João Guilherme Vargas Netto*
Configura-se hoje no movimento sindical o desenvolvimento de duas linhas diferentes. Nada impede que elas sejam convergentes e todo o esforço possível deve ser feito para que não se transformem em divergentes.
A primeira linha que conta com a maioria do movimento sindical e de suas bases enfrenta os efeitos da deforma trabalhista e a desorganização das relações do trabalho e dos sindicatos com ações unidas de resistência e ampla mobilização nas campanhas salariais em curso. Não acalenta ilusões e sabe que a luta é difícil.
Ela tem se afirmado com a iniciativa dos metalúrgicos de organizarem um calendário de lutas e a convocação de uma plenária nacional, já ampliada com a participação de muitas outras categorias. Na terça-feira, dia 22, a grande reunião realizada na sede do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo confirmou o cronograma que terá o seu esquenta com a distribuição coordenada do boletim produzido coletivamente pelas entidades iniciadoras do movimento.
Desta linha fazem parte outros pontos expressivos, como a plenária das centrais sindicais para organizar as campanhas salariais, a plenária da Frente Nacional do Trabalho, a posse da nova diretoria dos metalúrgicos e o aniversário do sindicato dos eletricitários, ambos de São Paulo e muitos outros eventos.
A outra linha, que encarna os anseios produtivistas dos trabalhadores, materializou-se na reunião realizada, também na terça-feira, na Fiesp entre a delegação empresarial e as delegações das centrais sindicais reconhecidas (exceto a CUT).
Estava em pauta a retomada do desenvolvimento econômico e a geração de empregos, com inúmeras reivindicações comuns dos trabalhadores e dos empresários (uma pauta circunstancial que encarnava uma versão mitigada do Compromisso pelo Desenvolvimento de 2015).
Mas a condução dada ao encontro pelo anfitrião foi a pior possível, já que empresários se esmeraram em defender a deforma trabalhista e não reconheceram o papel negativo do governo Temer em todos os temas tratados. Acalentam ilusões, visam benefícios corporativos imediatos ou querem tirar castanha do fogo com a mão do gato.
A comunicação eletrônica da Fiesp apressou-se a alardear que “com empresários e trabalhadores Skaf leva a Temer proposta para acelerar a retomada do crescimento” (que retomada, cara pálida?).
Esta reunião, fraudada em seu objetivo maior – a pauta produtivista com indicação precisa de seus adversário e obstáculos – foi um verdadeiro tiro no pé, assombrada, além disto, pelo fantasma da prometida medida provisória sobre recursos sindicais (sobre a qual ninguém falou).
Há tempo de corrigir o erro. As centrais sindicais não devem endossar o encaminhamento dado ao encontro por Skaf e muito menos servir de escada para suas pretensões politiqueiras e as do governo que ele defende e nos agride.
* Consultor sindical