Jéssica Silva – Comunicação SEESP
Engenheiro ambiental desenvolve pesquisa relativa a nitrificação e desnitrificação, com foco em reduzir custos operacionais e impactos ambientais em tratamento de esgoto.
Pensar em soluções de desenvolvimento sustentável passa por construir cidades inteligentes, e a engenharia é indispensável nesse processo. É com essa máxima que o engenheiro ambiental César Pitol realiza pesquisa de mestrado sobre a remoção de nitrogênio de esgotos sanitários via oxidação anaeróbia de amônia. O processo é um atalho ao que é empregado comumente nas estações de tratamento e resulta, conforme ele explica, em reduções da demanda energética e em emissões de gases de efeito estufa.
Formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), onde também cursa o mestrado em Engenharia Hidráulica e Ambiental, Pitol iniciou sua trajetória profissional em consultoria ambiental, atuando em projetos de relevância como o de monitoramento da qualidade da água do Rio Doce (ES), após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.
Já na área de saneamento, aos 25 anos, pretende se especializar ainda mais em processos de tratamento, convencionais e inovadores. Nesta entrevista ao SEESP – que abre a seção #CarreiraNaEngenharia de 2024 –, o engenheiro fala ainda sobre mercado de trabalho e lista seis dicas cruciais de aprimoramento profissional.
Por que decidiu cursar engenharia?
Posso dizer que vivi a clássica história de muitos outros engenheiros: tinha facilidade com exatas no ensino médio e via na engenharia o que imaginava ser uma aplicação mais prática dos conteúdos que aprendi, sobretudo a matemática e física. Além disso, o fato de meus pais serem engenheiros certamente exerceu uma grande influência nesse sentido.
Como ingressou no mercado de trabalho? Quais dificuldades enfrentou?
Tive meu primeiro contato com o mercado de trabalho como estagiário em uma consultoria ambiental, trabalhando com investigação e remediação de áreas contaminadas. Minhas maiores dificuldades, à época, foram relacionadas a minha adequação à realidade corporativa – que exigia uma grande carga de trabalho em prazos curtos – e, sobretudo, à área de atuação em si. Digo isso, pois, na faculdade, tive pouco contato com matérias relacionadas à Geologia, então minha base de conhecimento nesse início não era muito significativa.
Qual projeto de destaque participou em sua trajetória profissional?
Trabalhei inicialmente com o monitoramento da qualidade d'água do delta do Rio Doce (ES), para a Fundação Renova, com objetivo de investigar os impactos que resultaram do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Já no saneamento, venho trabalhando com a implantação de um sistema de desidratação de lodo de uma das maiores estações de tratamento de água de Manaus.
Sua pesquisa de mestrado é sobre remoção de nitrogênio de esgotos sanitários via oxidação anaeróbia de amônia. Pode falar mais sobre o tema?
Em termos gerais, pode-se dizer que o processo de remoção biológica de nitrogênio via oxidação anaeróbia de amônia (Anammox, do inglês Anaerobic Ammonium Oxidation) é uma alternativa ao processo convencional de nitrificação seguida de desnitrificação, este último empregado amplamente em estações de tratamento de esgotos (ETEs) no Brasil e no mundo. De certo modo, o processo Anammox é um atalho ao processo convencional, sendo desenvolvido por bactérias específicas, proporcionando reduções em demanda energética com aeração, na produção de lodo e em emissões de gases de efeito estufa. Como consequência, tanto os custos operacionais quanto impactos ambientais são reduzidos.
Qual a contribuição à melhoria na vida nas cidades?
O acesso ao saneamento, em si, deve ser a grande prioridade voltada à melhoria da qualidade de vida da sociedade, sobretudo quando tratamos de zonas urbanas, com densidade populacional mais elevada. A partir do acesso da população a esse direito básico, podemos caminhar para a melhoria e otimização dos processos de tratamento de esgotos, que devem visar o uso racional de recursos e a mitigação de impactos ambientais, fatores contemplados pela pesquisa sobre o processo Anammox. No fim, a principal contribuição é a manutenção da boa qualidade ambiental dos corpos hídricos com um uso mais sustentável de recursos, garantindo, por sua vez, a saúde e bem-estar da população.
De certa forma isso estaria ligado ao conceito de cidades inteligentes? Por quê?
Se levarmos em conta a definição de cidades inteligentes apresentada na Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, podemos dizer que o aprimoramento de processos de tratamento de esgotos sanitários faz parte de sua agenda, uma vez que está intimamente relacionado ao desenvolvimento urbano sustentável, priorizando a conservação de recursos hídricos aliada ao uso racional de recursos. Por fim, tanto a qualidade de vida da sociedade, quanto do meio ambiente são positivamente impactadas.
Quais são seus projetos para o futuro?
Atualmente, trabalho com saneamento em uma grande concessionária, responsável por serviços de água e esgoto. Pretendo continuar atuando na área, buscando me aperfeiçoar técnica e profissionalmente, conhecendo mais sobre diversos processos de tratamento, sejam eles convencionais e bem consolidados ou mais inovadores e pouco aplicados. Oportunamente, pretendo também fazer doutorado na área, com foco também em tecnologias de remoção biológica de nitrogênio de esgotos sanitários.
Qual sua visão sobre o mercado de trabalho para o engenheiro ambiental?
O curso de Engenharia Ambiental costuma ser bastante abrangente, com olhar mais multidisciplinar. Nesse sentido, penso que o engenheiro ambiental acaba estando apto a trabalhar em diversas áreas (saneamento, geologia, manejo florestal, oceanografia etc.), ainda que, no início, não tenha todo o conhecimento específico para tal – a exemplo do que ocorreu comigo em meu primeiro trabalho. Creio que, dada a tendência de crescimento da consciência ambiental observada globalmente, cresce cada vez mais a demanda por engenheiros ambientais e por outras profissões relacionadas ao ambiente.
Tem alguma dica de aprimoramento profissional para os engenheiros que estão ingressando no mercado?
Meus principais conselhos são:
1- Desenvolva habilidades interpessoais, de modo a se comunicar efetivamente com colegas e terceiros, bem como para desenvolver sua capacidade de trabalhar em equipe e de resolver conflitos.
2- Mantenha-se sempre atualizado com os últimos conhecimentos, tecnologias e práticas, participando de cursos e workshops relevantes.
3- Domine ferramentas e softwares relevantes, como o Excel, softwares de GIS e de CAD.
4- Construa e cuide de sua rede profissional, pois isso pode abrir portas para oportunidades de emprego e colaborações futuras.
5- Seja flexível e adaptável aos desafios e mudanças, pois o ambiente de trabalho é bastante dinâmico e vai exigir esse comportamento de você.
6- Seja pontual, confiável, responsável e ético em todas as suas interações profissionais.