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30/01/2023

Amianto mata mais de 3.000 pessoas no Brasil entre 1996 e 2017

Fundacentro*

 

Registros de óbitos de 1996 a 2017 mostram a ocorrência de 3.057 mortes no Brasil por doenças relacionadas ao asbesto típicas (DRA-T), como causas subjacentes ou contributivas, em adultos com 30 anos ou mais. Desse total, 2.405 (76,4%) foram causadas por mesotelioma maligno (MM), sendo 1.404 casos em homens e 1.001 em mulheres. Trata-se de tipo de câncer diretamente relacionado ao amianto, que atinge o mesotélio da pleura, camada de revestimento do pulmão, ou ainda do pericárdio ou do peritônio. Aproximadamente três quartos de todas as mortes por MM foram na pleura.

 

AmiantoEsses números foram obtidos em estudo, realizado por pesquisadores da Fundacentro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade de Brasília (UnB) no Projeto multidisciplinar sobre a exposição ocupacional ao asbesto e seus efeitos à saúde no Brasil, para criar um único banco de dados de registros de morte por DRA-T. Eles publicaram os resultados encontrados no Volume 13, Edição 3, da revista Safety and Health at Work, através do artigo: Analysis of Mortality from Asbestos-Related Diseases in Brazil Using Multiple Health Information Systems, 1996-2017 (Análise da Mortalidade por Doenças Relacionadas ao Asbesto no Brasil Usando Múltiplos Sistemas de Informação em Saúde, 1996–2017).

 

Utilizaram-se cinco Sistemas de Informação em Saúde (SIS) – Sistema de Informação de Mortalidade (SIM); Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS); Comunicação de Internação Hospitalar (CIH) / Comunicação de Informação Hospitalar e Ambulatorial (CIHA) da iniciativa privada; Registro Hospitalar de Câncer do Inca (Instituto Nacional de Câncer); e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Também foram consultados dados de um repositório de casos de doenças relacionadas ao asbesto de três ambulatórios especializados em doenças respiratórias ocupacionais – Fundacentro, InCor/USP (Instituto do Coração / Universidade de São Paulo) e Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Fiocruz).

 

“Os principais desafios para esses sistemas nacionais de informações sobre mesotelioma são a necessidade de garantir procedimentos de diagnóstico padronizados e precisos, além de histórico ocupacional detalhado que permita estabelecer o nexo causal com o trabalho, necessário para indenizações legais e benefícios compensatórios”, defendem os pesquisadores.

 

Resultados

A análise dos 3.057 registros de óbitos por DRA-T mostra que a taxa de mortalidade masculina por mesotelioma foi de 0,98 x 1.000.000 habitantes em 1996 para 2,26 em 2017, um aumento de 131,1%. Para mulheres, foi de 1,04 para 1,25, crescendo 20,2%. Também se constatou que a proporção de MM masculino para feminino (M:F) foi de 1,4:1, e as proporções mais altas foram encontradas para DRA-T não maligna: 3,5:1 para asbestose - uma fibrose intersticial pulmonar associada a níveis elevados de exposição e espessamento pleural; e 2,4:1 para placas pleurais - caracterizadas pelo espessamento da pleura parietal. 

 

“A mortalidade por MM em homens foi maior e mostrou um rápido aumento e, junto com DRA-T não maligno, razões M:F mais altas sugeriram um padrão predominante de exposição relacionada ao trabalho”, afirmam os autores.  As mortes masculinas por MM tiveram maior probabilidade de ocorrer na faixa etária de 64 anos ou mais (46,3%), exceto para MM do pericárdio, que foi mais prevalente na faixa etária de 51 a 64 anos (41,4%). Para as mulheres, a distribuição foi semelhante. No entanto, elas tiveram maior porcentagem de MM peritoneal (22,9%) em comparação com os homens (13,2%). No caso de DRA-T não maligno, as mulheres tendem a morrer em idades mais avançadas.

 

“O monitoramento da exposição laboral e ambiental ao amianto precisa ser aprimorado, bem como a vigilância dos trabalhadores, após a recente proibição brasileira”, avaliam. A proibição do asbesto está em vigor em 67 países e foi adotada no Brasil em 2017. O uso dessa fibra no país começou em meados da década de 1930, cresceu a partir do final da década de 1960 e atingiu o pico de consumo de 1985 a 1991.

 

Os pesquisadores ressaltam que doenças relacionadas ao amianto continuarão a aparecer muito tempo após o término da exposição ocupacional, como resultado de contaminação ambiental, longa latência e estado irreversível de exposição passada. Outro aspecto é o possível subdiagnóstico ou subnotificação. O uso de múltiplas fontes de dados foi uma das ferramentas para reduzi-los. Os autores ainda fizeram comparações com dados da Itália e dos Estados Unidos.

 

 

 

 

 

 

 

*Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho.

 

 

 

 

 

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Comentários  
# RESPOSTAComunicação SEESP 02-02-2023 15:33
Olá engenheiro Vicente, obrigado pelo comentário e contribuição. Conforme o estudo objeto da matéria, os dados se referem a doenças ocupacionais - trabalhadores de amianto (na mineração e indústrias) -, abarcando também exposição por morar próximo a esses locais, no transporte ou contato com roupas contaminadas. Não inclui casos individuais em função do amianto já "aprisionado" (telhas, caixas d´água etc.), como o senhor bem observou. À disposição, por favor continue a acompanhar nossas publicações, atividades e dar sua valiosa contribuição. Obrigado novamente
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# EngenheiroVicente José Campite 02-02-2023 09:54
A matéria é muito interessante, porém seria oportuno informar como se deu a exposição das pessoas afetadas pelo amianto, pois há muitas dúvidas quanto a segurança do amianto que já está embutido nas peças de construção, sejam telhas, caixas d´água ou em outras aplicações.
Creio que os casos apontados se referem a inalação do mineral junto aos resíduos de sua extração e não no amianto já "aprisionado", estou certo?
Grato pela atenção
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