Agência Sindical
A crise brasileira é objeto em movimento. O que estava claro ontem adquire novos contornos e variações. O consultor sindical João Guilherme Vargas Netto escreveu artigo em que orientava sobre como agir na terça-feira (24/3), antes do desastrado pronunciamento do presidente Bolsonaro na noite do mesmo dia.
No entanto, ele observa: “Escrevi o texto 'A hora é agora', com chamamento de união nacional contra a epidemia, alertando para a necessidade de somar esforços das lideranças atuais, na sociedade civil e no Estado, capazes de exercer, em suas áreas de atuação e com suas responsabilidades, um papel ativo.” Seu texto completava: “Os dirigentes sindicais, diretamente vinculados ao mundo do trabalho, têm a imensa responsabilidade de assim agir.”
Sua proposta era a formação de comandos, em todos os níveis de governo e do Estado, para dar combate ao avanço da doença. Porém, o ritmo da contaminação pelo vírus acelerou os acontecimentos, e a nova dinâmica aponta para a necessidade de novas ações e novas frentes.
Vargas Netto explica: “Agora, a necessidade impõe a união nacional para enfrentar o vírus, tirarmos o ‘estorvo’ da frente, vencer o coronavírus e um grande pacto para salvar o Brasil, que chamo de Moncloa, a exemplo do que ocorreu na Espanha no pós-franquismo. Quero dizer que a união nacional que derrotará o coronavírus será a mesma que terá de salvar o Brasil.”
Dicotomia
O consultor sindical observa que a fala do presidente, em rede nacional, estabelece uma dicotomia entre a saúde e a higidez da economia, na linha do pensamento do timoneiro econômico de Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes. Vargas Netto chama atenção: “Essa equação é mercado-doença-povo. Observe que o Estado nem aparece.” O desafio é desmontar essa equação, porque, argumenta Vargas, ela deixa claro que o Estado abandona o idoso à fome e empurra a solução para a família. “Mas a hora agora é de enfrentar a pandemia, gastar na saúde, investir tudo o que for possível na rede pública, no combate ao avanço do coronavírus e vencer a batalha”, ele completa.
Ou seja, mais Estado, mais governo e líderes capazes de mobilizar a sociedade.