Lançado nesta terça (18), movimento articula trabalhadores, empresários e intelectuais na defesa de um Brasil com maior crescimento e oportunidades para a sua população.
Pelo fim dos juros altos no Brasil Com o objetivo de combater as altas taxas de juros praticadas no País, de modo a fomentar uma economia com maior competitividade e geração de emprego, foi lançado na quinta-feira, 18 de outubro, em São Paulo, o manifesto “Movimento por um Brasil com juros baixos: mais emprego e maior produção”.
Promovida pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Força Sindical e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e do ABC, a campanha tem o apoio de inúmeras entidades patronais e de trabalhadores, entre elas, a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), com a assinatura de seu presidente, Murilo Pinheiro, no manifesto.
O evento contou com a participação de centenas de trabalhadores, lideranças sindicais e economistas, como o professor-doutor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas), Marcio Pochmann, que falou sobre a importância do movimento. “Essa é uma caminhada pela superação do subdesenvolvimento brasileiro. Podemos estar entre as cinco economias mais ricas do mundo até 2015 e possivelmente superar uma das principais mazelas do País que é a miséria. Temos ainda 16 milhões de brasileiros que vivem com R$ 2 por dia. Portanto, esse manifesto representa o compromisso com o novo Brasil, que deve ser ocupado pela produção e emprego”, destacou.
Conforme ele, tecnicamente não há justificativa para que a nação tenha taxas de juros tão altas. “Precisamos seguir a trajetória que foi feita nos últimos anos e permitir que essa massa de recursos que está no sistema financeiro improdutiva possa caminhar para os investimentos produtivos”, propôs Pochmann.
Na visão de Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), essa aliança entre o empresariado, os trabalhadores e a academia é um passo importante para trazer uma grande mudança no foco do governo, que deve privilegiar o emprego e a produção nacional. “Esse movimento mostra que a sociedade fará a ruptura do modelo antigo para o novo”, acredita.
Para Vagner Freitas, secretário nacional de administração e finanças da CUT, é fundamental regulamentar o sistema financeiro nacional para que haja condições de crescimento cada dia maior com distribuição de renda.
Já o presidente da Força Sindical e deputado federal (PDT), Paulo Pereira da Silva, sugeriu que o movimento cresça por todo o País e mostre a insatisfação dos trabalhadores e do empresariado brasileiro a cada 45 dias, quando ocorre a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).“Somos campeões de juros altos há 16 anos, e com isso o Brasil não cresce e nem se desenvolve. Essa união de centrais sindicais, trabalhadores e empresários é para dizer que não aguentamos mais esta situação”, ressaltou.Paulo Skaf, presidente da Fiesp, reforçou que o País necessita de juros mais baixos e de menos especulação. “Neste ano serão pagos R$ 250 bilhões de juros, nos últimos cinco anos se pagou mais de R$ 1 trilhão. O que Brasil precisa, de fato, é de dinheiro investido na produção, na geração de emprego, no desenvolvimento, e não ficar pagando para especuladores os juros mais altos do mundo como tem sido feito por 16 anos seguidos”, destacou.
Também participaram da mesa de abertura Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq; Antonio Correa Lacerda, professor-doutor do Departamento de economia da PUC-SP; Sérgio Nobre, Presidente do Sindicato dos Metalurgicos do ABC; Tadeu Morais de Sousa, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes; Wagner Gomes, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil); João Guilherme Ometto, vice-presidente da Fiesp; Ubiraci Oliveira, da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil); e Gláucia Morelli, presidenta da Confederação das Mulheres do Brasil.
Manifestação
Após o lançamento, centenas de trabalhadores e empresários realizaram uma passeata até a sede do Banco Central, na Avenida Paulista, local onde é realizada a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que define a cada 45 dias a nova taxa Selic. Com carro som e inúmeras faixas, o movimento reivindicou taxas de juros mais justas para acelerar e sustentar o crescimento nacional, com mais justiça social e melhor distribuição de renda.
Leia abaixo a íntegra do manifesto. Para aderir ao movimento acesse o site www.brasilcomjurosbaixos.com.br.
MOVIMENTO POR UM BRASIL COM JUROS BAIXOS: MAIS EMPREGOS E MAIOR PRODUÇÃO
O Brasil é um caso único na história econômica de prática de taxa de juros reais de dois dígitos por 16 anos seguidos, de 1991 a 2006. Por conta disso, quando a economia mundial crescia 4,5% e os emergentes entre 7% e 8% ao ano, nosso crescimento ficava na média de 3%.
No final de 2008, com a crise econômica que se abateu sobre o mundo, os países centrais logo reduziram as taxas de juros para próximo de zero, o Brasil, que estava no início de um processo de aumento de juros após ter atingido o mínimo de 11,25%, agiu na contramão do mundo e manteve a taxa em 13,75% a.a. O BC só foi reduzir a taxa em janeiro, 4 meses depois da crise abater sobre o mundo trazendo uma contração na produção industrial brasileira de mais de 20%.
Um país como o Brasil, com urgente necessidade de crescer e se desenvolver, não pode se dar ao luxo de transferir enormes volumes de capital na forma de renda improdutiva. Capitais especulativos afluem ao nosso sistema financeiro buscando rentabilidade que nenhum outro país oferece. Cerca de 36% do Orçamento Geral da União são destinados ao pagamento de encargos da dívida, recursos estes que poderiam atender as enormes carências de infraestrutura, saúde, transporte, telecomunicações, educação, saneamento etc. Os altos juros não consomem apenas recursos públicos, pelo contrário, espalham para toda a economia o alto custo do crédito fomentando o comportamento rentista e improdutivo, corroendo o poder de compra das famílias e drenando recursos do setor produtivo.
A crise de 2008/9 não passou. Europa, Estados Unidos e Japão são testemunhas de que ainda não se encontrou, sequer, um caminho de consenso que faça a atividade econômica retornar ao curso normal. Mesmo a China, responsável pelo crescimento da economia mundial nos últimos anos, está reduzindo seu ritmo de atividade.
Com o cenário internacional precário e incerto, a redução dos preços das commodities e com uma projeção de crescimento do PIB em torno de 3,5%, não há porque temer a inflação. Além disso, com o aumento das metas fiscais, o governo sinaliza para um déficit nominal zero, alterando as expectativas futuras dos agentes econômicos, abrindo mais uma oportunidade de redução das taxas de juros.
Dado o quadro de incertezas que nos cerca, passou da hora de caminharmos para taxas de juros mais próximas ao padrão internacional. Menor taxa de juros implica em menor entrada de capitais especulativos, câmbio mais realista e competitivo, redução do custo de oportunidade do capital, maior equilíbrio das contas públicas e maior renda para as famílias.
O COPOM, em sua última reunião em 31 de agosto, iniciou processo de redução da taxa de juros SELIC. Acreditamos que reduções adicionais dos juros darão ao país a oportunidade de iniciar um movimento de combate a crise, apoiado na maior competitividade de nossas exportações e no dinamismo de nosso mercado interno. Assim, a redução da taxa de básica de juros aliada a uma política industrial ativa e realista são fundamentais para preservarmos postos de trabalho e continuarmos a crescer com mais emprego e renda.
E é na defesa da redução dos juros, que lançamos este Movimento por um Brasil com juros baixos, que articulando trabalhadores, empresários e intelectuais tem o firme propósito de contribuir com o governo e com outros setores da sociedade na defesa de um Brasil com maior crescimento e oportunidades para a sua população.
Assinam este Manifesto todos os interessados, que autorizam a publicação de sua adesão e esperam que este Movimento seja levado ao conhecimento das autoridades competentes.