Novo reitor, Carlos Américo Pacheco, quer retomar o projeto que tinha o MIT, dos EUA, como modelo. Leia a entrevista concedida à Folha de São Paulo.
Ao ser criado, em 1950, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) não se limitou a seguir o modelo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. Importou seus professores, tornou um deles reitor, Richard Smith, e nasceu como parte de uma visão maior que envolvia centro de pesquisas e fomento à indústria.
Agora um novo reitor, recém-empossado, Carlos Américo Pacheco, quer retomar o caminho aberto pelo chamado Relatório Smith. "Ele desenha o que se chama de 'cluster', de arranjo produtivo local. Isso nos anos 40, é uma coisa impressionante", diz. "Admira-se o que Taiwan fez no Itri (Industrial Technology Research Institute), mas aqui, nos anos 40, desenhou-se algo agressivo: não só uma escola de excelência, mas uma indústria."
Pacheco falou à Folha no intervalo de uma série de encontros com grandes empresas, privadas e públicas, que quer levar como parceiras para o ITA, a exemplo do que fazem MIT, Stanford e outras instituições. Entre elas, Vale, Petrobras, Embraer, Odebrecht Defesa e Braskem. E sonha com "um passo além", um laboratório multiusual, não didático por disciplina como os atuais, mas um "innovation center", como fez o MIT com o Media Lab. Ainda não tem arquiteto, mas o ITA original foi projetado por Oscar Niemeyer.
Ele quer "despertar a paixão nos alunos pelos grandes desafios tecnológicos que o País vai enfrentar", quer "mover o imaginário, para desenvolverem novas empresas, projetos". Prevê "engajar os alunos logo no início da graduação em equipes que envolvam diversos anos, pós-graduandos, professores, gente da indústria".
Aos 20, André Luiz Costa Pereira Filho acaba de passar do segundo para o terceiro ano no ITA. Ele relata a ansiedade dos colegas pelo contato com tecnologia, "que é ciência em prática", e diz que "essa vertente do reitor, de tornar a inovar, faz com que tenha apoio dos alunos", até "causa euforia". O estudante repete uma expressão corrente no campus, de que "o ITA foi fundado em 1950 com uma visão de 1980, mas em 2011 a visão é de 2000". O MIT "está anos-luz na nossa frente".
Burocracia e cortes - Mas o novo reitor não encontrou só boas-vindas. Sua prioridade inicial é dobrar o número de alunos por ano, de 120 para 240, e contratar 200 professores -estrangeiros inclusive, como parte de um projeto de "internacionalização" da escola. Para tanto, o ITA terá de construir novos laboratórios didáticos, salas de aula, alojamentos. E Pereira Filho critica que a simples reforma do alojamento atual atravessou 2011 parada, perdida na burocracia e nos cortes de verba. O ITA é ligado ao Ministério da Aeronáutica.
A própria contratação de professores no exterior, embora a escola tenha nascido com americanos e até chineses, enfrenta hoje obstáculos, por exemplo, na restrição do acesso ao campus.
Por outro lado, o ITA é saudado pela excelência na graduação, mas vê a pós-graduação ficar para trás. Hudson Alberto Bode, recém-doutorado e no fim do mandato como presidente da Associação de Pós-Graduandos, cita a baixa publicação. "Espero que o reitor olhe mais, realmente, para inovação, pesquisa e desenvolvimento. Quem é que faz pesquisa? É a pós-graduação." Diz que o discurso indica mais atenção, "mas será preciso botar na prática".
Carlos Américo Pacheco - Formado em engenharia eletrônica pelo ITA, com doutorado em economia pela Unicamp, onde era professor até ser escolhido em seleção pública como novo reitor, Carlos Américo Pacheco, 54, foi secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (1999-2002) e participou da elaboração dos projetos que resultaram na criação de 14 fundos setoriais e na Lei da Inovação, de 2004.
Folha - Inovação é a área a que o sr. mais se dedica. Qual a visão que tem dela?
Carlos Américo Pacheco - Inovação passou a ser uma palavra que responde a coisas diferentes, na cabeça de cada um. Vou me restringir ao sentido econômico. É o que as empresas fazem de modificação de produto, processo etc. Entre as várias formas de inovação que as empresas usam está a tecnológica. Ela é fundamental para o desenvolvimento porque grande parte do aumento de produtividade vem daí. E você não consegue crescimento sustentável sem crescimento de produtividade. O mundo vai andar problemático, mas o Brasil vai crescer pelo mercado interno, pelos recursos naturais. Mas o perfil do crescimento pode ser melhor ou pior, se a gente introduzir a inovação tecnológica nas agendas pública e privada.
Fala-se em divisão dos modelos de inovação, com maior e menor presença estatal.
No mundo inteiro não há desenvolvimento tecnológico que não tenha amparo do Estado. Recentemente, numa visita, o presidente da Boeing disse que não entendia a Embraer, porque a Boeing não sobrevive sem as encomendas do Estado americano. Eu vejo dois modelos que funcionam. Nos EUA, o Estado faz isso com encomendas e atua também na pesquisa básica, com uma estrutura ímpar. O modelo europeu é feito mais sob a forma de editais, pesquisa cooperativa universidade-empresa.
O que o sr. recomenda?
O que se recomenda no mundo é um "blend" dos dois. A gente construiu um sistema parecido com o europeu. Agora, sobretudo depois da Estratégia Nacional de Defesa, a gente se aproxima de um "blend", um pouco por causa das encomendas de submarinos, do cargueiro da Embraer, do satélite.
(Folha de São Paulo)
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