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12/03/2019

SEESP prepara seminário sobre construção e manutenção de obras

Deborah Moreira

Dezenas de profissionais da engenharia e representantes de entidades civis e do poder público se reuniram na manhã de terça-feira (12/3) na sede do SEESP na “Reunião preparatória do seminário sobre construção e manutenção de obras” que debateu estratégias e formas de inspecionar obras e equipamentos de interesse público. O objetivo do encontro foi reunir elementos para organizar o evento previsto para ocorrer em abril para dar uma resposta a sociedade sobre os diversos eventos ocorridos recentemente que envolvem a engenharia.

 


Foto: Beatriz Arruda/Comunicação SEESP

reuniao prep seesp site



Ainda sem uma data fechada, a proposta inicial é que o seminário tenha três grandes eixos: obras de arte, barragens e infraestrutura das cidades. Este último debateria temas urgentes que estão vindo à tona como a manutenção das pontes e viadutos, depois do viaduto que cedeu na Marginal Pinheiros, e o sistema de drenagem das vias subterrâneas. A reunião ocorre um dia após a população da Grande São Paulo ter vivido momentos de caos devido a uma forte chuva que deixou diversos bairros debaixo d’água e matou 13 pessoas.

Durante a abertura dos trabalhos, Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, sugeriu a criação de uma secretaria de manutenção “seja na prefeitura, no estado, em nível federal, poderia ser criada a Secretaria Nacional de Manutenção, onde os profissionais pudessem periodicamente inspecionar, com um ckeck-list, as condições físicas dos equipamentos”.

“É fundamental que façamos uma discussão, fazer uma linha de ajuda, de proposição para combater essas questões que estão surgindo. É impossível nos calarmos diante desses fatos”, disse Murilo, referindo-se à culpabilização dos profissionais de engenharia.

Outro ponto colocado por diversos profissionais presentes é a qualidade do ensino nas faculdades de engenharia. "Temos que ir no fulcro da questão, onde está o problema que é a qualidade do ensino da engenharia. De nada adiantará se não trabalharmos para a valorização do ensino. Está muito ruim. Nós que atuamos na pós-graduação estamos vendo que os alunos mal conhecem os fundamentos da engenharia”, lamentou Leonídio Ribeiro, diretor do SEESP e responsável pela idealização e coordenação de cursos de pós-graduação e extensão em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Paulista (Unip).

Frederico Okabayashi, engenheiro da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), lamentou que os novos profissionais não sabem projetar soluções simples como um muro: “O pessoal está falando das pontes e viadutos, mas temos muros de arrimo que estão caindo direto. O nosso pessoal não sabe projetar nenhum um muro de arrimo dois metros de altura. Porque não sabe fazer o cálculo do sistema de drenagem, não sabem o que é lençol freático, não têm noção do que é sondagem”.

Ele alertou que não existe interesse pela manutenção das obras, que os profissionais querem atuar em novas obras, e que não há documentação oficial dos projetos de engenharia.  “Não temos projetos em arquivo ou digitalizados. O problema não são só as pontes e viadutos, o problema são todas as estruturas da cidade. O que tínhamos na década de 1980 perdemos tudo. Então, para começar a pensar na criação de uma secretaria de  engenharia de manutenção tem que começar inclusive em projeto arquitetônico sustentável já que é baixo custo e facilita a reposição de peças. Temos muitas dificuldades com reposição de peças”.

Ele citou ainda que há um problema muito sério com taludes com erosões em diversos pontos da cidade e muitos problemas nos parques. Ele lembrou que dois lagos se romperam nos parques da Aclimação e do Carmo porque o sistema de retedouro atingiu a vida útil. "Logo, logo vamos ter o do Ibirapuera. Imagina a confusão que vai dar”.

Atualmente, a Prefeitura conta somente com 500 engenheiros para dar conta de todas as obras e manutenção na cidade.

Outro ponto colocado, por diversos engenheiros presentes, como fundamental na valorização da engenharia é a aprovação do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional que torna a engenharia carreira de estado, que incentiva a criação de um corpo técnico permanente e forte, na engenharia pública.

José Augusto, engenheiro da CPTM, lembrou que a década de 1980, os profissionais da engenharia vêm alertando sobre o blackout da drenagem que iria ocorrer nos anos 2000. “Já estamos com 10% a mais, já que estamos em 2019. O que está acontecendo já era previsto porque as autoridades públicas não executariam essas obras de manutenção, uma vez que são obras que não dão visibilidade, ficam debaixo da terra. E estamos atingindo o blackout em várias áreas como limpeza pública, no transporte.     

O vereador Gilberto Natalini (PV) parabenizou a iniciativa por representar o sentimento generalizado da cidade “e acho que até do País. Porque o Brasil abandonou a cultura da manutenção. Faz muito tempo que a política de manutenção está em segundo plano”.  

“Presenciei uma discussão muito enriquecedora e se falou inclusive da importância de se prever verba para tudo isso no orçamento público. E o orçamento público caminha para onde a pressão é maior. Então a pressão social, da população e das instituições é fundamental”, acrescentou.

Ao final, Murilo lembrou que é importante retomar o protagonismo da engenharia brasileira e discutir com a sociedade essas questões de forma mais série e do ponto de vista técnico e não simplesmente do ponto de vista judicial, querendo encontrar culpados, quem se beneficiou financeiramente, sem se aprofundar para buscar soluções.

“Devemos obrigações e temos responsabilidades com a sociedade. Temos que apresentar propostas, discutir soluções e participar efetivamente das questões sociais. Acredito que essa iniciativa é um caminho para isso”, enfatizou.



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Comentários  
# arquitetaSilvana Maria Santop 14-03-2019 11:23
olá, vcs não poderiam incluir a manutenção de edifícios - sobretudo públicos - no tema de construção/manu tenção de obras? sou arquiteta da secretaria de cultura da PMSP e temos problemas enormes com a manutenção dos prédios um pouco mais complexos como teatros e centros culturais. Vale dizer que os engenheiros das empresas que ganham as licitações também tem pouco preparo.
grata
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