Por Frederico Bussinger*
As bacias do Sena (França) e Scheldt (Bélgica/Holanda), percorrendo áreas milenarmente urbanizadas, serão interligadas através de uma nova hidrovia. O projeto, com 114 km de extensão, 3,5 metros de profundidade e 7 metros de altura (para barcaças com pilhas de três contêineres), sete eclusas, é parte do Plano Europa-2050. Quando concluído, viabilizará ligação aquaviária, de cargas e passageiros, entre Paris, Antuérpia, Rotterdam e Londres.
Essa foi a informação que despertou maiores atenções do concorrido, bem organizado e informativo “II Seminário Brasil-Bélgica sobre Hidrovias” (ANTAQ e Embaixada Belga – Brasília, 2-3/ABR/12: apresentações prometidas na página da Agência).
Mas não esteve só: eclusas para desníveis superiores a 100 metros; sistemas para economia de água nas eclusagens; tecnologias mais seguras e ambientalmente mais amigáveis para dragagens e derrocamentos; embarcações e comboios mais eficientes (energética e/ou operacionalmente); experiências de pedagiamento e concessão hidroviária; articulações supranacionais (para implantação de projetos). Enfim, quem dele participou teve oportunidade de aprender muito ou de se atualizar com o estado da arte no tema. Reforçou também a certeza de que o transporte hidroviário é viável e que tem espaço garantido na agenda do Século XXI (mundial e brasileira; logística e ambiental).
Aliás, nessa linha, apesar de vários questionamentos no próprio evento, animou a todos a perspectiva de “luz-no-fim-do-túnel” dos planos federais irem do discursos à prática. Também a perspectiva de novo impulso, viabilizável pela participação privada: Hermasa, Bertolini, Sartco, Caramuru, e outros pioneiros, fizeram história. Mas a entrada da Vale e Petrobras dará uma outra dimensão e perfil ao setor. Todos esses foram destaques do Superintendente da ANTAQ (Tokarski); que, curiosamente, também registrou as limitações à expansão hidroviária enquanto hidrelétricas e eclusas não forem sincrônicas (inclusive no enchimento dos novos reservatórios – algumas vezes, feitas em águas baixas, dificultando a navegação).
Das exposições belgas, talvez a maior lição tenha sido a necessidade de integração (um contraexemplo a Tucuruí, eclusa saudada após 30 anos, mas que segue enfrentando dificuldades de navegação, à montante e à jusante, em função dos pedrais): Muito interessante ver-se os projetos serem desenvolvidos considerando-se a navegação, o meio ambiente e uma dezena de ouras funções; diversos atores, governamentais (transnacionais), empresariais e da sociedade; num processo decisório por etapas e envolvendo, desde o nascedouro, os órgãos ambientais.
Um dia chegaremos lá!
* Frederico Bussinger é engenheiro. Foi presidente da Companhia Docas de São Sebastião
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