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07/05/2021

Estudante da Unesp elabora mapa da evolução da pandemia no Estado de São Paulo

Como a engenharia cartográfica está no dia a dia, saindo do espaço militar e ganhando funções que ajudam a sociedade, inclusive na evolução geográfica da disseminação do novo coronavírus.


Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Ao longo do tempo, várias foram as denominações do profissional cujo objetivo é representar graficamente a superfície terrestre. A engenharia cartográfica da sociedade moderna tem um legado que remonta três mil anos de história - dos conhecimentos dos geômetras da Antiguidade, das grandes navegações, do mapeamento dos Estados Europeus no século XVII, até chegar aos dias atuais com o desenvolvimento tecnológico na área de GPS (Sistema de Posicionamento Global), imagens de satélite, geoprocessamento etc.

 

No Brasil, a iniciativa referente à formação de engenheiros especialistas em trabalhos cartográficos se deu em 1810, com a criação da Academia Real Militar, destinada à formação de engenheiros geógrafos. Nessa época – e até meados do século XX – a cartografia tinha um enfoque estratégico militar, com vistas à segurança nacional. Duzentos e onze anos depois, o País tem diversos cursos de graduação na modalidade e, segundo estatística do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confa), 1.633 profissionais na área – desses, 1.242 homens, e 391, mulheres. 

 

No próximo dia 6 de maio, comemora-se o Dia da Engenharia Cartográfica. Para falar da área, entrevistamos a estudante Rebeca Campos Emiliano da Silva, que ingressou no curso de Engenharia Cartográfica, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Presidente Prudente, em 2017, aos 18 anos de idade. O curso foi criado na Unesp em julho de 1977, um ano após a fundação da própria universidade.


600 Rebeca Unesp editadaEstudante Rebeca Campos Emiliano da Silva. Foto: Acervo pessoal.

 

O curso chamou atenção de Silva quando fazia o cursinho pré-vestibular e teve contato com professores voluntários de cartografia. “Ouvi-los falarem das matérias, do que se estudava e se fazia já me fez gostar desde aquele momento da área, porque mostrava que era uma profissão bem presente no nosso dia a dia”, lembra. Por isso, não teve dúvida em prestar o vestibular no terceiro ano do Ensino Médio para Engenharia Cartográfica da Unesp. E passou!

 

Daniele Barroca Marra Alves, coordenadora do curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura da Unesp de Presidente Prudente, atesta essa capilaridade na sociedade e que a área é marcada pelo dinamismo e evolução e “está em diversas atividades corriqueiras do dia a dia, quando se utiliza um aplicativo de localização, se olha um mapa, se utiliza um drone, por exemplo”. Todavia, ressalta, a engenharia cartográfica é muito mais do que isso e está presente em uma grande diversidade de atividades econômicas e sociais, “como na agricultura de precisão, monitoramento ambiental, geoprocessamento, georreferenciamento, monitoramento de estruturas, entre outras”.

 

A discente explora mais um pouco a presença da área na vida das pessoas, nas ações mais rotineiras, como pegar um táxi que se utiliza de um GPS ou um transporte por meio de um aplicativo, medir um terreno e em situações excepcionais, como acompanhar o avanço de uma doença no mundo, como a pandemia do novo coronavírus. “Estão sendo produzidos mapas para o acompanhamento da evolução da doença, em tempo real ou para uma data específica. Estes mapas auxiliam na compreensão do volume de dados gerados acerca da disseminação da Covid-19 em diferentes escalas territoriais – que vai de cidade, estados, países ou na esfera mundial –, facilitando órgãos públicos e privados a darem uma resposta as emergências da saúde”, diz a estudante que fez um mapa utilizado pelo próprio Governo do Estado de São Paulo de casos confirmados da doença, em novembro de 2020 [veja o mapa abaixo]. A professora endossa esse protagonismo neste momento de crise sanitária, “a produção de mapas está sendo uma das áreas da engenharia cartográfica em destaque”.


Mapa densidade ponto Casos Confirmados2

No entusiasmo da profissão que vai exercer a partir de 2022, ano de previsão de conclusão do curso, Silva explica, ainda, que na engenharia cartográfica “estudamos a atmosfera, monitoramos o desmatamento, fazemos previsões de rotas de navegação e planejamentos ambientais. Tudo isso com imagens, mapas, banco de dados, material que produzimos que vai auxiliar outras áreas da intervenção humana”.

 

200 Daniele BarrocaDaniele Barroca Marra Alves, professora e coordenada da Unesp Presidente Prudente. Foto: Acervo pessoal.A coordenadora observa que, para além dos desafios inerentes à engenharia – “que é dinâmica e tecnológica” –, a ética profissional é indispensável para qualquer profissão. Por isso, ao mesmo tempo em que o engenheiro deve ter aptidão para a tecnologia, para se reinventar sempre que necessário, aliando conhecimento técnico e criatividade, deve existir “a preocupação com o meio ambiente, a sustentabilidade, além, é claro, de cuidado e respeito com as pessoas e seus valores”.

 

Nesse sentido, Alves insere a importância das competências comportamentais já estarem na sala de aula. Para ela, o saber técnico e as competências comportamentais são indispensáveis para a formação de um bom profissional. “Em nosso curso desenvolvemos atividades em que o aluno poderá exercer algumas competências como o trabalho em equipe, criatividade, comunicação, ética, além da liderança. Além disso, tentamos manter nossos alunos motivados, se adaptando a eventuais dificuldades, entendendo que a aprendizagem é contínua, e que a universidade apenas inicia esse processo”, assevera.

 

Estágio e iniciação científica
Silva já planeja a busca pelo estágio obrigatório, o que não o faz no momento para se dedicar mais aos estudos das diversas disciplinas básicas e específicas, mas se diz organizada para a realização da atividade no tempo certo.

 

Na universidade, a jovem não perdeu tempo e já fez iniciação científica na área de fotogrametria desde o segundo ano, “fiquei aproximadamente um ano na empresa júnior Ejecart e também participei da gestão do centro acadêmico por um ano”. Sobre o tema da iniciação científica, Silva se mostra muita à vontade e segura para nos ensinar o que é fotogrametria: “É a arte, ciência e tecnologia para obtenção de informações de qualquer objeto, através da medição e interpretação de imagens e padrões de energia eletromagnética. Na minha iniciação científica, estudamos técnicas para auxiliar no processamento de imagens multiespectrais, e agora estamos analisando o desempenho de um sensor (câmera) multiespectral. Este tipo de sensor, acoplado a um drone, tira imagens aéreas em diferentes faixas do espetro eletromagnético; é muito usado na agricultura de precisão para detecção de doenças em culturas e monitoramento qualidade da nutrição de plantas.”

 

A futura engenheira já faz planos na profissão, como fazer mestrado e, posteriormente, trabalhar na área de fotogrametria e sensoriamento remoto ou geoprocessamento. “Pelo fato do curso ser amplo posso prestar um concurso público, continuar na área acadêmica, ou mesmo, quem sabe, abrir uma empresa”, relaciona as opões, com muito entusiasmo.

 

Ciência e representação
De verdadeiras obras de arte que eram os mapas medievais e renascentistas, chegamos à cartografia contemporânea, com mapas gerados por softwares capazes de analisar grandes massas de informação. A engenharia cartográfica, atualmente, se vale de plataformas digitais as mais diversas, de mapas interativos, uma linha de evolução importante ao longo da existência desse saber, “hoje os mapas possuem uma grande variedade e formas de visualização para diversas aplicações e utilizações”, atesta a coordenadora Daniele Barroca Marra Alves.

 

O escritor argentino Jorge Luís Borges, em seu conto “Sobre o rigor da ciência”, do livro “História universal da infâmia”, fala do empenho da “Arte da Cartografia” de um império em criar mapas tão perfeitos que esses acabaram tendo o tamanho do próprio império e coincidindo com ele ponto por ponto. Borges faz uma reflexão sobre os limites da ciência e da representação, do real e do simbólico, pois o mapa que coincide com a realidade que representa encena aqui os limites da própria representação. “Estabelecer esse limite da representação é um dos diversos temas abordados em nosso curso”, pondera a professora da Unesp.

 

 “…Naquele império, a Arte da Cartografia alcançou tal Perfeição que o mapa de uma única Província ocupava uma cidade inteira, e o mapa do Império uma Província inteira. Com o tempo, estes Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império que tinha o Tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto.”
(Jorge Luís Borges – O rigor da ciência)

 

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Engenharia cartográfica - Raio-X

* O Curso de Graduação em Engenharia Cartográfica foi implantado na Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, no ano de 1977, sintonizado com a necessidade de mapas atualizados do território brasileiro.

* O campo de atuação do Engenheiro Cartógrafo foi fortemente ampliado, com a incorporação de recursos tecnológicos e ferramentas computacionais nas atividades de posicionamento, mapeamento e monitoramento, a partir de dados e imagens adquiridos por sensores terrestres ou embarcados em satélites, aeronaves, drones e mesmo plataformas aquáticas.

* Carga mínima do curso – 3.600 horas

* Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

* Ao longo de mais de 40 anos do curso, o perfil do profissional vem sendo atualizado para se adequar ao mercado de trabalho, passando inclusive pela mudança de nome, seguindo uma tendência que vem sendo adotada no país. No caso da Unesp a última reestruturação foi feita em 2018, quando o curso passou a ser denominado Engenharia Cartográfica e de Agrimensura.

* O curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura da UNESP de Presidente Prudente é o único público no Estado de São Paulo. Na sua estrutura curricular enfatiza-se a utilização e a integração de geotecnologias em disciplinas como Topografia, Geodésia, Sensoriamento Remoto, Sistemas de Informação Geográfica – SIG, Cartografia e Fotogrametria. Há também a preocupação em fornecer uma forte base conceitual e metodológica, em sintonia com as tendências tecnológicas dos mercados nacional e internacional, como o uso de dados de satélites que inclui o GPS, imagens de Sensoriamento Remoto, drones, diferentes tipos de sensores, softwares específicos etc. Essa formação sólida tem levado nossos egressos, com êxito, ao mercado de trabalho e fortalecido o ingresso em programas de pós-graduação.

* O profissional Engenheiro Cartógrafo e Agrimensor formado pela FCT/Unesp está apto a produzir e trabalhar com dados e informações georreferenciadas que são básicas, tanto para sistemas de localização, como Waze, rotas de Uber, Google Earth; assim como inovações que estão no estado-da-arte em aplicações de agricultura de precisão, monitoramento de catástrofes e desastres naturais.

Fonte: Unesp de Presidente Prudente

 


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