Carlos Magno Corrêa Dias*
O “holocausto” (do grego: ‘holos’, "todo"; e, ‘kaustos’, "queimado") conhecido, também, como “shoah” (palavra hebraica que significa, literalmente, "destruição") foi um dos infelizes exemplos representativos da barbárie humana que ocorreu no século XX quando se permitiu a destruição sistemática (por perseguição, tortura, exclusão, expropriação, trabalho forçado, aniquilamento) de pessoas por outras “pessoas” que se atreveram aprimorar a técnica do extermínio em massa de seres humanos.
Todo ano, no dia 27 de janeiro, “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” ou “Dia Internacional da Lembrança do Holocausto”, a humanidade é chamada a não esquecer jamais o genocídio, o assassinato intencional em massa, o crime monstruoso, a abominação do holocausto ocorrido durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
Próximo de se completar 80 anos (8 décadas) da libertação dos prisioneiros de Auschwitz ocorrida em 27 de janeiro de 1945, não há como calar na memória o sofrimento imposto aos homens pelos próprios “homens” quando toda sorte de atrocidades foi imposta aos semelhantes humanos.
Lembrar do holocausto é recordar como o ser humano pode ser miserável e cruel, paradoxalmente, com a humanidade. O “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” foi oficialmente reconhecido pela resolução 60/7 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1 de novembro de 2005, durante a sua 42ª sessão plenária.
Os horrores do holocausto bem podem ser representados pelos desumanos tratamentos às pessoas que se multiplicaram nos campos de concentração e nos campos de extermínio mantidos por vários anos durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
O maior campo de concentração foi o de Auschwitz. Na verdade, Auschwitz foi uma estrutura composta de vários campos de concentração sendo formado, também, por um campo de extermínio. Auschwitz era formado por Auschwitz I (Stammlager, campo principal e centro administrativo dos campos), Auschwitz II-Birkenau (campo de extermínio), Auschwitz III-Monowitz, e outros 45 campos menores adjacentes. O complexo de Auschwitz estava localizado no município de Oświęcim (em alemão: Auschwitz) no sul da Polônia.
Estimativas dão conta que nos campos de Auschwitz, de maio de 1940 até janeiro de 1945, foram exterminadas entre 1,3 e 1,5 milhões de pessoas, sendo a maioria morta nas câmaras de gás. Mas, há, também, estudos que asseguram que nos campos de Auschwitz foram mortos cerca de 3 (três) milhões de pessoas.
Fato é que os seres humanos que não foram mortos nas câmaras de gás morreram de fome ou por doenças infecciosas. Outros muitos foram sumariamente executados ou perderam suas vidas por exaustão em trabalhos forçados contínuos. Alguns, também, foram assassinados como cobaias em experiências médicas.
Além de Auschwitz outros nove campos de concentração foram preparados para serem campos de extermínio de seres humanos; isto mesmo, para exterminar (aniquilar, extinguir) pessoas. Foram eles: Belzec, Chelmno, Jasenovac, Lwów, Majdanek, Maly Trostenets, Sobibor, Treblinka e Varsóvia.
Belzec foi um campo de extermínio localizado na Polônia ocupada e esteve em operação de março de 1942 a junho de 1943. Possuía 3 câmaras de gás onde se estima que foram mortas entre 400.000 e 500.000 pessoas. Mas, há a possibilidade que cerca de 600.000 seres humanos tenham falecido em Belzec. Poucos foram os sobreviventes que restaram para contar os horrores praticados em Belzec, talvez por isto mesmo seja difícil precisar quantas pessoas perderam suas vidas naquele campo de extermínio miserável.
Efetivamente construído “para matar”, o campo de extermínio de Chelmno (ou campo de concentração de Kulmhof) cumpriu seus propósitos exterminando entre 152.000 e 340.000 pessoas. Chelmno situava-se próximo da vila de Chełmno nad Nerem a 50 quilômetros da cidade polonesa de Łódź. O campo funcionou de dezembro de 1941 até janeiro de 1945.
Segundo relatos o campo de extermínio de Chelmno deveria exterminar todos os judeus do gueto de Łódź e de Warthegau. Lá foram assassinados, também, ciganos da Polônia, judeus húngaros, judeus checos e prisioneiros de guerra soviéticos.
Como o campo de Chelmno (campo de Kulmhof) o campo de concentração de Jasenovac, localizado na Croácia, foi, também, um campo de extermínio. Jasenovac operou de agosto de 1941 até abril de 1945 e segundo levantamentos realizados pela antiga Iuguslávia, entre 500.000 e 600.000 pessoas foram mortas naquele campo. Todavia, outros estudos dão conta que, possivelmente, lá teriam sido assassinadas entre 700.000 a 1.000.000 de pessoas.
Lwów, ou o gueto de Lvov, conhecido, também, como gueto de Lviv, gueto de Lwów ou gueto de Lemberg, foi outro dos lugares terríveis onde dezenas de milhares de pessoas sofreram desumanamente até serem exterminadas.
Localizado na cidade de Lviv, na Ucrânia ocupada pela Alemanha, o Lwów foi um dos maiores guetos tendo atingido mais de 120.000 habitantes cuja maioria foi transportada para ser eliminada no campo de extermínio de Belzec. O campo funcionou de setembro de 1941 a junho de 1943. Estima-se que quando o Exército Vermelho entrou em Lviv sobraram apenas entre 200 e 900 judeus.
Originalmente chamado pelos alemães de Konzentrationslager Lublin (Campo de concentração de Lublin) o campo de concentração de Majdanek foi denominado pelos próprios habitantes locais e se situava a quatro quilômetros da cidade de Lublin na Polônia. O campo operou de julho de 1941 a julho de 1944, tinha câmaras de gás e crematórios, chegou a ter uma capacidade para 250 mil prisioneiros que em trabalho escravo deviam produzir munição e armas.
Mas, o local acabou sendo transformado em campo de extermínio no qual se contabilizou “oficialmente” cerca de 78.000 pessoas mortas. Ao contrário dos demais campos de concentração que eram escondidos em regiões remotas (geralmente no meio das florestas) o campo de Majdanek ficava à vista das pessoas sem qualquer preocupação em esconder o local.
Outros dos miseráveis campos de extermínio foi o campo de extermínio de Trostinets (ou Maly Trostinets) que ficava perto da vila de Maly Trostinets nos arredores de Minsk, cidade da Bielorrússia (oficialmente, República da Belarus). O campo operou de julho de 1942 até outubro de 1943. Estimativas contabilizam entre 200.000 a 500.000 seres humanos exterminados naquele lugar.
A Polônia ocupada pela Alemanha teve vários campos de concentração e o campo de extermínio de Sobibor foi mais um deles. Este campo se destacou entre os demais, pois foi o único campo com uma revolta de prisioneiros bem-sucedida. Cerca de 300 prisioneiros conseguiram fugir. O campo teve suas atividades de maio de 1942 até outubro de 1943.
Em Sobibor julga-se que cerca 200.000 pessoas foram assassinadas. As pessoas eram sufocadas em câmaras de gás alimentadas pelo escapamento de um motor a diesel.
Localizado nos arredores da cidade de Treblinka, na Polônia, também, o campo de extermínio de Treblinka foi outro dos campos onde os prisioneiros foram mortos em câmaras de gás alimentadas por motores a explosão. Neste campo pela primeira vez se utilizou a cremação dos cadáveres para ocultar os correspondentes crimes praticados.
Em Treblinka os judeus deviam receber os comboios que chegavam, sendo obrigados e encaminhar os deportados para as câmaras de gás, retirar os cadáveres, bem como separar os objetos, extrair os dentes de ouro e proceder a cremação.
O campo de extermínio de Treblinka operou de julho de 1942 até novembro de 1943. Neste período acredita-se que foram exterminadas de 800.000 a 1.000.000 de pessoas.
Outro dos locais terríveis de subjugação do homem pelo próprio homem foi o gueto de Varsóvia. Objetivando o isolamento da população judaica de Varsóvia o gueto de Varsóvia era cercado por muros de tijolos vermelhos e chegou a confinar quase 500 mil pessoas em condições precárias de se viver.
Na Segunda Guerra Mundial os alemães estabeleceram pelo menos mil guetos na Polônia e na União Soviética. O gueto de Varsóvia se distinguiu, entretanto, por ter oferecido forte resistência à dominação de seus algozes.
O Gueto de Varsóvia foi o maior gueto estabelecido na Polônia durante o holocausto. Operaram-se lá crimes desde outubro de 1939 até abril de 1945. A maioria das mortes das pessoas originárias do gueto de Varsóvia, cerca de 102.000, foi decorrente de sufocamento nas câmaras de gás do campo de Treblinka para onde eram levadas as pessoas para morrer. Mas, muitos morrem de fome ou em decorrência de doenças, sendo milhares sumariamente executados.
Pelo breve relato citando apenas algumas ocorrências nos campos de extermínio sem levar em conta os vários campos de trabalho e de concentração que existiram pode-se inferir o grau de crueldade imposto aos seres humanos pelos próprios seres humanos durante o holocausto.
Todavia, sempre é necessário salientar, que quaisquer estimativas sobre número de mortes de civis ou de soldados desarmados sempre serão controversas haja vista não existirem documentos comprobatórios precisos para dar testamento. Muito dos registros foram destruídos ou sequer existiram para a contabilização daqueles totais.
Os números considerados “corretos”, porém, são sempre baseados em relatórios do período da guerra existentes ou nos levantamentos do pós guerra centrados ou nas políticas populacionais da época ou em estudos demográficos oficiais de perda populacional durante a Segunda Guerra Mundial.
Observe-se que é estimado um total entre 60 a 85 milhões de pessoas mortas durante toda a Segunda Guerra Mundial (números estes que são, também, controversos). Mas, assumindo sejam “corretas” tais quantidades tem-se que somente no holocausto, nos campos de concentração ou de extermínio, foram mortos algo em torno de 20% a 25% do total de vidas perdidas durante toda a Segunda Guerra Mundial. Apenas um absurdo.
Sempre é necessário salientar, também, que dentre os mortos gerados pelo holocausto não se tem apenas mortes de judeus (cerca de 6 milhões). Além dos judeus foram mortos civis soviéticos (cerca de 7 milhões); prisioneiros de guerra soviéticos (cerca de 3 milhões); civis poloneses que não eram judeus (cerca de 1,8 milhões); civis que habitavam territórios da Croácia, Bósnia e Herzegovina (cerca de 312.000); pessoas com deficiência (cerca de 250.000); Ciganos (cerca de 250.000); sem contar os homossexuais, alemães oponentes políticos do regime, ativistas dos movimentos de resistência, dentre muitos outros pertencentes a diversas minorias.
Que a história jamais possa registrar outras atrocidades tais como as praticadas em Auschwitz, Belzec, Chelmno, Jasenovac, Lwów, Majdanek, Maly Trostinets, Sobibor, Treblinka, Varsóvia ou em tantos outros locais miseráveis de horrores que se mantiveram durante a Segunda Guerra Mundial.
A humanidade não poderá jamais esquecer de contar sempre, continuamente, aqueles crimes cruéis, a miséria humana, as odiosidades, os atos insanos e brutais praticados durante o holocausto pelo homem contra o homem.
Que seja possível ao ser humano (“homo sapiens”, ser que pensa e decide) entender que SUBJUGAR O HOMEM PELO PRÓPRIO HOMEM contribui apenas para acabar com a humanidade. Preserve, eternamente, a “Memória das Vítimas do Holocausto”.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).