Alexandra Justo*
A Norma Regulamentadora 1 (NR-1) passa a tratar de forma mais aprofundada a gestão dos riscos psicossociais, cuja origem, em grande parte, decorre de processos de comunicação ineficazes. O termo comunicação, derivado do latim communicare, significa participar, partilhar, tornar comum. Trata-se de um processo pelo qual se transmite significado, no qual ideias são enviadas e compreendidas por outras pessoas. O emissor, ao desejar compartilhar uma mensagem, seja ela verbal, não verbal, escrita ou visual, procede à sua codificação por meio da linguagem, de gestos ou de outros recursos e a transmite através de um canal. Durante esse percurso, a mensagem está sujeita a interferências denominadas “ruídos”, que podem incluir problemas de percepção, excesso de informações ou dificuldades de interpretação, comprometendo a clareza do conteúdo. Ao recebê-la, o receptor realiza a decodificação e encerra-se o ciclo comunicativo.
Quando esse processo se desenvolve de forma eficaz, a comunicação propicia a troca de informações, o fortalecimento de vínculos, a resolução de problemas e o alcance de objetivos, assegurando a eficiência e a qualidade dos resultados. Em contrapartida, sua deficiência pode gerar consequências graves, como prejuízos financeiros, insegurança entre os membros da equipe, insatisfação dos clientes e, em casos mais críticos, riscos à integridade física.
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A título ilustrativo, cabe mencionar o estudo apresentado no artigo científico intitulado “As consequências da má comunicação no canteiro de obras em Santarém – PA”, publicado na Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação (v. 8, n. 6, jun. 2022). A pesquisa evidencia que diversos engenheiros demonstram postura de superioridade em relação aos colaboradores, partindo do pressuposto de que se encontram em um nível hierárquico ou intelectual superior. Tal atitude, associada à ausência de um diálogo efetivo, pode resultar em acidentes, constrangimentos e falhas operacionais.
O estudo constatou que apenas 32% dos trabalhadores afirmam ter suas opiniões sempre consideradas, enquanto 47% relatam ser ouvidos apenas ocasionalmente e 21% declaram jamais ter suas opiniões levadas em conta. Esse cenário revela que quando prevalece a desconfiança e o distanciamento entre liderança e equipe, as sugestões dos trabalhadores tendem a ser desvalorizadas. Por outro lado, quando há abertura para que ideias sejam compartilhadas livremente, tanto a cooperação quanto a inovação atingem níveis elevados, confirmando a relevância de uma comunicação bem estruturada.
À luz desse panorama e com base na experiência prática da área de Oportunidades na Engenharia do SEESP no apoio à implementação da NR-1, observa-se que a comunicação no contexto da engenharia requer planejamento cuidadoso, definição clara de objetivos e escolha criteriosa dos meios empregados. É fundamental que a linguagem seja adequada ao perfil do público, de modo a facilitar a compreensão sem recorrer a termos técnicos desnecessários ou a discursos que sirvam apenas para reforçar posições de poder. As informações devem ser transmitidas de forma precisa e objetiva, evitando tanto o excesso quanto a omissão de detalhes, assegurando que o receptor compreenda o que de fato é essencial.
A clareza e a transparência são igualmente indispensáveis, acompanhadas de constante verificação do entendimento por meio do retorno do interlocutor. Ademais, é salutar incentivar um ambiente de comunicação aberto e informal, que permita a todos manifestar ideias sem receio de represálias. Nesse sentido, a liderança deve ser exercida de forma a estimular a participação e a escuta ativa, mais do que simplesmente impor hierarquia.
O feedback, por sua vez, deve ser planejado e estruturado, realizado em momento e local adequados, preservando a privacidade e evitando a exposição pública. Tal prática, quando conduzida de forma clara, objetiva e construtiva, contribui para o aprimoramento das atividades e para o alinhamento de expectativas, reforçando que não se trata de um juízo pessoal, mas de uma orientação organizacional.
Por fim, cumpre assinalar que a comunicação eficaz no âmbito da engenharia não se restringe à transmissão de informações, mas constitui elemento essencial para agregar valor à equipe, fortalecer as relações interpessoais e promover um ambiente de trabalho saudável. O profissional que domina essa competência não apenas evita conflitos e riscos psicossociais, como também se coloca em posição de contínuo aprendizado, contribuindo de forma decisiva para a excelência dos processos e para a segurança de todos os envolvidos.
*Alexandra Justo é gestora da Área de Oportunidades na Engenharia do SEESP