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19/04/2022

A engenharia nos tempos das tecnologias emergentes

Professor avalia que as tecnologias de informação vão também reconfigurar a atuação dos profissionais de Engenharia.  

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
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 Imagem de destaque desta matéria é do Pixabay

 

José Roberto Cardoso, coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), avalia que a área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é uma das que mais tem demandado mão de obra técnica com grande intensidade no País, assim como no mundo. Segundo ele, isso se explica pela própria natureza desses dispositivos, “pois são plataformas voláteis, isto é, com pouco tempo de uso já precisam ser renovadas para incorporar novas funções e atender a requisitos novos. Estamos vendo isso, por exemplo, com a implantação da LGPD [Lei Geral de Proteção da Dados] – os programas e os sistemas precisam se adaptar à legislação”.

 

600 Cardoso 2Professor José Roberto Cardoso, também coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, aconselha estudantes e profissionais de Engenharia estarem atentos às tecnologias emergentes para novas atuações no mercado de trabalho. Crédito: Acervo SEESP.

 

Nesse sentido, o professor, que também é membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosenp-Fiesp), acredita que a questão de segurança de dados desponta como uma das mais fundamentais. O que implica, diz ele, investimentos enormes em cyber security. “Esta área é um das mais áridas da TIC, e com poucos profissionais disponíveis ainda”, observa. Um nicho de atividade, observa, que tem muita proximidade da formação em engenharia: “Primeiro, porque está na origem desta área técnica resolver problemas com o raciocínio analítico apurado e, ainda, em “traduzir” o mundo utilizando os números, a matemática e fazendo as combinações entre eles para um resultado factível.”

 

Cyber security
Cibersegurança é a prática de proteger ativos de informação tais sistemas, computadores e servidores entre outros contra ameaças cibernéticas ou ataques.

 

Cardoso fez questão de ressaltar essa interface intensa entre as engenharias e as tecnologias emergentes, principalmente porque essas estão sendo agregadas às tecnologias tradicionais que já utilizavam essa mão de obra técnica. Como exemplo, ele cita “as linhas de transmissão [de energia elétrica] do passado tinham apenas dispositivos de proteção para garantir seu funcionamento e impedir prejuízos maiores por ocasião de falhas de qualquer natureza”. Hoje, constata o docente, “elas estão totalmente digitalizadas, com sensores que monitoram condições climáticas e outras grandezas de interesse, que não podiam ser monitoradas no passado”.

 

A digitalização, afirma, ajudou a descobrir uma fonte de riqueza enorme “que são os dados gerados e armazenados com esse monitoramento”. São dados, ressalta, valiosíssimos não só para a empresa, mas para a sociedade, “um cientista de dados competente consegue, analisando-os, extrair informações que possibilitam evoluções substanciais dos negócios. O profissional de engenharia de qualquer modalidade está preparado para essa tarefa também”.

 

Evasão e vagas ociosas
A geração de oportunidades profissionais relacionadas ao desenvolvimento da área de TI é percebida pelo professor Cardoso com preocupação, pois, aponta, “por incrível que pareça as carreiras tecnológicas ainda não despertaram o interesse necessário dos jovens”.

 

Tal cenário, analisa ele, se deve ao fato de a própria academia tornar os cursos ainda mais difíceis, destacando apenas o conteúdo técnico em detrimento do saber de Humanidades e das Artes. Na opinião do docente, isso gera “aversão de nossos jovens para as engenharias em particular”, completando: “Esta fuga da área tecnológica pode ser retratada em números que nos desespera. Em 2016, tínhamos quase 1 milhão e meio de matriculados em cursos de engenharia. Este número em 2021 está quase abaixo de 800 mil. A evasão é enorme e a quantidade de vagas ociosas nas escolas de engenharia é vergonhosa.”

 

Na outra ponta, ou seja, para aqueles que concluem os cursos, considera Cardoso, a tarefa também não é fácil, porque “a formação acadêmica não é suficiente para o estudante encarar os inúmeros desafios que o mercado apresenta. Por esta razão, a formação de longa duração é mandatória para se manter atualizado e competitivo no mercado de trabalho. A graduação não é um fim em si mesmo, é apenas o começo para novos estudos e conhecimentos”.

 

Reinvenção da engenharia
O professor se mostra atento aos movimentos do mercado de trabalho que vem criando posições na área de TI. Para ele, é uma tendência que vai se expandir com o tempo. “O mercado está dizendo: ‘quero’ quem faz e não quem pode um dia aprender a fazer. O imediatismo é latente. Se o profissional tem a competência de aprender rápido qualquer coisa que o coloque em sua frente, não interessa se ele é engenheiro civil, mecânico ou de outra modalidade, importante é ele saber fazer. Daí a importância da flexibilidade. Saber se adaptar com rapidez às novas tendências é a chave do sucesso. Note que o emprego desapareceu, mas o trabalho continua existindo”, polemiza.

 

Dentro dessa concepção, Cardoso acredita que a formação em engenharia está num processo de reinvenção a partir das novas tecnologias, mesmo em funções mais tradicionais. “Não tenho a menor dúvida com relação a esse horizonte. O mercado já manifestou sua insatisfação com o perfil do egresso baseado na formação do século passado, de modo que o Conselho Nacional de Educação reagiu e emitiu as novas diretrizes que contemplam as mais básicas exigências para uma formação em engenharia moderna. Resta-nos agora aguardar o impacto dessas novas diretrizes nos próximos anos”, pondera.

 

Contudo, prossegue o professor da Poli-USP, só aguardar não levará a nada, “precisamos, como educadores, monitorar se de fato elas [as novas diretrizes] estão sendo cumpridas e, se for o caso, promover correções de rumo localizadas ao longo do tempo”.

 

O movimento de inserir a inovação e o empreendedorismo nos cursos de engenharia vai nesta linha, avalia Cardoso, para quem “nossos estudantes precisam criar seus empregos e não esperar, como se fazia no passado, um concurso em uma estatal”.

 

Protagonismo de Humanidades
Com essas alterações, a partir das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, a Humanidades adquire protagonismo nas engenharias como nunca visto, observa o docente. Como? Ele ensina: “Saber trabalhar suas emoções, trabalhar em equipe, falar idiomas de outros países, ser flexível e bom comunicador são, hoje, tão importantes como saber as disciplinas mais emblemáticas da engenharia, como cálculo, resistência dos materiais e eletromagnetismo.”

 

O coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP é categórico: “A engenharia é a profissão do século XXI. Os compromissos assumidos pela humanidade retratados na Agenda 2030 da ONU [Organização das Nações Unidas] que estabeleceu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, terão que ter suas metas atendidas, para garantir um futuro para os nossos descendentes. Destes 17 objetivos, 75% deles depende de ações da engenharia e da ciência. Nos países desenvolvidos, o engenheiro tem pleno emprego e falta profissionais em muitas funções. Os talentos brasileiros são cassados no exterior e esta fuga de cérebros é uma conta que um dia vamos pagar caro.”

 

 

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