Carlos Magno Corrêa Dias*
Em maio de 1945, na Europa, a miserável e insana Segunda Guerra Mundial teve o seu fim quando as tropas alemãs se renderam em toda a Itália; terminando, também, para os heróicos Combatentes Brasileiros que fizeram a diferença nos terríveis e sangrentos campos de batalha ficando reconhecidos como “Libertadores de Cidades”, “Cobras Fumantes”, “Pracinhas”, “FEBianos”.
O Brasil foi o único país da América do Sul a enviar soldados sob sua bandeira para a Segunda Guerra Mundial por meio da FEB (Força Expedicionária Brasileira), da FAB (Força
Aérea Brasileira) e da Marinha. O Brasil combateu do lado Aliado (composto, principalmente, pelo Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos, dentre outros países) contra o Eixo (cujas maiores forças foram da Alemanha, Itália e Japão). Considerado um dos grandes responsáveis pela libertação da Itália o Brasil, com pouco mais de vinte e cinco mil convocados, cumpriu seu dever naquela monstruosidade que matou entre 60 milhões e 70 milhões (ou mias) de seres humanos.
Mesmo contra as duras críticas que duvidavam da capacidade da participação do Brasil no conflito dizendo que “seria mais fácil uma cobra fumar do que a FEB embarcar” os Brasileiros fizeram, sim, a cobra fumar intensamente. Embora, tardiamente, em 31 de agosto de 1942 o Brasil declarou oficialmente guerra contra os usurpadores e os Soldados Brasileiros, os Pracinhas, os Cobra Fumantes, os FEBianos arrasaram nos campos de batalha da Itália e fizeram história sendo equipados aos integrantes das melhores unidades em combate dos Aliados.
A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi um dos momentos significativos da história do país marcando com brilhantismo a posição do Brasil no cenário global.
A FEB, a 1ª DIE (Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária), foi comandada pelo então General João Batista Mascarenhas de Moraes (1883-1968) o qual conduziu o Brasil a importantes vitórias na Segunda Guerra Mundial há quase 80 anos quando o Primeiro Escalão da FEB desembarcou na Itália.
O herói de guerra João Batista Mascarenhas de Moraes (que ficou mais conhecido como Mascarenhas de Moraes) teve uma trajetória notável na história militar do Brasil sendo sua liderança, coragem e determinação frente à FEB lembradas sempre como um marco importante. Seu comando durante a Segunda Guerra Mundial foi marcado por treinamento rigoroso e logística complexa para preparar as tropas brasileiras para o combate. Acima de tudo, Mascarenhas de Moraes foi um líder corajoso e determinado que muito bem representou o Brasil no cenário internacional. Os especialistas são unânimes em afirmar que a atuação de Mascarenhas de Moraes na FEB contribuiu para a efetiva consolidação da aliança entre Brasil e Estados Unidos na luta contra as forças do Eixo.
João Batista Mascarenhas de Moraes ingressou aos 14 anos na Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo (RS). Concluído o curso, foi para a Escola Militar do Brasil (a então Escola da Praia Vermelha ou Escola Militar da Praia Vermelha, sua “alma mater” da qual se orgulhava de ter sido membro) na cidade do Rio de Janeiro (RJ) o então Distrito Federal do Brasil. Já como Capitão, Mascarenhas de Moraes participou da Revolta dos 18 do Forte (ou Revolta do Forte de Copacabana) evento que marcou o início do Tenentismo e o fim da Primeira República Brasileira.
Em novembro de 1904, com o fechamento da Escola Militar do Brasil, o jovem Mascarenhas de Moraes foi incorporado como soldado ao 23º Batalhão de Infantaria; sendo transferido em seguida para o 6º Batalhão de Artilharia de Posição, situado na fortaleza de São João. Como cadete prestou exames finais e aprovado passou à condição de alferes-aluno. Em 1907, promovido a Segundo Tenente ficou à disposição do ministério das Relações Exteriores para servir no contingente militar agregado à comissão de limites do Brasil com a Bolívia. Em 1908 cursou a Escola de Artilharia e Engenharia e, dois anos depois, diplomou-se em Matemática e Ciências Físicas, sendo promovido a Primeiro Tenente.
Durante a Revolução de 1930, como Tenente-Coronel, Mascarenhas de Moraes era Comandante da Fortaleza de Santa Cruz da Barra em Niterói e foi preso pelos rebeldes. Após ser liberado segue sua carreira no Exército sendo preso uma segunda vez quando proclamou o seu apoio à Revolta Constitucionalista de 1932 em São Paulo. Em 1935, como Comandante da Escola Militar do Realengo, Mascarenhas de Moraes tomou parte na luta contra o levante comunista no Rio de Janeiro (Intentona Comunista).
Mascarenhas de Moraes, em 1937, torna-se General de Brigada sendo transferido para comandar a 9ª Região Militar (9ª RM), em Campo Grande, hoje no Mato Grosso do Sul. Em 1938, é nomeado Comandante da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria, no Rio de Janeiro (RJ), cargo que exerceu até 8 de abril de 1940 já com uma bagagem impressionante.
Atento aos eventuais preparos militares do Brasil para participar da Segunda Guerra Mundial o então General Mascarenhas de Morais pleiteia junto ao Ministro da Guerra um comando fora do Rio de Janeiro, de preferência no Nordeste. Em 1941, Mascarenhas de Moraes é designado Comandante da 7ª Região Militar (7ª RM), em Recife (PE) que se tornaria a área estratégica mais importante do território brasileiro. A partir de fevereiro de 1942 navios mercantes brasileiros são torpedeados por submarinos alemães.
No período de 15 de março a 17 de agosto de 1943 João Batista Mascarenhas de Moraes foi o Comandante da 2ª Região Militar (2ª. RM) em São Paulo (SP).
Ainda em 1943, o General Mascarenhas de Moraes foi escolhido para liderar as Tropas do Brasil na Segunda Guerra Mundial tendo em vista sua carreira militar sólida, vasta experiência, reconhecida liderança, profundo conhecimento tático, além de ser considerado um militar apolítico e dos mais competentes do Exército do Brasil. No final daquele ano de 1943 Mascarenhas de Moraes era designado Comandante da 1ª DIE da FEB (a única Divisão da FEB).
Com firmeza, serenidade e determinação, e uma super liderança equilibrada, o General Mascarenhas de Moraes preparou e comandou as tropas do Brasil garantindo que os Soldados Brasileiros estivessem prontos para os combates e conseguissem vitórias militares importantes e memoráveis na Itália.
Além de seu comando excelente, Mascarenhas de Moraes foi um exemplo de desambição, desprendimento e fidelidade a seus comandados, tanto na guerra quanto na época de paz. Sua trajetória inspira gerações de brasileiros.
O brilhante trabalho de Mascarenhas de Moraes na Segunda Guerra Mundial se deu até a rendição das forças do Eixo na Itália, em 2 de maio de 1945. Retornando ao Brasil foi promovido a Marechal por ato do Congresso Nacional passando a ser o Comandante da 1ª Região Militar (1ª RG) na então Capital do Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1953, foi nomeado Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Em 1954, já na reserva, publicou suas memórias como o então Comandante da FEB.
Importante destacar, também, que o Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes, em 1957, foi presidente da Comissão de Repatriamento dos Restos Mortais dos Pracinhas em Pistóia (Itália) que possibilitou a construção, em 1960, do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (ou Monumento aos Pracinhas), localizado no Parque Eduardo Gomes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ); cuja idealização foi do próprio Marechal Mascarenhas de Moraes (o 3M, como as vezes era referenciado).
No Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, em homenagem aos Ex-Combatentes mortos, foram entronadas as palavras: "Imolando-se pela Pátria, adquiriram uma glória imortal e tiveram soberbo mausoléu, não na sepultura em que repousam, mas na lembrança sempre viva de seus feitos. Os homens ilustres têm como túmulo a terra inteira".
“... todo aquele que tenha participado efetivamente de operações bélicas, na II Guerra Mundial, como integrante da Força do Exército, da Força Expedicionária Brasileira, da Força Aérea Brasileira, da Marinha de Guerra e da Marinha Mercante, e que, no caso de militar, haja sido licenciado do serviço ativo e com isso retornado à vida civil definitivamente ...” é considerado um Ex-Combatente no Brasil segundo proclamado pela Lei Federal 5315, de 12 de setembro de 1967, que regulamentou o artigo 178 da Constituição Brasileira de 1967.
Segundo a Lei Federal número 4623, de 6 de maio de 1965, celebra-se o Dia Nacional do Ex-combatente no primeiro domingo de maio de cada anos. Celebrar com a lembrança os Heróis Ex-Combatentes que deram a vida pela Nação é fortalecer o Patrimônio, o Poder e a Soberania Nacional. Aos Ex-Combatentes das Tropas do Brasil, vivos ou mortos, sempre o reconhecimento e o eterno agradecimento.
Mas, sempre é necessário lembrar, repetidas vezes, que o Brasil se obrigou a entrar na Segunda Guerra Mundial tendo em vista que em agosto de 1942 submarinos alemães torpedearam diversos navios mercantes brasileiros provocando a morte de centenas de pessoas inocentes de um país que se mantinha neutro na guerra. Não sendo possível aceitar indiferente aquela brutal e covarde afronta por parte dos alemães, o povo brasileiro foi para as ruas exigir incondicionalmente a declaração de guerra contra os usurpadores. Por intermédio do Decreto número 10.358, de 31 de agosto de 1942, o Governo Brasileiro reconheceu o Estado de Guerra entre o Brasil e as potências do Eixo.
A FEB foi criada pela Portaria Ministerial número 4.744 de 9 de agosto de 1943, sendo incorporada ao Exército dos Estados Unidos e atuou intensamente na libertação de diversas cidades da Itália sendo até hoje referenciados pelos citadinos italianos com orgulho e grande agradecimento. Nas Escolas de muitas regiões da Itália ensinar sobre a participação dos Pracinhas é obrigatório e motivo de eterna gratidão.
Além da competência e empenho de corpo em suas batalhas memoráveis os FEBianos (os Pracinhas) dividiam a própria alimentação com as famílias italianas necessitadas chegando-se a dizer que "aonde os soldados brasileiros estivessem não existia fome". Os Pracinhas distribuíam “mingau”. Em função desta nobre ação, a palavra "mingau" se tornou bastante conhecida no norte da Itália. Até nos dias atuais se alguém passar por aqueles locais onde os Pracinhas atuaram apresentar o distintivo da FEB, corre-se o risco de se receber convites para se tomar um bom e amigável vinho e ser festejado em boa conversa sobre os “Brasilianis” da FEB.
Na cidade de Gaggio Montano, situada ao norte da Itália, celebra-se todo ano o “Dia do Mingau da Amizade” quando se serve algo parecido como aquele especial “mingau” oferecido de bom grado pelos Cobras Fumantes da FEB para amenizar a fome e o sofrimento das pessoas naquele intenso inverno da época que cegava a ter temperaturas de -20Cº.
Contando os Soldados e Oficiais da FEB, o contingente da FAB e os integrantes da Marinha do Brasil, médicos, enfermeiras, capelães, engenheiros, logísticos, dentre outros profissionais, o Brasil contou com um efetivo de 25.834 membros para atuarem exclusivamente nos campos de batalha da Itália.
Muitos foram os feitos notáveis dos FEBianos no teatro de operações militares da Itália tais como a grande permanência ininterrupta em combate direto (recorde mesmo em meio aos experimentados Soldados Aliados), o aprisionamento de importantes grupamentos de Soldados Alemães com a captura da temida 148ª Divisão de Infantaria do Exército Alemão a qual integrava a Wehrmacht (Força de Defesa) da Alemanha e que, não vendo saída diante da força da ofensiva dos FEBianos foi a única a render-se integralmente durante as Operações no Norte da Itália.
Estudos recentes mostram que as tomadas de Monte Castello (21/02/1945) e de Montese (14/04/1945) pelos valorosos Pracinhas contribuiu (inquestionavelmente) para dar início ao fim daquele miserável confronto e que a logística empregada pela FEB diante daquele caos mortífero foi das mais inovadoras e adequadas possíveis.
Reconhecida pelos comandantes aliados devido ao aguerrido espírito ofensivo de corpo, determinação e disciplina a FEB se destacou como Força de Ocupação Militar, sendo cumprimentada como “Libertadora de Cidades”. O General Comandante do IV Corpo-de-Exército Norte-Americano chegou a afirmar: “... com o brilho do seu feito e seu espírito ofensivo, a Divisão Brasileira está em condições de ensinar às outras como se conquista uma cidade”. Reconhecia-se, então, na prática dos Soldados do Brasil algo inolvidável de forma que se proclamou que a FEB apresentou “... um padrão elevado que servirá para estimular todos os outros elementos de vossa divisão, quando chegar a oportunidade de lançá-los em novas ações de ofensiva ...”.
Os Pracinhas venceram em Massarosa, Camaiore, Monte Prano, Monte Castelo, Soprassosso, Castelnuovo, Montese, Zocca, Enza, Taro, Collecchio, Fornovo di Taro, Piacenza Lodi, Alessandria; tendo em algumas das correspondentes batalhas os cenários mais duros, sangrentos e dolorosos daquele período insano. Os próprios soldados alemães capturados chegaram a afirmar na época: “ou estes soldados brasileiros são os melhores do mundo ou são loucos”.
Mas, a gloriosa participação do Brasil teve um custo bem elevado em vários sentidos dado que somente em combate direto morreram 454 (quatrocentos e cinquenta e quatro) Combatentes do Exército do Brasil e outros 5 (cinco) Pilotos da FAB (Força Aérea Brasileira). Em decorrência de ferimentos graves em combate conta-se cerca de duas mil mortes em seguida às batalhas. Na sequência da guerra registram-se outras 12 (doze) mil baixas geradas por mutilação, amputações, cegueira, infecções, distúrbios mentais, alcoolismo, dentre outras causas que acabaram com a vida daqueles Heróis Eternos.
Somando tudo, avaliando os registros, contabiliza-se que mais de vinte e dois mil Brasileiros que participaram da Segunda Guerra Mundial sofreram algum tipo de revés. Muitos foram apenas esquecidos assim que retornaram da guerra. Alguns poucos receberam o devido reconhecimento e bons benefícios. Atualmente em torno de uma centena está viva e, felizmente, são homenageados com o respeito, a lembrança e o agradecimento que merecem. A Galeria dos Heróis Imortais Ex-Combatentes do Brasil na Segunda Guerra Mundial sempre estará sempre aberta.
Muito se tem a lamentar sobre a miserável Segunda Guerra Mundial, mas o fato dos Soldados Brasileiros chegarem lá muito depois do início do conflito suscita conjeturar que se estivessem participando antes talvez muito mais cedo aquele bestial confronto entre homens poderia ter terminado dada as características especiais dos Pracinhas que colocaram o Brasil em lugar digno na História. É notório que somente a partir da chagada dos Soldados Brasileiros nos sangrentos campos de batalha os alemães começam a ser expulsos do Norte da Itália.
A FAB desempenhou, também, papel importante na proteção das rotas marítimas e na batalha do Atlântico. Suas aeronaves patrulharam o oceano, protegendo os comboios de navios aliados e atacando submarinos inimigos.
Os pilotos e tripulações da FAB contribuíram sobremaneira para enfraquecer a capacidade marítima do Eixo gerando perdas significativas em suprimentos, munições e infraestrutura inimiga. A FAB participou de operações de busca e salvamento, resgatando tripulações de navios afundados e aviões abatidos.
Em 20 de janeiro de 1941, eram criadas as “Forças Aéreas Nacionais” reunindo os ramos aéreos do Exército e da Marinha e que passaria a ser denominada FAB a partir de 22 de maio de 1941; constituindo passo importante na consolidação da defesa aérea do Brasil. Com seu lema “senta a pua”, grito de guerra dos Aviadores Brasileiros, a FEB durante a Segunda Guerra Mundial teve no 1º Grupo de Aviação de Caça (1º.G.Av.Ca.), equipado com aviões P47 Thunderbolt, a principal unidade de combate. As missões dadas ao 1º. G.Av.Ca. envolviam ataque a pontes, depósitos de munição e veículos de transporte.
Composta por 374 militares, 48 oficiais pilotos, 28 aviões, dos quais 16 foram abatidos, cinco pilotos mortos em combate e cinco prisioneiros, com 26 baixas, o 1º.G.Av.Ca. da FAB, o qual foi criado em 18 de dezembro de 1943, sendo formado exclusivamente por pilotos brasileiros entre oficiais e praças todos voluntários deu sua contribuição para ser lembrado com honra e distinção. Sempre é importante ressaltar que (em todos os níveis hierárquicos) o primeiro critério para integrar o 1º.G.Av.Ca. foi ser voluntário. O 1º. G.Av.Ca. ficou conhecido como grupo Senta a pua.
Iniciando suas operações na Segunda Guerra Mundial em 31 de outubro de 1944 o 1º. G.Av.Ca. cumpriu todas as missões atribuídas. Já em 11 de novembro de 1944 o Grupo SENTA A PUA voava pela primeira vez como unidade independente para combate realizando série de missões de reconhecimento armado.
O Grupo Senta a pua (também reconhecido pelo código “Jambock”) se notabilizou e no dia 22 de abril de 1945 realizava seu maior número de missões em solo italiano em um mesmo dia dando conta de 11 ataques aos alemães. O dia 22 de abril passou a ser o “Dia da Aviação de Caça” em homenagem àqueles ataques memoráveis.
A FAB no cenário da Segunda Guerra Mundial realizou 445 missões, com 2.546 saídas de aviões e 5.465 horas de voo, destruindo cerca de 1.304 viaturas motorizadas, 13 locomotivas, 250 vagões de estradas de ferro, 8 carros blindados, 25 pontes de estrada de ferro e de rodagem e 31 depósitos de combustível e de munição, dentre outros alvos.
Nas lutas empreendidas pela FAB durante a Segunda Guerra Mundial, na prática, a Força Aérea do Brasil reforçou seu lema: “Asas que protegem o País”.
A Marinha do Brasil teve, também, papel importante na proteção das rotas de navegação no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra Mundial de forma que suas embarcações não apenas escoltaram comboios de navios mercantes protegendo-os contra os sorrateiros ataques de submarinos alemães e italianos como, ainda, participou bravamente da Batalha do Atlântico na guerra naval.
Embora as limitações do Poder Naval do Brasil na Segunda Guerra Mundial não permitissem que a Marinha do Brasil realizasse operações ofensivas em larga escala, ficando quase que restrita a ações defensivas, a participação da Marinha do Brasil foi fundamental tanto para a defesa das linhas de comunicação marítimas do Brasil e dos Aliados nas costas americanas quanto foi uma clara resposta ao afundamento de navios mercantes brasileiros.
É lícito afirmar que as operações realizadas pela Marinha do Brasil na Guerra do Oceano Atlântico moldaram os caminhos seguidos pela Marinha do Brasil no futuro. Naquela época a Esquadra do Brasil apresentava alto grau de obsolescência devido a muitos fatores recorrentes internos. Entretanto, a Marinha do Brasil enfrentava, também, dificuldades externas como a forte dependência em relação à Marinha dos Estados Unidos, faltando-lhe informes de inteligência, equipamentos atualizados e até itens básicos como os de suprimentos como o caso de combustível e a munição, por exemplo.
Porém, a Marinha do Brasil se fortalecia recebendo novos meios de atuação e procurava, seguidamente, a modernização de vários navios de guerra e a construção de contratorpedeiros em plena guerra. Como se diz “a Marinha do Brasil se fez ao mar para proteger as costas do Brasil e a navegação comercial”. Em combate direto no mar, a Marinha do Brasil ganhou experiência na guerra antissubmarino, se atualizou em termos tecnológicos e deu um salto de qualidade tanto na preparação do seu pessoal quanto no aprimoramento do nível tático e no planejamento estratégico mostrando eficiência durante a, também, terrível Guerra do Atlântico durante o período de participação na Segunda Guerra Mundial.
A Marinha do Brasil foi responsável pela escolta e proteção de mais três mil navios, percorrendo mais de 600.000 milhas náuticas; escoltando, também, os navios que transportaram os contingentes da FEB para as linhas de frente na Europa e colaborando intensamente no patrulhamento do Atlântico Sul com competência elogiada pelos Aliados. Protegendo os interesses nacionais, garantindo a segurança das águas territoriais do Brasil e cuidando do bem-estar da população brasileira, a Marinha do Brasil seguiu desde sempre seu lema: “Protegendo Nossas Riquezas, Cuidando da Nossa Gente”.
E naquele 16 de julho de 1944 "a cobra começou a fumar" nos sangrentos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial quando o Primeiro Escalão da FEB, primeiro contingente de Soldados do Brasil, desembarcava em Nápoles (Itália) tendo partido do Porto do Rio de Janeiro no dia 2 de julho de 1944 a bordo do navio norte-americano General Mann.
Ao Primeiro Escalão da FEB seguiram-se o Segundo Escalão da FEB que embarcou a 22 de setembro de 1944 no mesmo navio General Mann; o Terceiro Escalão que embarcou, também, no mesmo dia 22 de setembro de 1944, no navio General Meigs; o Quarto Escalão da FEB que deixou o Brasil em 23 de novembro de 1944 a bordo do navio General Meigs; e, finalmente, o Quinto Escalação da FEB parte do Brasil em 8 de fevereiro de 1945 no navio General Meigs.
No dia 24 de setembro de 1944, para distinguir os Soldados do Brasil dos demais Soldados Aliados (e para deixar bem clara, indistinguível, a marca do Brasil) adotou-se usar nas fardas das Tropas Brasileiras o emblemático e fantástico distintivo representando uma “cobra fumando”.
Entretanto, as Tropas do Brasil não eram nem de perto homogêneas. Com uma formação multiétnica em distinção às outras Tropas Aliadas, os Soldados do Brasil formaram grupo miscigenado diverso tendo, literalmente, pessoas de cada canto do país e de distintas convicções e credos. No início da Canção do Expedicionário semelhante verdade é confirmada com os versos:
“Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho
Das selvas, dos cafezais
Da boa terra do coco
Da choupana onde um é pouco
Dois é bom, três é demais
Venho das praias sedosas
Das montanhas alterosas
Do pampa, do seringal
Das margens crespas dos rios
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal”.
Composta pelo maestro e compositor Brasileiro Spartaco Rossi (1911-1983) e com letra do advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor Brasileiro Guilherme de Andrade de Almeida (1890-1969), a Canção do Expedicionário bem festeja os heroicos e bravos Pracinhas (Expedicionários) que partiram de sua terra natal para lutar pela liberdade e pela Pátria com muita coragem e grande compromisso.
“Por mais terras que eu percorraNão permita Deus que eu morraSem que volte para láSem que leve por divisaEsse V que simbolizaA vitória que viráNossa vitória finalÉ a mira do meu fuzilA ração do meu bornalA água do meu cantilAs asas do meu idealA glória do meu BrasilEu venho da minha terraDa casa branca da serraE do luar do meu sertãoVenho da minha MariaCujo nome principiaNa palma da minha mãoBraços mornos de MoemaLábios de mel de IracemaEstendidos pra mimÓ, minha terra queridaDa Senhora AparecidaE do Senhor do BonfimPor mais terras que eu percorraNão permita Deus que eu morraSem que volte para láSem que leve por divisaEsse V que simbolizaA vitória que viráNossa vitória finalÉ a mira do meu fuzilA ração do meu bornalA água do meu cantilAs asas do meu idealA glória do meu BrasilVenho de além desse monteQue ainda azula no horizonteOnde o nosso amor nasceuDo rancho que tinha ao ladoUm coqueiro que, coitadoDe saudade já morreuVenho do verde mais beloDo mais dourado amareloDo azul mais cheio de luzCheio de estrelas prateadasQue se ajoelham deslumbradasFazendo o sinal da CruzPor mais terras que eu percorraNão permita Deus que eu morraSem que volte para láSem que leve por divisaEsse V que simbolizaA vitória que viráNossa vitória finalÉ a mira do meu fuzilA ração do meu bornalA água do meu cantilAs asas do meu idealA glória do meu Brasil!”
Com os pracinhas da FEB a cobra fumou e fumou bonito na Segunda Guerra Mundial. Com o compromisso de ser uma força robusta e protetora, capaz de defender a soberania nacional e, ao mesmo tempo, estar sempre pronta para auxiliar a população em momentos de necessidade, o Exército do Brasil, por meio da FEB, ratificou seu lema: “Braço Forte, Mão Amiga”.
A história, sempre determinante, conta que às 14 horas e 22 minutos do dia 16 de julho de 1944, há quase 80 anos, foi dado o primeiro tiro da Artilharia Brasileira fora do continente Sul-Americano contra o inimigo em Massarosa (Itália) uma comuna italiana da região da Toscana (província de Lucca) a qual foi a primeira cidade tomada brilhantemente pelos FEBianos. Daquele momento em diante os Brasileiros fizeram parte da história podendo contá-la com jubilo e reconhecimento.
Pracinhas, FEBianos, Cobras Fumantes, Heróis Imortais, Libertadores de Cidades, os combatentes do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial fizeram a diferença e a cobra fumou e se sentou a pua.
Hurra! Hurra! Hurra! Salve, Salve! Salve! Siga-se lembrando com orgulho o legado deixado pelos Brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).