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18/07/2023

Engenharia para universalizar o saneamento e propiciar qualidade de vida

Jéssica Silva/Comunicação SEESP

 

Garantir água potável e saneamento a todos é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU). No Brasil, a universalização dos serviços tem meta para acontecer: até 31 de dezembro de 2033, conforme a Lei 14.026/2020.

 

A responsabilidade do País em investir na área significa mercado de trabalho aberto aos engenheiros sanitaristas. É o que afirma o engenheiro Allan Arnesen, gerente do Departamento de Acervo e Normalização Técnica da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “Minha perspectiva é de que teremos muitas oportunidades aos profissionais da área, seja para atuar nas companhias de saneamento, como projetistas ou nas empresas que executam as obras e gerenciadoras”, ratifica.

 

Há 11 anos na companhia, Arnesen atuou em importantes projetos de elaboração de regulamentos técnicos de padrões de qualidade dos serviços prestados pela Sabesp, que culminaram nas normas NBR 17015 e 17004 – reforçando o papel que a empresa pública paulista tem em relação ao setor nacional. “As obras que são feitas em São Paulo são exemplos para outros estados”, ele pondera.

 

Atividades com foco no controle sanitário do ambiente; captação e distribuição de água; tratamento de água, esgoto e resíduos; controle de poluição; drenagem; higiene e conforto de ambiente são algumas das atividades primárias do engenheiro sanitarista, de acordo com o Mapa da Profissão.

 

Para Arnesen, vai além de uma atividade laboral, é de fato “uma contribuição à qualidade de vida das pessoas”. Apaixonado por ciências exatas desde a infância, ele fez carreira especializando-se em sensoriamento remoto o que, em sua visão, possibilitou ampliação de seu rigor técnico.

 

Em entrevista ao SEESP, ele conta sua trajetória profissional, sua visão sobre a Sabesp, mercado de trabalho e dá dicas aos profissionais ingressantes.

 

EngSanitarista AllanArnesenO engenheiro sanitarista Allan Arnesen, gerente do Departamento de Acervo e Normalização Técnica da Sabesp. Foto: Acervo pessoal.

 

 

O que o levou a cursar Engenharia Sanitária e como tem sido sua trajetória profissional?

Eu sempre fui um apaixonado por ciências exatas, desde a infância, matemática, física. Eu também gostava muito de água, então associei as duas coisas e escolhi o curso na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foram seis anos de aprendizado que, próximo do final, teve um grande enfoque nas tecnologias e boas práticas de engenharia aplicadas ao saneamento, água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos. Ao concluir a graduação, passei no mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, em sensoriamento remoto, e foi muito importante para que eu aumentasse meu rigor técnico. Lá, eu continuei trabalhando com água, com sensoriamento remoto aplicado no controle de água, que aborda inundações e outras questões relacionadas. Ao término do mestrado, prestei o concurso da Sabesp, em 2012, e fui chamado para trabalhar. Entrei na Superintendência de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, o que foi muito legal, porque tive a oportunidade de continuar estudando. Saí do mundo acadêmico para enfrentar os desafios do mundo real, conhecendo os desafios de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto em cidades complexas como São Paulo.

 

Hoje o senhor atua como líder do departamento responsável por desenvolver normas técnicas que estabelecem padrões de qualidade para os produtos e serviços da Sabesp?

Sim, em 2018 fui convidado a assumir a gerência do Departamento de Acervo e Normalização Técnica da Sabesp. Sou responsável por três frentes de trabalho. A primeira, o acervo técnico da empresa, que arquiva todos os documentos técnicos resultantes de projetos, estudos e obras e aquisições de equipamentos. A segunda é a biblioteca. A Sabesp tem uma biblioteca que tem como foco fomentar a inovação, então estamos continuamente tornando esse espaço vivo, pulsante, trazendo temas para discussão, para que todos os colaboradores da empresa possam se aprimorar. E a terceira frente e principal é a normalização técnica.

 

Como é esse trabalho?

Temos uma equipe de engenharia que atua no desenvolvimento de normas técnicas. A gente elabora e revisa. Temos um acervo com mais de 200 normas técnicas, que abordam aquisição de equipamentos essenciais aos processos de água e esgoto e também execução de obras, normas de processos e procedimentos. É bem amplo, mas sempre com foco na engenharia e nas boas práticas que devem ser seguidas para que todo o negócio da companhia seja eficiente.

 

Qual projeto de maior destaque em que o senhor já atuou?

Eu poderia dizer que foi a atualização do acervo de normas de instalação de tubulações lineares. Não foi apenas um projeto, foi a somatória de vários. Nós fizemos a atualização do acervo de normas para assentamento de tubos de polietileno, que é o material mais utilizado por conta dos métodos não destrutivos. Depois fomos à Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, para contribuir com o acervo nacional, levar as boas práticas da Sabesp. A companhia tem uma forte atuação na ABNT; eu coordeno uma comissão que teve a oportunidade de olhar toda a normativa que existia no passado nesse tema específico e fazer o trabalho de juntar todo o conteúdo técnico em uma única normativa que estabelecesse os critérios e os requisitos de qualidade para execução de obras lineares de saneamento, o que resultou na NBR 17015. Paralelamente, fizemos um trabalho com a Comgás e levamos à ABNT a demanda por uma norma de métodos não destrutivos. As companhias colocaram seus engenheiros e corpo técnico à disposição e desenvolvemos a NBR 17004.

 

Quão relevante é essa atuação da companhia ao setor no País?  

A imensa maioria das obras em saneamento são ativos lineares, então foi muito importante a gente atualizar o referencial normativo que estabelece as boas práticas para a execução dessas obras. A Sabesp, por estar no estado de São Paulo e ser uma empresa bem estruturada, tem a responsabilidade de contribuir com o saneamento nacional. Claro que nesses projetos representantes de diversas empresas de saneamento do País também participaram, além de fornecedores. Todo o trabalho em conjunto foi bom para que estabelecesse uma linha de base nacional única, o que possibilita até a economia em escala para o setor. As obras que são feitas em São Paulo são exemplos para outros estados, as empreiteiras sabem como fazer, os fornecedores o que produzir etc..

 

Na sua visão, como fica essa atuação caso a intenção do Governo do Estado de privatizar a companhia prospere?

Nosso corpo técnico é de excelência, multigeracional, e isso é positivo para seguirmos elevando a qualidade dos serviços prestados à população. Em empresas privadas o que se vê é a alta rotatividade da mão de obra, é aí que tudo isso acaba se perdendo. Esses profissionais devem ser preservados, valorizados, essa bagagem técnica deve ser preservada. A nossa responsabilidade enquanto empresa tem que ser com a busca contínua de maior eficiência nos nossos processos, agregando inteligência, trazendo automatizações, buscando tecnologias. Nosso propósito é qualidade de vida e saúde pública.

 

Como está o mercado de trabalho hoje para o engenheiro sanitarista?

Quando entrei na faculdade há quase 20 anos, a Engenharia Sanitária era tida como a engenharia do futuro. Acabou não acontecendo como pensávamos na época, porque o saneamento depende também de vontade política. Mas, com o marco regulatório, minha perspectiva é de que teremos muitas oportunidades aos profissionais da área, seja para atuar nas companhias de saneamento, para atuar como projetistas, nas empresas que executam as obras e gerenciadoras.

 

Quais dicas o senhor daria para os ingressantes na área?

Qualificação é fundamental, é a base. Sugiro como uma hardskill a especialização em gestão de ativos. É um tema que tem ganhado muita importância, é uma oportunidade de geração de valor para o negócio, de como o ativo pode render ao longo de todo seu ciclo. E como uma softskill, sugiro que o engenheiro busque aprimorar sua comunicação. Não dá mais para pensar que conhecer a técnica basta, ele tem que se comunicar muito bem, colocar claramente suas ideias, ter participação nas redes sociais, atuar em congressos, simpósios, fomentar a troca de informações. Pensávamos que quem detém a informação tem o poder. No saneamento, temos que compartilhar essa informação. O trabalho vinculado ao saneamento, mesmo que seja uma planilha, não é somente um trabalho, é uma contribuição à qualidade de vida das pessoas.

 

 

 

 

 

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