijama.
Mas, o exemplo que quero reter e que diz respeito diretamente às preocupações sindicais, é o do Diabinho dando a ideia para um dirigente sindical de que ele incluísse em seu artigo publicado na Folha (que, em geral, é correto e demonstra uma preocupação pertinente) a venenosa frase de que é possível tornar as propostas de deformas oferecidas pelo governo ao Congresso aceitáveis para o povo.
O Diabinho da Mão Furada deve ter ficado satisfeitíssimo com seu malfeito, já que esta frase invalida o contexto em que ela foi inserida, viola a regra do “nenhum direito a menos” e tem forte cheiro do enxofre da traição.
Neste último caso, mas em todos os outros citados, o exorcismo consiste em manter nossa unidade de ação, em persistir na resistência e, sobretudo, em continuar atentos aos detalhes, porque neles mora o Diabo.
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical