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07/08/2017

Agricultura com ciência, inovação e sustentabilidade

À mesa-redonda que abriu o seminário “Inovação, segurança alimentar e logística”, no dia 4 de agosto último, no SEESP, o pesquisador Paulo Estevão Cruvinel, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Agrícola (SBEA); e Luiz Antonio Pinazza, consultor técnico da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), abordaram o tema “Produção e cadeia de valor”.


Fotos: Beatriz Arruda
Primeira mesa do seminário abordou a cadeia de valor e a produção do campo.
Ao microfone o coordenador do painel e do projeto "Cresce Brasil", Fernando Palmezan.

Iniciando a apresentação, Cruvinel citou o pensador italiano Giordano Bruno, do século XVII, para quem a única certeza que existe é a mudança. “Por isso, precisamos planejar as mudanças que nos levem a uma sociedade mais agregada e com mais qualidade de vida”, ensinou. Esse é o paradigma que ele usa para pensar a agricultura cujo desafio é a “expansão da demanda mundial por alimentos impulsionada pelo crescimento populacional e pela inserção de novos consumidores na economia de mercado”.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, a Organização das Nações Unidas (ONU) indica que, em 2023, poderemos ter uma população mundial em torno de oito bilhões de habitantes, desses, 60% estarão em cidades. Em países em desenvolvimento, esse percentual sobe para 80%. A partir desse cenário, Cruvinel indica que o setor precisa, cada vez mais, trabalhar com dois conceitos básicos inseridos na cadeia de valor – que engloba infraestrutura, gerenciamento de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologias e compras e aquisição de insumos: segurança alimentar e do alimento. “Ao mesmo tempo em que temos de fazer com que os alimentos cheguem a todas as pessoas no mundo, precisamos garantir um produto de qualidade e que traga benefícios à vida”, expôs.

Outra questão se apresenta como desafio nesse horizonte, o da assimetria do crescimento populacional. “A maior parte desse aumento é esperado na África Subsaariana e na Ásia. Áreas de baixa renda com níveis relativamente baixos de produtividade agrícola”, explicou Cruvinel (foto à esq.). Associado a isso, prosseguiu ele, tem a questão “das mudanças climáticas e os estresses térmicos e hídricos que tendem a se intensificar nos trópicos e o aumento da pressão para a “descarbonização” das economias”. Ele informou que a International Food Policy Research Institute (IFPRI) – entidade criada em 1975 e com sede nos Estados Unidos –, no estudo “Segurança alimentar em um mundo em crescente processo de escassez de recursos naturais”, de 2014, apresenta um conjunto de 11 tecnologias indicadas para aumento de produtividade. Entre essas estão o plantio direto; o gerenciamento integrado de fertilidade do solo; a agricultura de precisão, ou seja, o fornecimento de insumos agrícolas assistidos por GPS (em inglês global positioning system), além de práticas de gestão de tecnologia simples que visem controlar todos os parâmetros do campo, desde o fornecimento de insumos ao espaçamento de plantas e ao nível da água. Fazem parte desse conjunto, também, a agricultura orgânica; a coleta de água; a irrigação por gotejamento e por aspersão; as variedades com tolerância ao calor e à seca; eficiência do uso de nitrogênio; e proteção de culturas.

Toda sistematização para otimizar a produtividade no campo não pode “perder de vista, em nenhum momento, a dimensão da sustentabilidade”, asseverou Cruvinel. E continuou: “Estamos falando de demandas crescentes por alimentos e de recursos finitos.” Aqui, explicou, entra o Fator Total de Produtividade (TFP) – associação dos resultados alcançados pela agricultura e a utilização dos insumos de entrada, como terra, serviços, fertilizantes, máquina – que aumenta quando os resultados crescem mantendo os mesmos percentuais de insumos utilizados. Segundo dados internacionais, indicados por Cruvinel, a “produtividade global de fatores agrícolas (TFP) deve crescer da taxa atual de 1,40 %, para uma taxa média de pelo menos 1,75 % ao ano, para dobrar a produção agrícola, até 2050”.

Nesse sentido, o pesquisador apontou as regiões em condições de aumentar a produção. O Brasil é o que melhor apresenta área disponível para a agricultura com mais de 400 milhões de hectares (ha) – hoje a agropecuária nacional ocupa pouco mais de 50 milhões de ha. Um quadro que mudou radicalmente, segundo ele, em pouco mais de 40 anos. “Saímos de uma realidade de total insegurança alimentar, com dependência extrema da importação, para uma ascensão mundial que levou em conta políticas públicas, criação de instituições de pesquisa, inovação, competitividade, sustentabilidade e intensificação.” E elogiou: “A nossa agricultura é baseada em ciência, conhecimento e informação.” Algumas das contribuições dessas pesquisas, exemplificou, estão na “fertilidade construída”, transformar solos ácidos e pobres para o cultivo de soja, como é o caso do Cerrado; ou a fixação biológica no nitrogênio.

A sustentabilidade da agricultura brasileira, de acordo com Cruvinel, também está no uso intensivo de matriz energética limpa. “Somos o melhor no mundo na utilização de energias renováveis, com 47,3%; sendo que no restante do mundo esse índice é de apenas 18,6%.”

Agricultura 4.0
O Brasil, assim como outros países, informou Cruvinel, caminha para a “agricultura 4.0”. Traçando uma linha do tempo com as “forças de influência” no meio rural, ele discorreu sobre quatro grandes “marcos”: “Em 1782, e durante 200 anos, tivemos a introdução da produção mecânica movida à água e vapor; em 1913, ganhou-se a mobilidade com a industrialização; em 1954, tivemos a automação eletrônica; e vivemos, a partir de 2015, o momento com a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e a automação inteligente, baseada em sistemas de produção ciber-físicos.” A era das tecnologias da informação está presente no campo brasileiro, hoje, com o uso de drones (veículos aéreos não tripulados) para mapeamento e análise da cobertura vegetal e outras características, banco de dados espacial, sensores, controle e automação avançadas entre outras ações.

Apesar do bom desempenho da agricultura brasileira, o pesquisador da Embrapa disse que o País, assim mesmo precisa ser rápido em ações e políticas públicas que intensifiquem uma maior integração entre governos, universidades e instituições de pesquisas e o setor produtivo. Nesse sentido, ele salientou a necessidade de se pensar em alternativas realmente sustentáveis, como, por exemplo, a “verticalização da agricultura para reduzir o crescimento horizontal por novas áreas de cultivo”. “Está aí um bom desafio para a pesquisa e a engenharia.”

Andar em grupo
Luiz Antonio Pinazza (foto à dir.), consultor técnico da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), iniciou sua prelação citando ditado africano que diz que “quando a gente quer acertar a gente anda em grupo”, referindo-se sobre o acerto da FNE de criar o movimento “Engenharia Unida”. Na sequência, falou sobre o merecido reconhecimento, por parte da sociedade brasileira, dos avanços alcançados pela agricultura do País. O que fez mudar e melhorar o conceito de segurança alimentar, passando da mera quantidade – produzir mais arroz, trigo e milho, por exemplo – para a questão nutricional, onde o foco é o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida, “em tudo isso precisamos de muita pesquisa, conhecimento, tecnologia e inovação”. Ele lembrou que produtos como o café e o açúcar, originários de outras regiões do mundo, foram tropicalizados. “O que exigiu muita tecnologia e inovação.”

Ele não tem dúvida de que o País será a segurança alimentar do mundo, “vale dizer que isso significa paz”, observou. “Não é uma questão de ser otimista ou pessimista, mas temos uma projeção espetacular no mundo. O Brasil começa a ter protagonismo no cenário agrícola internacional. De quem depende, nesse sentido, a China e a Índia? Da nossa produção.” Aliado a isso, temos a nosso favor as boas práticas agrícolas, assegurou Pinazza, como a utilização de energia renovável no campo. “O que vale dizer garantir a vida das gerações futuras”, preocupa-se.

Todavia, se o Brasil surpreende o mundo com a produção de cerca de 250 milhões de toneladas de grãos, como observou, por outro lado o País sofre por questões de logística, como de locais para armazenamento da produção e de infraestrutura eficiente e eficaz para o escoamento das safras. Esses são os gargalos, do ponto de vista de Pinazza, que precisam ser resolvidos o quanto antes. “Assim como temos de identificar as nossas oportunidades, e é o que estamos fazendo com muita pesquisa e ciência, precisamos fazer o mesmo com a parte logística”, defendeu.

A atividade teve a coordenação de Fernando Palmezan, do projeto “Cresce Brasil”, que, ao final, observou que o próximo passo é “fazer com que todos os brasileiros tenham acesso aos alimentos” produzidos pelo País.


Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP

 

 

 

 

 

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