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28/06/2021

Por que a pandemia só piora no Brasil, mesmo com a vacinação?

Rádio Brasil de Fato*

O Plano Nacional de Imunização (PNI) segue, mas ainda assim, os números da pandemia não param de avançar. Nas últimas semanas, o Brasil está na faixa de mais de 500 mil novos casos de covid-19 em apenas, por semana. No sábado (26/6), segundo o Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, o índice de adesão ao isolamento social ficou em 40%. Nas semanas iniciais de junho beirou os 37%. E não há segredo para explicar o cenário, que parece discrepante para os desavisados: sem medidas de prevenção, como isolamento social, e sem uma melhora consistente no ritmo de chegada das doses à população, os números não diminuem.

 

Aglomeracao mercado foto Katia Beziaco Arquivo pessoalAglomeração em supermercado na Zona Norte de São Paulo - Foto Katia Beziaco Arquivo pessoal

 

Em conversa com o o podcast A Covid-19 na Semana*, do Brasil de Fato, a médica Fernanda Americano Freitas Silva, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, explica que o número de imunizados com a segunda dose é baixo e o Brasil sofre as consequências da falta de planejamento e de vontade política para combater a circulação do vírus.

"É importante destacar o ritmo lento da vacinação comparado ao potencial do SUS [Sistema Único de Saúde]. No Brasil, a gente já sabe que houve diversas formas de negligência. Tudo isso influencia no que a gente está vivendo agora", alerta a médica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para frear a propagação do vírus será necessário imunizar pelo menos entre 70% e 80% do país totalmente. Atualmente, mais de cinco meses após o início da campanha, o índice de pessoas que tomaram as duas doses está próximo a 15%.


Ainda assim, a falsa percepção de que a vacinação está avançada pode estar aumentando o abandono das medidas preventivas. Diminuir o isolamento e o uso de máscara, por exemplo, pode ser uma combinação fatal para uma nação que tem mais de 50 mil casos diários desde fevereiro.

Fernanda lembra que pessoas vacinadas ainda podem transmitir o coronavírus, "Essa sensação de proteção individual pode prejudicar a ação coletiva que a vacina tem. Todos que estão vacinados devem continuar usando máscara e evitando aglomeração", ressalta ela.

Segundo o Imperial College de Londres, cada 100 pessoas contaminadas hoje no Brasil, têm potencial de infectar outras 113 pessoas. A taxa de transmissão vem aumentando no país, que superou 18 milhões de casos da covid nesta semana.


Nesta segunda (28/6), a capital paulista inicia a vacinação para o grupo de 46 anos ou mais. É obrigatório apresentar comprovante de residência na capital e um documento de identificação. O grupo de quem tem 45 anos ou mais, que inicialmente também seria vacinado nesta segunda, foi adiado para terça-feira (29/6), após problemas com o fornecimento. O medicamento aplicado no período da manhã era a Janssen, de dose única. Das 114 mil doses recebidas pela capital após a doação dos EUA, 14 mil vão ser usadas para vacinar a população de rua que não está cadastrada em abrigos.

Até então, 13,25% da população em todo o estado está imunizado com as duas doses da vacina. O governo do Estado afirma que vacinará toda a população acima de 18 anos até outubro próximo.

Mais 200 mil podem morrer em 2021

Divulgado na segunda-feira (21), o estudo "Como o estado atual da vacinação no Brasil influencia no controle da pandemia da covid-19?", das Universidades Federais de Juiz de Fora e de São João del-Rei apontou as consequências da lentidão no PNI.

Se o país continuar vacinando no ritmo atual - cerca de 360 mil pessoas por dia - mais de 200 mil mortes podem ocorrer até o fim do ano e a pandemia não será controlada em 2021. Os estudiosos foram enfáticos na defesa de medidas de prevenção da propagação.

"As medidas não farmacológicas, como distanciamento social e uso de máscaras, são de fundamental importância para prevenir a propagação da doença e diminuir o número de mortes ao longo do ano", alerta o estudo.

A médica Fernanda Americano afirma que a possibilidade de que a pandemia siga no ano que vem revela falhas gravíssimas. Ela cita as suspeitas de corrupção na compra de vacinas, as negativas de compra e a aposta na ideia da imunidade de rebanho por contágio.


"O que nos resta é continuar lutando com as evidências que a gente tem", desabafa a profissional frente ao discurso negacionista e a fragilidade das políticas sociais.

"O brasileiro está cansado, o brasileiro está exausto fisicamente e emocionalmente", ressalta Fernanda, ao defender a urgência da vacinação em massa.

Na quinta-feira (24/6), em audiência na CPI da pandemia, a médica Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil e integrante do Grupo Alerta, afirmou que mais de 300 mil mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil com as medidas certas, isso sem levar em consideração o pior período do surto no país.

Também na CPI, o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, apontou que 400 mil pessoas poderiam ter sido salvas. Segundo ele quatro em cada cinco mortes ocorreram por falhas no combate à pandemia.

Ouça o áudio neste link.

* atualizada por Comunicação SEESP

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