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15/02/2018

Opinião – Empobrecidos

Antonio Ferro*

Vivemos um momento significante de empobrecimento. Não falo apenas do financeiro que, por uma crise aguda e irresponsável, nos deixou em uma situação de aperto.

O que quero destacar é o fato da pobreza que ultrapassa os limites das cifras, corroborando com nossas fraquezas que impactam no modo de viver da população.

Estamos sentindo na pele todo o descuido promovido pela falta de interesse em certos setores de nossa sociedade, a começar pela deriva dos serviços públicos, nos abandonando à própria sorte. A rotina do conformismo e dos pensamentos simplistas têm nos levado a indicadores nada otimistas em nosso crescimento.

Vivemos a pobreza na política por que nos afastamos de um sistema falido, arcaico e comprometido com inidoneidade, sem cobrar com seriedade a verdadeira função da gestão pública, o que resultou no que estamos presenciando em todos os fatos negativos.

Empobrecidos estamos na forma como encaramos a cultura, a busca pelo conhecimento e evolução para podermos nos tornar cidadãos dignos de uma responsabilidade para com o Brasil, que padece pela nossa ausência frente às importantes questões que dão o tom ao cotidiano. Empobrecidos pela ausência do Estado nas questões de saúde, segurança e educação.

Empobrecimento é uma palavra que também acompanha os sistemas de transportes nosso de cada dia, calcado na ineficiência, carência de gestão e imobilidade.

Não é só pelos bolsos vazios, mas também por cabeças ocas que não estamos vendo perspectivas positivas de crescimento e avanço. O modelo de deslocamento urbano das grandes cidades se enveredou por caminhos cada vez mais longos e tortuosos, aspecto que faz das pessoas reféns da mobilidade motorizada. O resultado todos conhecemos: congestionamentos, poluição, perda de tempo e qualidade de vida.

Pobre ônibus urbano que luta para cumprir com sua finalidade em um rico cenário dominado pela individualidade e irracionalidade oriundas da falta de planejamento e compromisso das gestões públicas. Pobre sistema operacional que não é incentivado a ter conceitos que contribuam com o desenvolvimento sustentável das cidades e o aperfeiçoamento do deslocamento.

Se hoje a pobreza predomina, em todos os sentidos, que dirá do amanhã se continuarmos não investindo em fatores chaves para o nosso desenvolvimento, entre esses a mobilidade e a qualificação do transporte público. Nossa situação de movimento será ainda mais paupérrima e de nada adiantará um automóvel abundante de tecnologia e caro, se estivermos presos a uma condição de igualdade (vias congestionadas) a outros cidadãos que também buscam chegar aos seus destinos nas mesmas vias cruzadas.

Qualificar o transporte público e os serviços de ônibus é uma maneira de enriquecer a capacidade de transformação urbana, para melhor. E o aumento da inteligência e da sabedoria nos permitirá sair desse estado de letargia de ideias, planos e visão de futuro.


* Editor chefe da revista AutoBus

 

 

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