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02/05/2023

Dono do Cristo Rei gerou Patrimônio Histórico e Cultural

 

Carlos Magno Corrêa Dias *

 

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (também chamada de Constituição Cidadã), aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em 22 de setembro  e promulgada em 5 de outubro daquele ano, instituiu no Brasil um Estado democrático cuja razão fundamental é “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus”.

 

Na Constituição de 1988, em seu artigo 216, está definido que no Brasil “os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e, V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”, constituem o Patrimônio Cultural Brasileiro.

 

Segundo o mesmo artigo 216, tanto municípios e estados quanto o poder público federal, com a colaboração da sociedade em geral, são responsáveis por desenvolver políticas públicas adequadas para reconhecimento, proteção e valorização do patrimônio cultural, utilizando formas de acautelamento e preservação, tais como tombamento, registros, inventários, dentre outras maneiras cabíveis.

 

Especificamente, entretanto, dado se entender que “um povo é conhecido e identificado quando se analisa e se compreende seus valores, sua história e sua cultura”, sendo “função do Estado e um dever da sociedade proteger o patrimônio histórico cultural, pois se trata da preservação da identidade de um povo”, o tema da preservação do patrimônio histórico e cultural no Brasil encontra-se tratado, também, em seus detalhes, no Decreto-Lei Federal número 25, de 30 de novembro de 1937, o qual constitui a primeira norma jurídica que dispõe objetivamente sobre Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil.

 

É importante frisar que os bens culturais de natureza material e imaterial, ou sejam os patrimônios materiais e imateriais, são evidenciados e protegidos a partir de manifestações ou produções humanas representativas de uma cultura coletiva. E, assim sendo, um mesmo patrimônio (material ou imaterial) pode ser reconhecido em duas ou três esferas simultaneamente, de acordo com sua representatividade e importância para a preservação da memória coletiva através do tempo.

 

As correspondentes proteções acontecem por meio de registros, quando referentes ao patrimônio imaterial, e por intermédio de tombamento, inventário ou legislação específica no caso do patrimônio material. Saliente-se, então, que se um patrimônio histórico ou cultural for importante para uma cidade, então aquele patrimônio poderá ser reconhecido pelo município; todavia, sendo representativo de um Estado, se procederá o tombamento estadual. Claro, também, que se um patrimônio apresentar importância para toda uma nação, a proteção poderá ser realizada na esfera federal. Porém existem, ainda, aqueles patrimônios históricos ou culturais ditos da humanidade, quando há o reconhecimento mundial.

 

No Brasil, na esfera federal, tanto o desenvolvimento e implementação de políticas de proteção e de preservação do Patrimônio Histórico e Cultural quanto a oficialização dos respectivos reconhecimentos estão a cargo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o qual foi criado pelo Decreto-Lei Federal número 25/1937, com a denominação original de Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

 

Atualmente o Iphan é composto por 27 Superintendências Estaduais, responsáveis por responder pela coordenação, planejamento, operacionalização e execução das ações do Iphan em âmbito estadual, sendo as Superintendências Estaduais responsáveis pelo processo de articulação para a instituição de parcerias necessárias ao cumprimento dos planos e políticas de gestão e promoção do Patrimônio Cultural Brasileiro.

 

Observe-se, então, que os bens materiais e imateriais do Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil, que tanto podem ser um imóvel ou uma obra de arte, uma maneira de se expressar ou uma forma de se viver, devem estar sob a proteção do poder público, seguindo o correspondente ordenamento jurídico, o qual contempla a tutela dos bens reconhecidos com auxílio de órgãos de reconhecida competência. Importante ressaltar que embora a conservação dos bens do Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil seja de responsabilidade de órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, é necessária, também, a atuação efetiva da sociedade organizada para apoiar a preservação e fiscalizando do Patrimônio Histórico e Cultural da nação. 

 

A ideia básica de se preservar o Patrimônio Histórico e Cultural, que constitui o conjunto das manifestações que emanam da sociedade num determinado local ao longo do tempo, é perpetuar as marcas da história de um povo no tempo para se assegurar a diversidade cultural e promover sua identidade. O Patrimônio Histórico e Cultural é uma referência simbólica dos cidadãos em relação ao tempo e ao espaço no qual habitam que ensina as futuras gerações.

 

A partir de 1937 surgem no Brasil de forma sistematizada as primeiras iniciativas concretas de proteção dos bens materiais e imateriais nos Estados. Mas, já em 1935, pela Lei Estadual número 38, de 31 de outubro, no Paraná é instituído o Conselho Superior de Defesa do Patrimônio Cultural do Paraná. Inicia-se, entretanto, o processo de consolidação da defesa do patrimônio dos bens materiais e imateriais no Paraná em 1938, com o “tombamento” de diversos bens, tais como edifícios e acervos museológicos.

 

No âmbito estadual do Paraná, as medidas visando o reconhecimento e preservação dos bens do Estado do Paraná seguem fortalecidas, e em 1948 é criado o Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná e a Divisão de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, por intermédio da Lei Estadual número 112, 15 de outubro de 1948. Em 16 de setembro de 1953 é sancionada a Lei número 1.211 a qual dispõe sobre o Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Estado do Paraná. Em 1979 foi criada a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná e a Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná, bem como órgãos suplementares para se fazer cumprir a Lei 1.211/1953 no que tange à preservação dos bens de interesse histórico e/ou artístico do Paraná e à assessoria técnica e fiscalização correspondentes.

 

Pensando-se em uma ação conjunta e mais intensificada da administração estadual com as administrações municipais, foram propostas a criação de associações de preservação do patrimônio cultural e natural nos municípios. De imediato, aderiram à proposição os municípios de Antonina, Castro, Jacarezinho, Morretes, Palmeira, bem como São Mateus do Sul, os quais passaram a realizar o “tombamento” de diversos de seus bens julgados importantes por suas comunidades.

 

O “tombamento”, o instrumento mais conhecido de reconhecimento e de proteção do Patrimônio Histórico e Cultural no Brasil, tanto pode ser feito pela administração federal quanto estadual e municipal. Todavia, é no âmbito municipal que tem maior incidência, haja visto, por certo, a proximidade da comunidade com os bens a serem tombados. 

Interessante observar que o vocábulo “tombo” (no sentido de significar “registro”) tem sua origem no Arquivo Nacional Português (fundado em 1375), que esteve instalado em uma das torres da muralha que protegia a cidade de Lisboa e que passou a ser conhecida como a “Torre do Tombo”, onde se guardavam “livros de registros especiais” ou os chamados “Livros do Tombo”.

 

No Brasil, quando do estabelecimento do Decreto-Lei 25/1937, o termo “tombamento” foi emprestado para se fazer referência ao bem material passível de acautelamento, o qual, por intermédio de ação oficial administrativa, passava a ser registrado no respectivo “Livro do Tombo”. A partir de meados dos anos 1960, surge um intensificado interesse pelo reconhecimento do Patrimônio Histórico e Cultural no Brasil, quando começa, em consequência, um aumento significativo no número de tombamentos por todo o País, tornando a ação de se registrar o Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil uma necessidade.

 

No Paraná, em particular naquelas cidades onde foram criadas associações de preservação do patrimônio cultural e natural, seguidas gerações almejavam ver os bens de seus municípios reconhecidos e preservados para melhor contar as histórias dos seus antepassados; sentimento este muito bem desenvolvido, por exemplo, em Jacarezinho, que tem sua história intimamente ligada com a história do Norte Pioneiro do Estado do Paraná.

 

Jacarezinho reúne importantes itens do Patrimônio Histórico e Cultural do Paraná e do Brasil, tal como o caso do Colégio Cristo Rei, localizado no centro do município, na Avenida Manoel Ribas, número 670. O Colégio Cristo Rei de Jacarezinho entrou para o seleto grupo de escolas tombadas pelo Patrimônio Histórico do Paraná devido à grande importância na história de toda a região e pelo valor e qualidade da sua arquitetura. A história do Colégio Cristo Rei se confunde, também, com a história de todo o Norte Pioneiro do Estado do Paraná.

 

Colégio Cristo Rei de Jacarezinho, quando de sua inauguração. Foto: Arquivo dr. Celso Antônio Rossi/Portal da Cidade de Jacarezinho 

O Colégio Cristo Rei (“Gymnásio” Cristo Rei) de Jacarezinho foi fundado (inaugurado) no dia 19 de março de 1935 (Dia de São José) pelo então primeiro Bispo da Diocese de Jacarezinho, a qual havia sido criada no ano de 1926. Cabe ressaltar que embora o prédio monumental e majestoso, onde funcionou ininterruptamente o Colégio Cristo Rei por mais de 65 anos (de 1935 até 2000), tenha levado apenas dois anos para ser edificado (um recorde na época), sempre foi considerado detentor de uma arquitetura marcante na paisagem urbana de Jacarezinho e demasiadamente significativo por ter contribuído na formação educacional e cultural de diversos jovens do Paraná e do interior de São Paulo.

 

Na época de sua fundação, o Colégio Cristo Rei (dirigido pelos padres palotinos) representava um dos maiores e mais completos estabelecimentos do ensino secundário do Brasil, e a pequena Jacarezinho (que iniciava a expansão cafeeira para outras regiões) vivia sua fase pioneira a qual foi de grande progresso e desenvolvimento ficando conhecida como a era do “ouro verde”.

 

Naquela época de expansão do Norte Pioneiro do Estado do Paraná era impressionante a extensão dos cafeeiros, a grandiosidade dos armazéns para estocagem e fervilhava intensamente o espírito empreendedor e a vontade de crescer e vencer dos pioneiros. Tais foram os avanços que simplesmente o mundo percebia o Norte do Paraná como um novo “Eldorado” de infinitas possibilidades. Foi diante daquela efervescência de crescimento e progresso dos anos 1920 que o primeiro Bispo de Jacarezinho, Dom Fernando Taddei (1867-1940), sacerdote católico ítalo-brasileiro, percebeu (de maneira algo visionária) a necessidade da instituição do Colégio Cristo Rei para educar e formar as futuras lideranças e dirigentes do país.

 

O Colégio Cristo Rei era uma instituição multivalente que oferecia ensino primário, ginásio e científico (ou ensino clássico) de qualidade na forma de internato e externato fornecendo estudo, hospedagem, alimentação (café da manhã, almoço, lanche, jantar), formação, lavanderia, lanchonete, missas, ensino de línguas estrangeiras (latim, alemão, francês, inglês), esportes, cinema, ginástica, papelaria, lazer, artes, cultura, e até aulas de datilografia para centenas de jovens seguindo a rígida disciplina alemã que fora adaptada pelos Padres Palotinos à realidade do Brasil. Formação literalmente completa era o que se pretendia.

 

Como alma mater de diversas gerações de cidadãos incluindo membros da família imperial “Orleans e Bragança” e muitas ilustres personalidades da história do Brasil, o Colégio Cristo Rei foi berço que produziu cidadãos preparados não apenas para a vida profissional de excelência, como também para a vida social, familiar e política. Dos bancos das salas de aula do Cristo Rei surgiram administradores, advogados, arquitetos, artistas, atletas, bancários, deputados, economistas, empreendedores, empresários, engenheiros, governadores, industriais, jogadores, médicos, pilotos, prefeitos, professores, senadores, ministros, servidores públicos, vendedores, vereadores, muitos dos quais renomados, que contribuíram para o progresso da região e do Brasil.

 

Considerado de grande valor histórico e um dos maiores e mais completos estabelecimento de ensino do país (que se destacou por garantir o binômio formação-educação no nível da excelência) a aprovação do tombamento do Colégio Cristo Rei como Patrimônio Histórico do Paraná, ocorrida em 8 de abril de 2015, foi estabelecida por unanimidade no Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná.

 

O Cristo Rei se distingue de diversas formas para manter a excelência na formação-educação de seus alunos sendo destacada a concepção de formação integral que mantinha haja vista o forte compromisso de não apenas valorizar a formação acadêmica, mas, também, e essencialmente, promover a educação para a cidadania, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a prática de valores éticos e morais. Tamanha foi a reputação alcançada pelo Cristo Rei de fornecer um ensino de qualidade que em pouco mais de dez anos de existência o colégio já contava com cerca de trezentos alunos matriculados anualmente, quantidade esta fenomenal para a época.

 

Com uma equipe de professores altamente qualificados, de notório saber e empenhados em educar e desenvolver seus alunos seguindo a tradição católica o Colégio Cristo Rei constantemente aprimorava sua missão educativa e sua prática pedagógica mantendo, também, uma infraestrutura moderna constantemente atualizada com as novidades e inovações que iam surgindo, principalmente, da Alemanha. Por tais diferenciais chegou-se a afirmar, sem medo de errar, que o Cristo Rei de Jacarezinho formou a elite mandatária mais qualificada de toda região sul e parte da região sudeste do Brasil.

 

Mas a importância e a mística que o Colégio Cristo Rei alcançou ao longo de sua história deve-se ao posicionamento, árduo trabalho e dedicação dos homens que o mantiveram. Instituições de qualidade somente se formam e se mantém por décadas sem perder o valor devido ao incansável trabalho de homens determinados que dedicam suas vidas para ver prosperar as instituições das quais sentem-se como parte integrante.

 

Muitos dos professores e diretores do Colégio Cristo Rei fizeram ser o Cristo Rei o sucesso que foi e foram figuras ímpares naqueles tempos. Mas, até o dia 4 de março de 1959, corriam boatos nas ruas de Jacarezinho que o Cristo Rei tinha um “dono” tal era o esmero, cuidados e proximidade que um determinado professor mantinha com o Cristo Rei. Este homem foi o padre e professor Magno Sauter (1908-1959), que dedicou intensamente quase a metade de sua vida em favor do Colégio Cristo Rei de Jacarezinho. Neste 2023 são, então, completados 115 anos de seu nascimento.

 

Magno Sauter nasceu na cidade alemã de Dächingen (Daechingen) em 12 de abril de 1908 antes, portanto, da Primeira Guerra Mundial, que ocorreu entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918. Com pouco mais de dez anos de idade, o jovem Magno Sauter presenciou as duras consequências do pós-guerra as quais bem influenciaram sua vida.

 

Pouco se sabe, entretanto, sobre a juventude de Magno Sauter antes de vir para o Brasil em 1935 trabalhar no então Ginásio Cristo Rei em Jacarezinho, a não ser que fora ordenado sacerdote em Salzburg (Áustria) em 1934 pela “Sociedade do Apostolado Católico” (“Societas Apostolatus Catholici” - S.A.C.). O padre Magno Sauter era, portanto, um membro dos padres e irmãos palotinos, e veio para o Brasil juntamente com outros padres, atendendo ao convite do primeiro Bispo de Jacarezinho para formarem o quadro de professores do Colégio Cristo Rei que, naquele ano de 1935, iniciava suas atividades.

 

Os palotinos (padres e irmãos palotinos), membros da S.A.C. fundada em 1835, são seguidores do padre, teólogo e doutor em Filosofia, o italiano Vincenzo "Vicente" Pallotti (1795-1850), o qual foi declarado santo durante o Concílio Vaticano II, em 20 de janeiro de 1963, e que propôs o conceito de apostolado católico (ou apostolado universal).

 

O padre Magno Sauter, como os demais padres palotinos que vieram trabalhar no Colégio Cristo Rei, acreditava que os princípios do apostolado da S.A.C. podiam ser sempre alcançados de forma concreta quando fiéis devotos de São Vicente Pallotti se empenhavam em associação para promover a colaboração entre leigos, clérigos e religiosos visando o bem comum de todos. E na defesa de semelhante prerrogativa resultou muito do sucesso do Cristo Rei.

 

O padre Magno Sauter, o professor Magno (como muitos o chamavam), conquistou toda Jacarezinho, sendo estimado e admirado não apenas pelos alunos e pelos pais de alunos, mas por todos da cidade, independentemente das relações que mantinham com o Colégio Cristo Rei.

 

Sempre com sua “antiga” batina preta, mas impecável, o padre Magno Sauter foi um homem alto cujo porte físico chamava a atenção. Homem de grande inteligência e sabedoria o padre Magno Sauter se destacou como professor, educador e líder religioso na região de Jacarezinho sendo, também, um dos principais líderes da comunidade e responsável direto pela formação de vários padres e religiosos da região.

 

Contam aqueles que conheciam o padre Magno Sauter (principalmente os que foram seus alunos) que ele possuía preferência por lecionar as disciplinas de Matemática, Física e Desenho. E todos foram unânimes em dizer que como professor de Matemática era apenas o melhor de todo o Colégio (quiçá de todo o Norte Pioneiro) demonstrando um domínio surpreendente da Matemática que ultrapassava em muito os limites daquilo que se exigia ensinar.

 

Durante sua permanência no Cristo Rei, que durou até o final de sua vida, além de excelente professor, foi diretor por várias vezes e sempre agiu com sua toda energia para o melhor do Cristo Rei e para a boa formação cultural, propedêutica, religiosa e moral dos alunos. Sempre um incentivador dos talentos que reconhecia dente seus alunos foi responsável pela indicação de vários profissionais que inovaram em Jacarezinho como é o caso, por exemplo, da indicação do jovem artista plástico mineiro José Waldetaro Moura e Dias para ajudar na elaboração dos incríveis quadros murais da Catedral Diocesana de Jacarezinho (Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição) os quais foram mais recentemente tombados pelo Patrimônio Cultural do Paraná.

 

Conforme relatos, o padre Magno Sauter recomendou fortemente José Waldetaro Moura e Dias, natural de Botelhos (MG), para trabalhar na execução das pinturas da Catedral de Jacarezinho devido a reconhecer no então jovem citadino a “qualidade do detalhe na elaboração dos desenhos que executava em suas aulas de Desenho”. As obras de arte da Catedral de Jacarezinho foram executadas entre os anos de 1954 e 1957 e cobrem cerca de 600 metros quadrados das paredes internas daquele importante patrimônio do Estado do Paraná e do Brasil.

 

Muito embora o professor padre Magno Sauter tivesse suas disciplinas preferidas para lecionar nada o impedia de ministrar (e bem) aulas de outras matérias como Biologia, Ciências, Geografia, História, Inglês, Química, dentre outras. Sempre que houvesse o impedimento de algum Professor de ministrar suas aulas lá vinha o professor Magno Sauter fazer a substituição. E corria até a lenda que os alunos torciam para que o professor Magno Sauter viesse realizar uma substituição dada a excelência com a qual condizia os ensinamentos. Magno Sauter foi um grande professor/educador.

 

O Colégio Cristo Rei só prosperava cada vez mais e tudo graças às contribuições do professor Magno Sauter e Jacarezinho agradecia. Num dado momento o padre Magno Sauter era a mais notável autoridade da cidade. Todos reconheciam no professor Magno Sauter qualidades e o mais importante, além de o admiraram, os citadinos confiavam no “dono do Colégio Cristo Rei”. Sim, diziam (com todo respeito e deferência) que o padre Magno era o “dono do Cristo Rei”. Toda vez que o padre Magno Sauter esteve à frente da direção do Cristo Rei, o Colégio dava saltos de qualidade e inovação. Administrador por excelência, o padre Magno Sauter fez a diferença e se tornou uma das maiores personalidades da história de Jacarezinho.

 

Depois de uma atuação brilhante de quase um quarto de século no Colégio Cristo Rei como competente professor de várias matérias, educador por excelência, membro ativo da Comunidade Jacarezinhense e um dos mais respeitados líderes religiosos da região, o padre Magno Sauter veio a falecer em 4 de março de 1959 com apenas 50 anos de idade. Naquele dia Jacarezinho simplesmente parou.

 

O cortejo fúnebre do Padre Magno Sauter seguiu em procissão das portas da entrada da Catedral de Jacarezinho até o Cemitério Municipal sendo acompanhado por Jacarezinho inteira e por Sacerdotes vindos de todo o Paraná. O caixão do Padre Magno Sauter foi levado a pé e seguido por milhares de pessoas que caminharam ao longo da antiga estrada que dava acesso ao Cemitério ainda não asfaltada e sem calçamento com mais de 4km de extensão em um dia bem quente e ensolarado. Aquela estrada depois de urbanizada recebeu o nome de Alameda Padre Magno em homenagem ao notável Padre Magno Sauter.

 

Também para homenagear o padre Magno Sauter em Jacarezinho existe a Escola Estadual Padre Magno, localizada no centro da cidade na Rua Francisco Figueiredo, no. 50, no Jardim Maria Lúcia; cabe observar, também, que atualmente o Núcleo Regional de Educação de Jacarezinho fica localizado na Alameda Padre Magno, no. 354.

 

Quando se faz a revisão histórica sobre o tombamento do Colégio Cristo Rei como Patrimônio do Estado do Paraná, há de se parabenizar sempre toda sua trajetória de contínuas contribuições para o progresso e desenvolvimento do Estado do Paraná gerando importantes líderes que bem conduziram os destinos da região. Todavia, da mesma forma que não se pode pensar no desenvolvimento do Norte Pioneiro do Paraná sem chamar Jacarezinho e não há como pensar em Jacarezinho sem falar no Colégio Cristo Rei, não é possível mencionar o Colégio Cristo Rei sem enaltecer o Padre Magno Sauter aquele que foi seu maior e mais notável integrante. 

 

 

* Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep)

 

 

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