João Guilherme Vargas Netto*
Depois que a procuradoria do Trabalho no Rio Grande do Norte abriu uma ação contra o grupo Guararapes responsabilizando-o pelas péssimas condições das terceirizações que ele pratica e impondo uma multa de 38 milhões de reais (parte de seu lucro com estas terceirizações), o mundo das relações de trabalho em terras potiguares veio abaixo. Mas não só lá.
O presidente da Riachuelo, que faz parte do grupo, acionou os bons ofícios de seus assessores de imprensa e obteve uma página inteira de entrevista na Folha e um artigo assinado no Globo. Em ambos os casos uma só cantilena, a criação de empregos ameaçados pela procuradora e um só alvo, a própria procuradora que encabeça a ação.
Para demonstrar que não estavam brincando os dirigentes do grupo e os deputados que o apoiam (entre eles o famigerado Rogério Marinho) organizaram uma concentração monstro na sede regional da procuradoria, “convocando” a participarem os microempresários das facções e os trabalhadores, para quem foram oferecidos ônibus para o transporte. O terremoto nas relações do trabalho em prejuízo dos microempresários e dos trabalhadores que jazem nos escombros obriga os que vão morrer a apoiarem os seus algozes.
Em toda a manifestação agressiva do grupo Guararapes e da Riachuelo comparece com ênfase a defesa das leis da terceirização e da deforma trabalhista, como garantidoras do descalabro agora denunciado pelo MPT e que vinha sendo objeto de centenas de ações individuais dos trabalhadores prejudicados.
Embora o conflito seja feroz no Rio Grande do Norte seus desdobramentos e efeitos assolam todo o país (sirvam de exemplos as matérias citadas em dois grandes jornais). O movimento sindical, infelizmente, tem permanecido em obsequioso silêncio, dada a relevância do assunto.
Mesmo levando-se em conta a relativa fragilidade local dos sindicatos e dos trabalhadores (presos nas malhas cerradas do poder empresarial oligárquico e da ideologia reacionária) é incompreensível que as direções nacionais do movimento não percebam do que se trata (a validação das leis celeradas) e não se posicionem em defesa da iniciativa do MPT, solidarizando-se com a corajosa procuradora e execrando o papel nefasto do deputado Rogério Marinho, algoz dos trabalhadores.
Espero que na plenária do dia 29, no CMTC Clube, haja moções firmes de apoio (à procuradora) e de execração (do deputado).
* Consultor sindical