Soraya Misleh / Comunicação SEESP
Nesta quarta-feira (27/5) foi realizado ato virtual de lançamento da campanha “Uma Embraer para os brasileiros: reestatização já!”. Iniciativa do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SindmetalSJC), teve a participação de diversos dirigentes de centrais sindicais, lideranças políticas, representantes de entidades de trabalhadores, movimentos populares e sociais. O presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, enviou mensagem em apoio à luta em defesa da companhia nacional, da engenharia e tecnologia brasileiras e da soberania do País.
“É disso que falamos quando discutimos o futuro de uma das mais importantes empresas nacionais, criada pelo Estado brasileiro com investimento público. O Sindicato dos Engenheiros, juntamente com os sindicatos representantes dos trabalhadores da Embraer, lutou contra a sua privatização nos anos 1990. No ano passado, batalhamos contra a sua entrega aos Estados Unidos, transação que tem agora esse desfecho absurdo. É imprescindível preservar esta empresa no Brasil, assim como sua tecnologia essencial ao nosso desenvolvimento e seus milhares de empregos”, enfatizou Pinheiro na mensagem, lida logo à abertura pelo vice-presidente do SindmetalSJC, Herbert Claros da Silva. Este último conduziu o ato, ao lado de Toninho Ferreira, ex-presidente da entidade.
“Toda essa situação de pandemia no mundo impede um ato público na frente dos portões da Embraer. Mas isso não vai impedir as vozes que clamam por um Brasil diferente. Por isso, esse ato virtual, que acontece num momento em que a empresa vive uma das piores crises de sua história, não relacionada de todo com a pandemia. Sabemos da crise mundial da indústria de aviação”, salientou Claros, segundo o qual a situação econômica da Embraer se deve também ao fato de terem sido empregados recursos para sua venda à norte-americana Boeing, ao mesmo tempo em que novos investimentos na companhia deixaram de ser feitos.
Fruto desse acordo, contra o qual o presidente do SEESP se referiu em sua mensagem, a Boeing adquiriria o controle de jatos comerciais da Embraer por US$ 4,2 bilhões – porém, em 25 de abril último, cancelou a compra (confira Palavra do Murilo). “A Boeing fez o que avisamos desde o início, que, quando a coisa ficasse feia, abandonaria a Embraer”, afirmou Claros durante o ato. Diante deste quadro, que gera insegurança à empresa e ameaça empregos, foi lançada a campanha pela sua reestatização, com a adesão de mais de 150 organizações (confira manifesto lido durante o ato).
Toninho, que hoje é presidente municipal do PSTU em São José dos Campos, lembrou que a companhia foi construída “com suor” dos trabalhadores. “Em 1969 surge como empresa estatal, com dinheiro do povo brasileiro e a partir de então, financiamento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], o que se manteve mesmo depois de privatizada em 1994. É uma empresa que produz tecnologia e esse era o interesse da Boeing, destruir sua capacidade de fabricar aeronaves. A Embraer domina todo o ciclo da construção de aviões, desde sua concepção. Faz parte de um grupo seleto de nove países. O Brasil não pode continuar no caminho da desindustrialização. Temos que impedir isso, ao que a unidade nessa campanha é importante.”
Paulo Sérgio Frigere, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Araraquara e região, salientou: “Em 2018 tivemos uma campanha como essa para garantir que a empresa ficasse no Brasil [contra a venda para a Boeing]. Como dissemos à época, a Embraer é nossa.”
Ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim destacou, também na ocasião, que a companhia, construída com recursos públicos, é “grande patrimônio científico e tecnológico essencial à nossa soberania”. E frisou: “Tem que ser reincorporada ao Estado brasileiro, com essa oportunidade de desistência da Boeing.”
Apoios técnicos e projetos de lei
Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ratificou: “A Embraer é resultado de décadas de investimentos da sociedade brasileira, com recursos oriundos dos impostos de todos nós e suor dos trabalhadores da empresa. É inadmissível que possa deixar de existir por conta das grandes corporações globais do setor. São mais de 16 mil empregos gerados, uma cadeia de fornecedores e um conjunto de centros tecnológicos que são fundamentais para o nosso futuro. É urgente que a sociedade brasileira se mobilize na defesa de um patrimônio que é seu, pelo Estado garantir que todo esse investimento continue gerando conhecimento que alimente nosso desenvolvimento.”
Já Gustavo Machado, da Coordenação Nacional do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), apontou o papel estratégico da companhia, gestada a partir da criação do Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA) em 1945. “O Brasil vem passando, há três décadas, pela reprimarização da sua economia. A Embraer é uma notória exceção. Essa suposta crise nada tem a ver com seu desempenho. Seu patrimônio líquido é muito superior ao das concorrentes e sua taxa de lucros, à do mercado. A empresa constrói grande parte de seus componentes com tecnologia própria.”
Participaram do ato ainda os deputados federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Orlando Silva (PCdoB-SP), o qual informou ter protocolado um projeto de lei (PL) na Câmara pela reestatização da empresa e estar em busca de adesões de outros parlamentares como coautores. O senador Paulo Paim (PT-SP) também comunicou haver um PL nessa direção de seu colega parlamentar, Jacques Wagner (PT-BA).
Entre as diversas lideranças de partidos políticos, Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, concluiu: “Outro nome de soberania nacional é ciência e tecnologia. O único setor em que temos superávit na balança comercial e tecnologia sofisticada é o aeroespacial por causa da nossa Embraer. Por sorte foi devolvida [pela Boeing]. Trata-se de organizar para que nunca mais o Brasil perca esse tesouro.”
Confira o ato de lançamento na íntegra aqui.
Foto: Divulgação / Site SindmetalSJC