Deborah Moreira
Comunicação SEESP
O Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) completou nesta semana 120 anos - em 24 de junho. Sua história pode ser contada a partir do desenvolvimento da metrópole onde está instalado, São Paulo, cuja evolução demanda tecnologia e inovação. Neste ano, o órgão, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, abrirá suas portas para a iniciativa privada como startups, corporações, centros de pesquisa e instituições de ensino como Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Universidade de São Paulo (USP), onde está localizado o instituto.
Fotos: Divulgação IPT
Foto da fachada do IPT registrada por Antonio Saggese.
Trata-se do IPT Open, que pretende criar um conglomerado de empresas e laboratórios com estrutura adequada para o desenvolvimento de pesquisas e protótipos, tendo como inspiração o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Nas próximas semanas o governo anunciou na imprensa que lançará edital para ocupar o primeiro andar do prédio principal, com 2700 metros quadrados, atraindo investimento de R$ 15 milhões. Para o engenheiro mecânico Jefferson Gomes, que se tornou diretor-presidente do local em janeiro passado, é uma oportunidade única do País dar um salto tecnológico.
“Por determinação do governador do estado, vamos fazer com que empresas startups, junto com grandes corporações, desenvolvam seus produtos dento do IPT, o que denominamos de local para hardtech. Faremos chamamento para empresas se instalem e assim abrir para todas as matrizes de conhecimento necessário para uma economia ser impulsionada. Para se ter uma ideia, circula atualmente pelo IPT aproximadamente R$ 260 milhões de reais, ao ano, em projetos”, explica Gomes ao SEESP.
Ainda de acordo com ele, o objetivo é fazer com que esse espaço seja compartilhado e gire recursos em torno de R$ 1 bi em função dos negócios. Isso tudo amparado pela Lei da Inovação (13.243), que permite o uso de estrutura e laboratórios públicos por empresas privadas. "Nossa expectativa é muito positiva”, exalta Gomes, lembrando que o objetivo do IPT não é reter o capital e sim retorná-lo à sociedade por meio de inovação.
A geógrafa e pesquisadora do instituto, Ros Mari Zenha, também representante dos profissionais no Conselho de Administração do IPT e membro do Conselho Tecnológico do SEESP e do Conselho Consultivo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), a qual o SEESP integra por meio da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), lembra que a missão do local é justamente apoiar o setor produtivo – público e privado – “dando suporte tecnológico à concepção e execução de políticas públicas”.
Em sua visão, para continuar existindo enquanto instituição pública de pesquisas, precisará enfrentar desafios importantes como a garantia de recursos e a ampliação da massa crítica do Instituto por concursos públicos periódicos, contando com a transferência de conhecimentos dos profissionais mais experientes para os novos, nas áreas tradicionais e em novas frentes.
Localização estratégica
Jefferson Gomes dá detalhes da localização do instituto, que colabora para conectar as empresas de tecnologia e gerar ambiente propício para o surgimento de novos unicórnios, como são conhecidas as startups de tecnologia vendidas por 1 bilhão de dólares: “Estamos no Jaguaré, que compreende o Ceagesp, ao lado das avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini, onde está o PIB brasileiro, chegando em Moema, onde temos cerca de 40% das empresas startups de base tecnológicas do País. Do outro lado do rio, você chega no Butantã, no Ipem, e no IPT. Nesse meio, existe a USP. Num raio de 100 quilômetros, ainda, encontram-se a Unicamp, Unesp, UFABC, ITA, além das privadas Insper, Mackenzie, Mauá, um conjunto de conhecimento e negócios muito importante”.
O IPT se consolidou como órgão de apoio por ter gerado soluções para o desenvolvimento dos grandes centros urbanos, seja na construção de arranha céus, nas soluções ligadas ao saneamento básico ou na resolução das mazelas que surgem com o crescimento desordenado com habitações, como mapeamentos de áreas de risco de deslizamento, pontes e viadutos que caem.
“O tempo foi passando, a cidade se tornando cada vez mais pujante, sendo a quarta metrópole, começa a ser um elemento ímpar no planeta na questão da genética, onde o IPT também está presente, assim como na área de biotecnologia, nanotecnologia, micromanufatura, e assim o IPT vai se consolidando até que nos dias atuais”, ressalta.
Na área governamental, o IPT tem atuado como um coadjuvante importante na melhorias dos equipamentos públicos e na defesa civil. Nesse setor, a geógrafa enfatiza que é imprescindível definir políticas do Poder Executivo e Legislativo que induzam as Secretarias de Estado a utilizar os serviços do IPT com a finalidade de qualificar tecnicamente as políticas públicas de diferentes área. Nos últimos 15 anos, foram mais de 100 projetos com a Petrobras, de capital misto.
Na iniciativa privada, é hoje uma das principais unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) – com 63 projetos com empresas viabilizados pelos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Educação (MEC). “Então, ele vai aprendendo a existir conforme as demandas vão surgindo. Por isso vai mudando de área. Agora, por exemplo, trabalha no desenvolvimento de baterias, novos materiais avançados, internet das coisas, temáticas que as grandes cidades e países estão cobrando”, acrescenta.
Outras áreas que o instituto dá sua contribuição: indústrias metalúrgica, siderúrgica, aeronáutica e naval, estudos em combustíveis e inundações nos municípios, entre outros.
Cresce Brasil
Recentemente, o IPT contribuiu com o Projeto Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento – Engenharia de Manutenção”, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), a qual o SEESP integra, com uma nota técnica sobre pontes e viadutos, assinada por Ciro José Araújo, chefe da seção de Engenharia de Estruturas. Nesse sentido, constam nos novos planos uma frente para melhorar o atendimento aos municípios, junto com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O objetivo vai de encontro com o da Federação, que é atuar na prevenção de acidentes.
Além dos projetos tradicionais com a Embrapii e com grandes corporações, iniciará em breve dois grandes projetos. Um deles para o Fórum Econômico Mundial, para atender pequenas e médias empresas paulistas, com um estudo de maturidade para a aplicação analytics, que consiste em análise de Informações com aplicação de conhecimentos específicos, utilizando bancos de dados, mas também a aplicação de questionário e, a partir das respostas geradas, estabelecer ações que melhorem quesitos de produtividade das corporações. Segundo Gomes, o objetivo é chegar ao final do ano 2020 atendendo 3 mil empresas.
Já o Rota 2030 está voltado para o setor automotivo e, dentro dele o setor de ferramenteiros, para empresas que produzem peças únicas, que servirão de moldes de matrizes para a indústria. O IPT vai coordenar uma grande rede nacional de pesquisa nesse setor que vai incentivar o empreendedorismo, a formação de pessoas e consolidar a indústria 4.0. “Também terá um centro especifico de testes que a gente ainda não faz aqui no Brasil, um investimento feito pelas indústrias automotivas”.
O papel da engenharia
Perguntado sobre a importância da engenharia para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, Jefferson Gomes é categórico: “A engenharia é a espinha dorsal desse processo que descrevi”. Para ele, é impossível pensar em linhas de desenvolvimento, como a hardtech, sem a participação dos engenheiros, seja na engenharia de software, seja em outras especialidades como de petróleo. Por exemplo, na linha de conhecimento de corrosão, como na Petrobras, são precisos equipamentos extremamente resistentes à corrosão.
“Temos uma chance grande e única de criar uma nova engenharia brasileira. Seja por desafios criados pelas empresas, ou problemas baseados na realidade de uma sociedade, um local como o IPT, com essa atmosfera que estamos criando, esperamos uma engenharia composta por pessoas que interessadas em resolver essas questões. Dando as condições específicas necessárias, teremos um outro perfil de engenheiro. Reuniremos engenheiros e engenheiras de grandes corporações, de startups e empresas nascentes. Não dá para pensar em qualquer tipo de situação sem esse arcabouço”, descreve.
Sobre a situação dos profissionais brasileiros que pretendem atuar nessas frentes, mas enfrentam uma situação de crise, com baixa geração de emprego, ele lembra que existe ainda uma mudanças no perfil profissional desejado pelo mercado. "São poucos os lugares em crise que você tem problemas de empregabilidade de engenheiro no mundo. É incrível, esse geralmente é o profissional que mais se precisa. No entanto, em função das tecnologias exponenciais que vemos surgir nos últimos 10 anos, hoje de 3,5 bilhoes na face da terra que têm algum tipo de contrato de trabalho, 1 bilhão já são profissionais que não existiam antes de 2011”.
Em suas palavras, “não se consegue imaginar uma sociedade próspera sem engenheiro." No entanto, "em compensação, passamos por este dilema no Brasil". Para solucionar parte do problema, ele aposta em um programa grande para a requalificação de engenheiros, com ênfase em conhecimento básico. "Em termos práticos, antes fazíamos uma profissão de engenharia para uma vida toda. Hoje, precisamos estudar engenharia uma vida toda para ter uma profissão. Ou seja, é preciso estudar o tempo todo porque o mundo está diferente e o papel do engenheiro hoje passa pela sensibilização dele mesmo”, explica.
Gomes divide a atuação em três pilares: reunir o conhecimento profundo em determinado tema; ter conhecimento em matemática aplicada para análise de dados e conhecimento em programação e sensoriamento para a captura desses dados. “A nova engenharia é uma engenharia disruptiva mesmo. Só que precisa de ambientes como esse que o IPT está criando. Temos condições de fazer isso”.
A pesquisadora Ros Mari Zenha lembra que para manter os jovens talentos, é preciso um plano de carreiras e respectivo aporte de recursos para implantá-lo. Também cita a concessão de bolsas-produtividade; de benefícios indiretos, a exemplo da previdência complementar, da participação nos resultados e outros benefícios sociais como a manutenção e ampliação da creche já existente, além de ações afirmativas de equidade de gênero.
Outro diferencial destacado por Ros Mari Zenha é a ética e transparência corporativa que, para ela, “são o diferencial do IPT”.
História
O Instituto nasceu com o nome de Gabinete de Resistência de Materiais em 1899, e já naquela época auxiliava no crescimento do País, principalmente na área de construção civil. Em 1934, a multidisciplinaridade – com competências em concreto, ferro, madeira e armamentos -, transformou o lugar no Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Hoje, o IPT conta com mais de 30 laboratórios que atuam nos mais diversos setores da sociedade visando maior competitividade no mercado e a melhoria da qualidade de vida da população.