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13/07/2022

Água e saneamento para garantir qualidade de vida da população

 A profissão surge com o aumento das populações urbanas e suas necessidades por água potável e saneamento.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Orlando jpegEngenheiro Orlando Cintra trabalhou 40 anos na Sabesp. Crédito: Acervo pessoal.O Brasil tem 1.670 engenheiros sanitaristas com registros ativos junto aos conselhos federal e regionais da categoria (Sistema Confea-Creas). Mas é importante observar que à engenharia sanitária se agregou a denominação ambiental, o que criou a titulação engenharia sanitária e ambiental, nome já adotado por muitos cursos de graduação e especialização no País. Nas estatísticas dos conselhos, tal titulação já totaliza 10.670 profissionais. Portanto, neste 13 de julho, quando se comemora o Dia do Engenheiro Sanitarista, importante pensar nesse universo mais amplo, fruto das necessidades por um desenvolvimento sustentável, com foco no bem-estar social, na saúde pública e no meio ambiente. É uma profissão de cuidados.

 

Nesse sentido, a profissão é voltada para elaborar e executar projetos que utilizam os recursos hídricos e de saneamento básico. Em suas atividades, o profissional analisa como captar e distribuir a água de uma determinada bacia hidrográfica, tornando mínimos os impactos ambientais, e trabalha também com redes de esgoto e estações de tratamento. Além disso, estuda os emissários submarinos e subfluviais e os projetos de irrigação e de drenagem. É um campo do conhecimento multidisciplinar, que engloba matérias das áreas de ciências exatas, biológicas e sociais aplicadas.

 

O ofício está diretamente ligado ao desenvolvimento das cidades, pois exigiu o abastecimento de água e a coleta do esgoto. Portanto, a engenharia sanitária surge para aumentar a qualidade de vida das populações urbanas ao garantir o abastecimento de água com qualidade e o saneamento básico para reduzir a proliferação de doenças.

 

Dentro dessa perspectiva mais ampla, o engenheiro sanitarista e ambiental vai desenvolver e aplicar tecnologias para proteger o ambiente dos danos causados pelas atividades humanas. Tem como objetivo preservar a qualidade do ar, da água e do solo. Por isso, planeja e coordena redes de distribuição de água e estações de tratamento de esgoto, e supervisiona a coleta e o descarte do lixo, entre outras atividades, sempre aliando qualidade de vida à preservação ambiental.

 

Para celebrar a data, a área Oportunidades na Engenharia entrevistou o engenheiro Orlando Cintra que trabalhou durante 40 anos na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “Trabalhei na empresa de 1976 a 2016. Fui técnico e gestor em atividades de tratamento e controle de qualidade em processos de água e esgoto”, se apresenta. Como ele mesmo destaca, e com muito orgulho, teve participação direta nos primeiros sistemas de fluoretação operados pela Sabesp e coordenou o primeiro laboratório acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para ensaios em amostras de água e esgoto, na cidade paulista de Franca, em 2019.

 

Fluoretação das águas
Medida efetiva para reduzir a cárie dentária, e o uso do flúor no abastecimento público
é considerado o principal fator para a obtenção de redução na prevalência da doença.

Em sua vasta trajetória profissional, Cintra ainda destaca ter sido coordenador e instrutor em diversos cursos técnicos promovidos pela própria Sabesp, pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e também pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) sobre operações de estação de tratamento de água (ETA) e efluentes (ETE) e também de controle de qualidade.

 

Atualmente é diretor técnico da Proágua Ambiental, coordenando trabalhos de consultorias envolvendo tratamento de água, esgoto e controle de qualidade; e também avaliador técnico contratado pelo Inmetro para avaliações de laboratórios acreditados.

 

Cintra destaca a ligação direta da profissão nas áreas sociais de saneamento e meio ambiente, “por utilizarmos nossos conhecimentos de formação e experiência na atuação de projetos de estações de tratamento de água e esgoto, de aterros sanitários, coleta e destino de resíduos sólidos (lixo) no apoio da gestão de empresas de Saneamento, na recuperação de solos e corpos d´água (exemplo rio Tietê), na proteção e preservação de mananciais destinados ao abastecimento público, meio ambiente ou recreação. As atuações dos engenheiros sanitaristas têm uma destacada responsabilidade social relacionada com a saúde pública”.

 

Aterro sanitário
Espécie de depósito no qual são descartados resíduos sólidos provenientes de residências, indústrias, hospitais e construções. Grande parte deste lixo é formada por materiais não recicláveis (BIDONE, 2001). 
Nos aterros as técnicas de disposição dos resíduos no solo são fundamentadas sobre fatores de engenharia e normas especificas, para evitar riscos à saúde pública e danos ambientais. (MAZZER, CAVALCANTI, 2004)
Fonte:
Brasil Escola

Como faz questão de realçar, trabalhou na maior empresa de saneamento da América Latina onde teve várias experiências em atividades tecnológicas desenvolvidas na Empresa. “O melhor dessa experiência foi a coordenação do projeto pioneiro no Brasil, ou seja, obtenção da acreditação (certificação) do Laboratório Regional de Franca, pois trouxe a agradável sensação de conquista inédita. A Sabesp, em Franca, foi a primeira a receber certificação de laboratório acreditado para realização de ensaios em amostras de água potável e efluentes, com a competência técnica reconhecida pelo Inmetro, em nível internacional.

 

Essa conquista, lembra o engenheiro, provocou outras unidades internas da Sabesp, assim como outros laboratórios de empresas públicas e privadas a seguirem o mesmo caminho. “Hoje, após 22 anos, todos laboratórios regionais da Sabesp e outros externos formam uma rede de mais de 600 laboratórios com essa mesma certificação. Esse trabalho teve consequente reconhecimento da minha atuação profissional, pois hoje sou avaliador de laboratórios convidado pelo Inmetro”, relata.

 

Todas as ações que significam inovações em processos e manuseios de resíduos das mais diversas origens estão permeadas de progresso técnico e novas tecnologias. “É um universo que implica conhecimentos técnicos, de química, biológicos e tantos outros que temos na nossa formação inicial e depois nas nossas várias especializações que fazemos ao longo da vida. Ao mesmo tempo que se faz o uso de novas tecnologias para tornar o trabalho e a gestão socioambiental mais assertiva e com menos desperdícios, até porque estamos tratando de um ambiente que não suporta mais erros ou dilapidação”, ensina.

 

Tecnologias emergentes
Nesse sentido, a inovação tecnológica aplicada ao saneamento e à gestão ambiental adota e aperfeiçoa tecnologias e processos que vão significar maior eficiência, redução de custos, mitigação de riscos, maior controle ambiental e melhor gestão de dados e processos ambientais.

 

A engenheira sanitária e ambiental Viviane Pereira Machado, em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fez uma preciosa pesquisa sobre as inovações tecnológicas no apoio à gestão ambiental de grandes obras de infraestrutura.

 

No TCC, ela aponta que o arcabouço tecnológico compreende sistemas de gerenciamento de processos de licenciamento ambiental e utilização de softwares, como o específico para gerenciamento de resíduos, por exemplo. Como o profissional diz, repete-se, também na engenharia sanitária e ambiental, a utilização de tecnologias emergentes, que vão desde a realidade virtual, business intelligence (BI), sistema de informação geográfica (SIG) online em nuvem, uso de drones etc. Há, também, a tendência tecnológica de automatização de processos com o uso e estruturação de big data, inteligência artificial e machine learning.

 

Desenvolvimento sustentável

O engenheiro observa que a engenharia sanitária atua diretamente no desenvolvimento sustentável, “avalio que o sentido da profissão é esse, garantir que as ações humanas tenham excelência, comprometimento, responsabilidade para não causar prejuízos ao meio ambiente”. Ele exemplifica algumas inovações criadas pela profissão para o desenvolvimento sustentável: “O reaproveitamento de resíduos sanitários e consequente redução de uso de adubos químicos na agricultura e a captação e aproveitamento dos gases residuais nas estações de tratamento de esgoto [ETEs] para produção de gás utilizado como combustível veicular.”

 

Em projeções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 2030, serão criados pelo menos 20 milhões de empregos ligados às práticas ambientais responsáveis em todo o mundo (Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018). Cintra entende que é uma projeção importante, mas não tem como auferir o que de fato será criado no País, por exemplo, na sua área profissional especificamente. Todavia, arrisca uma previsão de que o mercado de trabalho será muito promissor para os profissionais envolvidos com saneamento e ambiente. “No caso dos engenheiros sanitaristas está reservado um espaço diferenciado para atuação como técnicos e gestores”, destaca.

 

História
O Brasil passou anos sem um posicionamento determinado para os critérios de saneamento básico. A partir de 2007 com a criação da Lei 11.445, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, o País passou a ter um direcionamento aos serviços de saneamento e estipular metas com base em princípios fundamentais, como a universalização e a integridade dos serviços. Com base no artigo 3º da referida Lei, considera-se saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável; esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas.

 

O entrevistado
Orlando Cintra tem 65 anos e se graduou em química industrial e engenharia química, pelas Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo, e Engenharia Civil pela Universidade de Franca (Unifran), em Franca (SP). Fez especialização em Saúde Pública, em 1987, pela Universidade de São Paulo (USP) e mestrado e doutorado em Saneamento e Ambiente, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

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