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31/10/2011

Insatisfação mundial

        A vida imita a arte. A máscara usada pelo personagem de quadrinhos inspirado no revolucionário inglês Guy Fawkes e popularizada pelo filme V de Vingança se tornou símbolo das manifestações. Imagem do anarquista alia o anonimato individual com coesão popular.

        A reunião, esta semana, dos líderes do G-20 — grupo das 20 maiores economias do planeta —em Cannes, litoral sul da França, é o próximo alvo da crescente onda internacional de protestos contra os impactos sociais da crise econômica. De hoje até a próxima sexta-feira, encerramento da cúpula, dezenas de organizações civis independentes e partidos políticos prometem realizar série de eventos.

        O destaque dessa programação divulgada por redes sociais na internet, como Facebook e Twitter, será uma "grande manifestação internacional", amanhã, em Nice, cidade vizinha a Cannes, na qual são aguardados pelo menos 15 mil manifestantes, segundo os organizadores. O aeorporto local é onde a maioria das comitivas dos governantes deverá desembarcar.

        A ONG francesa Associação pela Taxação das Transações Financeiras (Attac) informa que manifestantes chegarão de diversos pontos do país e do exterior, sobretudo da Itália e da Espanha. Um grupo que se preparava para realizar marcha até Atenas decidiu fazer escala em Nice, justamente para coincidir com a ação contra o G20, que reunirá seus líderes nos dias 3 e 4.

        Apesar das concentrações de rua já terem se tornado uma tradição nas cúpulas do G-20, dominadas por um fortíssimo esquema de segurança para isolar chefes de governo e Estado, os deste ano são resultantes de outro contexto, sustentados pelos indignados com as taxas recordes de desemprego, sobretudo nos Estados Unidos, e as perdas de benefícios sociais históricos, mais sentidos na Europa.

        Esses movimentos populares vêm se replicando desde 17 de setembro, com a deflagração do Ocupe Wall Street, em Nova York, protesto organizado contra o socorro ao setor financeiro e que se espalhou por diversas cidades norte-americanas e inspirou outro igual em Londres. Antes da escalada que já chegou a Berlim e a Hong Kong, milhares de estudantes, grevistas e simpatizantes faziam passeatas e acampamentos na Espanha e na França. O retrato mais violento está na Grécia, protagonista da crise fiscal europeia e já pressionada por metas de austeridade.

        Segundo cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as turbulências já desempregaram mais de 200 milhões de pessoas desde 2008, sobretudo nos EUA, onde as desigualdades sociais disparam — desde 1979, enquanto a renda do 1% mais rico da população saltou 250%, a dos 20% mais o pobres cresceu apenas 18%. No geral, o que mais assusta é a falta de perspectivas de recuperação econômica. "Prognósticos que apontam uma década perdida na Europa amplia o desalento dos jovens", comentou um diplomata europeu ao Correio.

        Carlos Zarco Mera, diretor da Oxfam, agência humanitária britânica com representação no Brasil e em outros 14 países, defende uma análise mais ampla da crise e a constituição de um fundo internacional para combater a pobreza e mudanças climáticas. "Uma em cada sete pessoas no mundo passa fome, e a situação da economia global vai agravar esse quadro", sublinhou.

        Iara Pietrocovsky, da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais, afirma que sua entidade não considera o G-20 uma instância legítima para deliberar sobre a agenda mundial, mas reconhece que o grupo acaba tendo imenso poder de influência. Ela cobra ainda mais transparência sobre as posições defendidas pelo Brasil nesses espaços. 


(Silvio Ribas, Correio Braziliense)
www.cntu.org.br


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