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04/11/2011

Política de juros altos é insustentável

        Um dos autores do manifesto “Movimento por um Brasil com juros baixos: mais emprego e maior produção”,lançado em 18 de outubro, em São Paulo, o economista Antonio Corrêa de Lacerda, falou sobre o tema em palestra à diretoria da CNTU, no dia 20, em Porto Alegre. 

        Conforme ele, a economia global vive a segunda parte da crise de especulação financeira iniciada nos Estados Unidos em 2008, não solucionada totalmente. Como consequência, especialmente os países centrais deverão ter crescimento muito baixo e há risco de recessão.

        Esses destinos, ainda segundo sua explanação, têm baixado substancialmente os juros, com o objetivo de tentar recuperar o consumo e incentivar o investimento produtivo. “E o FED (Banco Central estadunidense) já avisou que não pretende, nos próximos dois anos, mexer na taxa de juros.” Ele continuou: “Isso tem grandes implicações para a economia mundial, porque a especulação financeira não fica parada. Se não está dando rentabilidade lá, vai para países que pagam taxas altas. Isso desequilibrado, é um fluxo de capital enorme que entra, sai e afeta taxa de câmbio, balanço de pagamentos.” O Brasil, não obstante o Banco Central nos últimos meses venha baixando juros, ainda continua com índices dos mais elevados, na casa dos dois dígitos (11,5% ao ano). E, na contramão do que vem sendo feito no mundo, a inflação tem sido usada como desculpa para não mudar essa situação. “No ano passado, seu déficit foi de 2,5% do PIB, o superávit, quase 3% e foram pagos 5,3% de juros (220 bilhões de reais) para financiar sua dívida.” Nesse panorama, mantém-se atrativo ao capital especulativo, como elucidou o professor. “Nos últimos anos, melhorou o nível de risco-País. No entanto, na questão da taxa de juros, no longo prazo, só perde para a Grécia”, acrescentou Lacerda.

        Na sua ótica, o Brasil só não quebrou porque tem carga tributária bastante elevada, principal-mente sobre o trabalho e a produção. A especulação, por outro lado, que se beneficia das altas taxas de juros, paga muito pouco imposto. “É uma grande distorção.” Na linha do movimento lançado em São Paulo, o professor é categórico: “O ajuste que tem que ser feito aqui não é diminuir o gasto social, mas o feito com juros.” Na sua concepção, é fundamental dar conta desse desafio – além de conter o processo de desindustrialização em curso e garantir sua competitividade, rever o papel do País como exportador de commodities e solucionar o problema do câmbio desvalorizado.

        Caso isso não ocorra, não será possível ter uma trajetória sustentável de crescimento nacional, com distribuição de renda e qualidade de vida. A despeito de ter reservas de R$ 352 bilhões, o Brasil que faz a alegria dos especuladores está muito vulnerável à conjutura internacional. “Crescendo com esse modelo, está-se apenas adiando o problema. A grande questão que se coloca ao movimento sindical é como pressionar para o País sair dessa armadilha.” A campanha por juros baixos segue nessa direção. 



Rita Casaro
www.fne.org.br




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