João Guilherme Vargas Netto*
Nestes textos que escrevo sempre evito tratar de política (principalmente política partidária) não porque considere o assunto irrelevante, mas para manter disciplinadamente o foco nas atividades sindicais.
Vou abrir uma exceção, justificada e criticar veementemente a mal intencionada declaração do deputado Eduardo Bolsonaro sobre o AI-5, que mereceu a repulsa de quase todas as forças políticas e da esmagadora maioria das personalidades relevantes. Ditadura, nunca mais!
A nota pública das centrais sindicais (assinada em 31 de outubro por nove presidentes delas) disse tudo o que eu poderia querer dizer e posiciona o movimento sindical dos trabalhadores como um dos componentes da frente democrática, sem abandonar as preocupações relevantes sobre a retomada do desenvolvimento e o emprego.
Mas, devido à gravidade da agressão e à expectativa de uma repulsa unânime não posso deixar de assinalar alguns silêncios inadmissíveis e preocupantes.
Dos personagens atuais do governo (em seus poderes Judiciário e Executivo) ressalto o silêncio do presidente do STF, por definição o guardião-mor da Constituição, do procurador geral, incumbido de zelar pelo bem público e do ministro da Justiça, calado comprometedoramente quando lhe convém.
Destaco também o silêncio do general Villas Boas, sempre disposto a emitir opiniões influentes nas redes sociais e silencioso agora quando deveria se fazer ouvir.
Mas o que me preocupa sobremaneira é o silêncio envergonhado das lideranças empresariais e das instituições que representam as “classes produtoras” que, atoladas pela avalanche de más notícias e iludidas oportunisticamente sobre os rumos que a Economia tomará, não se associaram – com seu silêncio – à onda democrática que se formou contra os arreganhos autoritários do bolsonarismo. Desenvolvimento sem democracia?
*Consultor sindical.