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22/06/2020

O perfil do engenheiro requisitado pelo mercado atual

Headhunter fala sobre planejamento dos processos que buscam mão de obra qualificada.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

A pandemia do novo coronavírus está mudando formas de trabalhar e de viver no Brasil e no mundo. Os processos seletivos e o trabalho dos chamados caçadores de talento, os headhunters, também se transformaram utilizando procedimentos eletrônicos e digitais. Nesse cenário, ganham destaque as profissões ligadas à segurança de dados, o cibersegurança. A área, indica Isis Borge, gerente das áreas de contratação de engenharia, supply chain, operações e vendas e marketing, da holding brasileira de recrutamento Talenses Group, está aquecida “porque tudo está migrando para a internet, meios eletrônicos, dados em nuvem. São vagas criadas em todos os segmentos econômicos”.

 

Isis Borge Talenses GroupIsis Borge, headhunter da Talenses Group, observa que a comunicação e saber trabalhar em equipe são habilidades em alta no mercado de trabalho. Crédito: Divulgação.

 

A curiosidade é que Borge é engenheira mecânica formada pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI), de São Bernardo do Campo, em 2005. Ela trabalhou como engenheira nas montadoras Ford e General Motors, na região do Grande ABC, até 2011. Nesse ano, migrou para a área de recrutamento da Talenses Group. “Sempre me despertou interesse a área de gestão de pessoas e negócios. Por isso, fiz um MBA, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, e continuo a fazer cursos internos na própria consultoria”, diz. Na sua formação, ainda constam cursos nos Estados Unidos: em “Liderança de times remotos de alta performance”, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla); até específicos da área automotiva, na Universidade de Michigan.

 

Borge explica que foi contratada para ser headhunter para buscar talentos na engenharia para diversas funções no mercado de trabalho. “Com a minha formação, consigo refinar o meu trabalho porque falo a “mesma língua” dos profissionais e consigo entender tecnicamente o que os requisitantes querem para encontrar o profissional mais aderente à oportunidade.” Ela também elogia a iniciativa do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) em ter uma área específica, Oportunidades na Engenharia, dedicada à orientação de carreira dos engenheiros e estudantes. “Vejo com um olhar muito positivo, acho importante existirem canais confiáveis de divulgação de vagas no mercado de engenharia. Uma ótima iniciativa com toda a certeza.”

 

Apesar do cenário difícil criado pela pandemia do novo coronavírus, tornando o mercado ainda mais restrito e exigente, Borge observa que é importante entender como os processos seletivos funcionam e como se preparar para as vagas que sejam abertas. Inicialmente, ela explica que a área de recursos humanos (RH) da empresa vai filtrar muito bem o perfil pessoal buscado, os aspectos comportamentais (soft skills). Todavia, prossegue, na avaliação técnica o RH vai precisar de um suporte para evitar que o gestor perca tempo até chegar ao profissional adequado. “É aí que entra o nosso trabalho, junto com o RH, de filtrar esses pontos.”

 

Com o recrutador técnico, o processo é mais acelerado, assertivo e traz otimização para os dois lados, “alinhando as expectativas e requisitos do contratante e do candidato”. O próprio engenheiro também se sente mais confortável em tratar com alguém que realmente vai entendê-lo na exposição técnica e na experiência na área, observa Borge.

 

A definição dos filtros será realizada com um alinhamento com o gestor para saber quais os pontos-chave necessários e as atividades que serão desempenhadas. “Na entrevista, o candidato precisa explicar profundamente o que já fez e o que entregava nas suas experiências anteriores. Vão ter perguntas bem técnicas para saber se o candidato é aderente ao que quer o requisitante. Além disso, fazemos toda uma checagem junto a empresas, gestores, subordinados.”

 

Rede
O headhunter, segundo Borge, se utiliza de diversas formas para buscar um talento, como redes de contatos e banco de dados. “Primeiro, desenvolvemos uma rede de contatos. Também fazemos entrevistas proativas com talentos e pessoas muito bem recomendadas, onde, ao final, pedimos ao entrevistado dois dos melhores profissionais com quem ele já trabalhou. E aí a gente vai atrás dessas pessoas para entender momentos e anseios de carreira e, também ao final, vamos pedir mais duas indicações. Assim, começa a criação de uma rede de pessoas muito boas e qualificadas que não necessariamente tenham um currículo pronto ou que estão procurando uma oportunidade de forma ativa.”

 

Dependendo da vaga, diz, “podemos fazer um hunting, ou seja, ir atrás de pessoas e empresas que podem ter aquele profissional”. O setor também mantém parcerias com instituições de ensino e até se faz pesquisa para chegar aos profissionais brasileiros expatriados que querem voltar ao País. “A rede é muito grande e minuciosa para se chegar aos melhores perfis.”

 

A estratégia de busca se alinha com o requisitante da vaga. “Fazemos um brainstorming de quais caminhos trilhar para chegar ao perfil mais adequado à função. Por exemplo, às vezes se exige uma certificação determinada, aí vamos atrás das escolas que dão esse certificado, falamos com professores para indicar os melhores. É quase um trabalho de investigação”, brinca.

 

Raciocínio lógico
Segundo Isis Borge, o profissional de engenharia é muito adaptável e requisitado pelo mercado para diversas frentes de atuação, “vai de logística, supply chain às funções mais tradicionais ligadas ao desenvolvimento e manufatura”. A procura por essa mão de obra qualificada, explica, é por causa do perfil técnico. “Tem empresas que querem o profissional da área por causa do raciocínio lógico, por exemplo. A formação de engenharia é muito bem-vinda no mercado. Gestores preferem contratar engenheiros.”

 

Com a crise gerada pela pandemia da Covid-19, reforça ela, a área de segurança de dados está muito aquecida, “porque quase tudo está migrando para a internet, dados em nuvem”. Nesse sentido, ganha relevância, diz, o engenheiro de cibesegurança que pode estar na posição de gerente de gestão, onde vai trabalhar na interface com todas as áreas e atividades da empresa, “analisando riscos e oportunidades na parte de segurança dos dados da empresa, risco de invasão, de roubo de dados por hacker ou entrar em áreas da empresa”. E completa que é uma área relativamente nova.

 

Habilidades importantes
A headhunter da Talense Group aponta que o mercado hoje precisa de um engenheiro com “boa habilidade de comunicação para conversar com a empresa inteira, entender como tudo funciona e deixar tudo mais seguro. Não comporta mais um perfil introspectivo ou isolado. O que realmente é um desafio para o engenheiro”.

 

Borge descreve o perfil profissional mais procurado hoje pelo mercado: “Ter raciocínio lógico, habilidade de conseguir resolver problemas, pensar fora da caixa, ao mesmo tempo ser prático, objetivo, conseguir ser analítico. Precisa ser uma pessoa fácil de lidar, leve, que traga tranquilidade para os gestores, que trabalhe bem em equipe.” As empresas, prossegue, querem “pessoas mais mão na massa, fazer o estratégico e entrar no operacional se for possível, se engajar em mais atividades multidepartamentais”.

 

Ela reforça, todavia, a importância da comunicação: “O engenheiro precisa saber escrever bem, porque vai redigir e-mails, fazer apresentações, relatórios, projetos, planilhas etc. Vejo muitos engenheiros migrando para cargos de gestão engajados em ler jornal, livros e em fazer cursos de pós ou MBA, com um olhar mais voltado à gestão.”

 

 

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