Jovem profissional orienta quem pensa em se posicionar no mundo tecnológico, cujo mercado se apresenta promissor.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Michel Felipe de Sena Nassif tem 27 anos e se formou engenheiro eletricista, em 2017, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Nesta entrevista à área Oportunidades na Engenharia, do SEESP, o jovem profissional fala sobre seu projeto inicial ao entrar na faculdade e como foi construindo uma nova perspectiva de atuação profissional, permitida pela bagagem técnica adquirida na graduação. “Quando escolhi estudar engenharia elétrica, imaginava trabalhar na construção de equipamentos eletrônicos ou na automação de uma indústria ou na geração de energia elétrica”, lembra. Contudo, a área de tecnologia da informação (TI) já começou a atrair o estudante na sala de aula.
Atualmente, Nassif afirma que seu projeto profissional consiste em continuar aprendendo e se “especializando no mundo tecnológico, startup e produtos digitais”. No futuro, ele quer criar sua própria empresa para atuar no mercado de tecnologia, utilizando os conhecimentos adquiridos nessa trajetória profissional, “mas, confesso, não sei dizer um segmento específico para ela hoje”.
O que é startup
O significado literal seria “empresa emergente” - na verdade, o termo é intraduzível ao pé da letra. Sinônimo de iniciar uma empresa e colocá-la em funcionamento, sempre foi revestido de uma aura romântica, lembrando jovens trabalhando em uma garagem em torno de uma ideia que ninguém sabia explicar muito bem qual era.
Em dezembro de 2021, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) publicou o estudo “Demanda de Talentos em TIC e Estratégia Σ TCEM”. Nele, aponta-se que o País tem, hoje, uma demanda média anual de 159 mil profissionais para a área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o que se configura, ainda segundo a entidade, como um grande desafio pela frente. O relatório estima que as empresas de tecnologia demandem 797 mil talentos de 2021 a 2025. No entanto, com o número de formandos aquém da demanda, a projeção é de um déficit anual de 106 mil talentos – 530 mil em cinco anos. São números que refletem, segundo a Brasscom, o crescimento acelerado do setor de TIC.
Quando você optou por ser engenheiro eletricista, como imaginava seria a sua atuação na profissão?
Quando escolhi estudar engenharia elétrica imaginava que meu trabalho seria na construção de equipamentos eletrônicos ou na automação de uma indústria ou na geração de energia elétrica. Ir para a área de TI foi algo que foi crescendo em mim durante a graduação, pois comecei a conhecer e estudar sobre o mundo de empreendedorismo e startups, de modo que a partir daí decidi que gostaria de iniciar minha carreira em uma startup para, no futuro, poder criar a minha própria empresa.
Porém, minha principal dúvida, logo depois de formado, era em qual área de uma startup gostaria de trabalhar, pois nosso conhecimento analítico nos dá condição de trabalhar em diversas áreas dentro de uma startup: seja tanto em TI como, por exemplo, em desenvolvimento de software ou análise de dados e BI [Business Intelligence] ou em outras áreas de negócios exercendo funções bem analíticas. Por isso, no início, me especializei e iniciei minha carreira na área de dados, realizando análises, modelos estatísticos e de inteligência artificial.
O que é BI
O business intelligence é responsável por utilizar estrategicamente dados nas organizações a partir da coleta, tratamento e análise de todo e qualquer tipo de informação relevante, possibilitando as melhores decisões para os negócios.
O setor de TI é um dos mais aquecidos da atualidade, frente a forte dependência das novas tecnologias. Como você percebe a conexão entre a engenharia e a área de TI? Engenharia e TI têm tudo a ver? É um futuro de atuação profissional importante para a engenharia?
Sim, engenharia tem tudo a ver com a área de TI, tanto diretamente, como no caso de cursos de engenharia voltados à área, por exemplo, a Engenharia da Computação. Ou também indiretamente, pois profissionais de qualquer outra engenharia conseguem migrar para essa área facilmente, principalmente pelo forte conhecimento analítico e de resolução de problemas que desenvolvemos durante qualquer curso de engenharia.
Atualmente vejo essa área com um futuro de atuação muito forte para os engenheiros. O mercado de tecnologia está muito aquecido e faltam profissionais para fechar as vagas, tanto no Brasil como para trabalhar em outros países. E é algo que não acredito que vá diminuir.
Você trabalha em qual área? O que você faz, você pode nos falar um pouco? Você vem se realizando nessa atuação?
Como disse, iniciei minha carreira na área de dados trabalhando como cientista de dados. Mas há dois anos decidi mudar para área de Produto, hoje sou Product Manager [gestor de produtos]. Sou responsável por gerenciar e priorizar as entregas de um time de desenvolvimento de software para maximizar o valor que estou gerando para a empresa e para os usuários que estão utilizando o serviço. Meu dia a dia está muito relacionado a conversar com outras áreas da empresa e nossos usuários para identificar melhorias em nossa plataforma, planejando e acompanhando o andamento das tarefas com o meu time de desenvolvedores.
Na transição para a área de TI, quais especializações e certificações foram necessárias? Como é esse preparo para atuar na área?
Para a maioria dos cargos, não é obrigatório ter uma certificação de fato. Porém, meu conselho é, ao sair da faculdade e se for a vontade, pensar em qual área de TI gostaria de trabalhar. Pode ser, por exemplo, em desenvolvimento de software, produto, análise de dados ou qualquer outra.
Para ajudar nessa decisão, recomendo conversar com outras pessoas que já trabalham na área e fazer pesquisas na internet sobre o tema. A partir daí, é estudar mais os conteúdos da área que o mercado de trabalho utiliza - realizando um curso específico para se aprofundar. Em paralelo, tente conseguir uma experiência prática, realizando um projeto ou conseguindo um estágio.
Falando sobre certificação em si, talvez em cargos mais específicos, talvez de sêniores e de especialistas, por exemplo, alguém que trabalha com infraestrutura é legal ter uma certificação da AWS – que é serviço da Amazon de computação na nuvem. Já para profissionais que estão começando, acho que o mais importante é conseguir experiência de fato, ou seja, os melhores cursos são aqueles que vão te dar uma experiência prática de como é o dia a dia no trabalho de uma empresa.
Em desenvolvimento de software existem vários bootcamps que ajudam o profissional a conseguir uma experiência, como, por exemplo, os da Escola Digital House e Iron Hack. No meu caso, para trabalhar com dados, eu complementei meu conhecimento analítico visto na faculdade com alguns cursos online como o de machine learning [aprendizado de máquina]. Eu fiz o meu na plataforma de cursos Udemy.
O que é
Um bootcamp é um tipo de treinamento imersivo e intensivo feito para o desenvolvimento de habilidades importantes em diversas áreas. Na programação, a modalidade ganha força no mercado com objetivo fazer com que os estudantes absorvam o conhecimento teórico de maneira conjunta com a prática.
Também fiz curso da escola da Gama Academy sobre marketing digital. Apesar de não ser diretamente relacionado à TI e Dados me ajudou a ganhar mais experiência em como é o dia a dia em uma startup. Para migrar para produto, no entanto, fiz um curso da escola Tera sobre Product Management – apesar de não ser obrigatório para trabalhar na área me ajudou a entender melhor como a rotina da profissão.
Confesso que não vejo uma área que um engenheiro não consiga atuar após estudar e se aprofundar no tema. Nossa capacidade de resolução de problemas e conhecimento analítico nos ajudam muito nessas posições de TI.
Por fim, o que gosta de fazer quando não está trabalhando? Tem filmes e livros preferidos e para indicar?
Gosto muito de praticar esportes: desde basquete, vôlei, futebol até canoagem e tênis de mesa, jogar videogame com meus amigos, ler e assistir séries. Também faço trabalho voluntário em uma ONG chamada Litro de Luz, que leva iluminação solar para comunidades que não têm acesso à iluminação pública.
Um filme que gostaria de indicar é o musical “Hamilton”, da Brodway, que está disponível na [plataforma de streaming] Disney+. Ele conta a história de Alexander Hamilton, uma das principais figuras na história dos Estados Unidos em Rap por atores negros e latinos. O musical inteiro fez muito sucesso, porque a história é muito boa e as músicas também.
Um podcast que indicaria é o Acquired que fala muito sobre a história e o modelo de negócio de várias empresas de tecnologia.
Um livro da área de tecnologia é “A Regra é Não Ter Regras: A Netflix e a Cultura da Reinvenção” sobre a cultura da Netflix. E outro de ficção muito bom que gosto é o “Nome do Vento”, para quem gosta de fantasia tipo “Game of Thrones” vai amar esse livro.
O que é
Rap é um discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século XX entre as comunidades afrodescendentes nos Estados Unidos. É um dos cinco pilares fundamentais da cultura hip hop.